De Volta Ao País Das Maravilhas escrita por Kremer


Capítulo 10
Capítulo dez: A caça ao tesouro chega ao fim


Notas iniciais do capítulo

Final alterado para uma possível continuação.



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Mary Ann não soube dizer por quanto tempo estava caindo. Caía ora devagar, ora rápido. Quando caía devagar, parava para observar o lugar: estava caindo por um buraco, sem curvas, reto, até o chão. Era iluminado com velas, mobiliado com cadeiras aqui e ali, mesinhas de centro (que não ficavam no centro, no caso), retratos nas paredes de coelhos (os que não mordiam) e retratos de dodôs (esses sim, mordiam).

Quando o buraco chegou ao fim, Mary Ann pousou em algo macio... e familiar.

– ARR, PELAS MINHAS PENAS! - guinchou o ganso. - Você de novo? Ora... sua... sua...

Mary Ann estava de volta à sala dos espelhos. Aquele ganso estava bem irritado.

– D-desculpe... eu... não sabia pra onde estava indo - desculpou-se a menina.

– Você nunca ouviu falar em bússola? - Respondeu a ave, irritada. Ela desapareceu por um espelho, como de costume, e Mary Ann não perdeu tempo: a seguiu.

Atravessar o espelho, dessa vez, foi fácil, pois não havia nenhum reflexo nele. A criança desembocou, aos tropeços, em uma estradinha roxa. O céu estava escuro, haviam algumas estrelas, e as pedrinhas roxas acendiam quando ela pisava nelas.

Não foi preciso caminhar muito para chegar na eterna bagunça da mesa de chá do Chapeleiro. Estavam todos lá: o Dodô, aprumando suas penas, o Cachinguelê, lutando para se manter acordado, a Lebre de Março, que tentava pegar um morcego que zanzava entre os bules de chá, o Morcego, que tentava não ser pego pela Lebre, o Cavaleiro e o Pônei, bebericando seu chá, o Gato de Cheshire, que ronronava no Colo do Chapeleiro, e o próprio Chapeleiro. Só havia um lugar vago, e foi onde Mary Ann se sentou.

Ninguém, a princípio, deu muita bola para a presença da menina. Mas, quando ela decidiu se servir de um pouco de chá, todos a olharam (exceto o Cachinguelê, que pegara no sono).

– Ora, menina! - foi o Chapeleiro quem quebrou o silêncio. - É muito feio sentar sem ter sido convidada.

– É muito feio. - Falou a lebre, de boca cheia (ela havia comido quase o bolo inteiro).

– Mas... o Coelho Branco me disse para encontrá-los - defendeu-se ela, com toda a calma que conseguira reunir.

– É mesmo, ele disse - Disse o gato, limpando suas patas.

– Disse? - Perguntou a Lebre.

– Disse o que? - Perguntou o gato, com o seu sorriso desconcertante.

– Disse que ela tinha que nos achar. - Falou a Lebre.

– Quem disse? - Perguntou o Gato, inocentemente.

– O Coelho Branco. - Respondeu a Lebre, indiferente.

E antes de o Gato perguntar “quê coelho?”, uma figura branca e peluda surgiu, balançando um relógio de bolso na mão, e gritando “É tarde!”

– Senhor Coelho! Por favor, queira dizer a eles... - Começou Mary Ann, mas foi interrompida pelo Chapeleiro, que correu até ela e a tirou de sua cadeira.

– Por favor, senhor Coelho, queira se sentar. - Disse o Chapeleiro, pomposamente.

– Mas eu estava sentada aí! - Protestou Mary Ann.

– Não tem como provar! - Rebateu o Chapeleiro.

– Ora! Mas... vocês viram, não? - Perguntou aos outros.

– As testemunhas são protegidas por lei e não precisam prestar depoimento contra sua vontade. - Resmungou o Cachinguelê. Mary Ann achou melhor não dizer nada.

O coelho ajeitou-se na cadeira (não sem alguma ajuda, pois era muito pequeno para conseguir se sentar sozinho) e tirou um pergaminho da manga. Desenrolou-o, e começou a ler:

– Geleia de morango, manteiga, leite, cenouras, amendoim...

– Isto é a sua lista de compras. - Interrompeu o gato, calmamente.

– Oh, mil perdões - disse o Coelho, embaraçado. Pegou outro pergaminho, leu-o primeiro, e tendo a certeza de que era o certo, leu para os outros:

– Para encontrar o tesouro, a escolhida deve passar por um último desafio, na qual ela terá de provar que é mais inteligente do que (leia discretamente) um Pônei.

– Ei! - protestou o Pônei, indignado.

– Desculpe, não percebi que estava aqui. Então, Alice, deverá passar por um desafio.

– Eu? Bem... vamos lá. - Disse Mary Ann, sem saber ao certo porque ainda a chamavam de Alice. - O que tenho que fazer?

– O Chapeleiro sabe. - Disse o Coelho, e todos encaravam o Chapeleiro. Este levantou da cadeira, e com a voz mais solene que pôde produzir, encarou Mary Ann e disse:

– Essa pergunta é de suma importância, somente os mais inteligentes sabem sua resposta. Portanto, não se iluda muito. - Disse, com arrogância. - A pergunta é... por quê um corvo se parece com uma escrivaninha?

Mary Ann pensou por alguns minutos. Esta era uma pergunta muito difícil – e sem nexo. Estava frustrada, pois queria provar que não era nenhuma ignorante. Para as crianças de sua idade, ela era muito inteligente. Mas, como a criança inteligente que era, devia aceitar a derrota.

– Não faço ideia. - Respondeu, desolada. Todos ficaram chocados, e o Chapeleiro franziu a testa e arregalou os olhos, de surpresa.

– Está... correto! - Disse, estupefato. Todos estavam assim. - E agora, o tesouro.

Ele tirou sua cartola, e em cima de sua cabeça estava um pequeno baú, que ele colocou sobre a mesa. A mesa desapareceu. Todos desapareceram. O baú continuava lá...

E Mary Ann começou a se lembrar. Agora se lembrava de como caíra num diário, que o diário era de sua mãe, e que sua mãe era...

Alice.

O baú estava ficando cada vez mais longe... e de dentro dele, uma voz surgia. Cada vez mais nítida, e dizia “Mary Ann!”

“Mary Ann!”

“Acorde!”

Mary Ann, no entanto, não desejava acordar.


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