Parte I – Águas Profundas

O brilho agora parece menos intenso, seus olhos se acostumam a claridade.
Evans: - O que é isso??! – pergunta aos outros e a si mesma.
A sua frente surge uma paisagem exuberante...um belo gramado se estendendo até uma densa floresta e bem a sua frente um castelo medieval imenso, situado numa ilha no centro de um grande lago. Ao fundo uma montanha se estendia com um patamar plano em seu topo.
Iza olha em volta, percebe então que está sozinha e não tem a menor ideia de onde os outros foram. Ela espera que estejam bem e segue em direção ao castelo, algo dizia a ela que era onde deveria chegar.
Aproximou-se do lago, procurava por alguma forma de entrar. Decidiu contornar o lago para encontrar um portão ou algo parecido, assim o fez, contudo nada pode encontrar. Não havia maneiras de atravessar o lago até o castelo e esse, por sua vez, também não possuía entradas nos muros.
Evans: - Mas que droga, como eles querer que eu chegue ali desse jeito?
Sentou-se a margem do lago, os olhos marejados. Detestava sentir-se sozinha e pior ainda era sentir-se incapaz. Enfurecida atirou uma pedra, que estava próxima, no lago. Foi então que notou algo. Aquilo que primeiramente ela julgava por ser o reflexo do castelo sobre as águas, tinha uma aparência diferente. Olhando atentamente percebeu que algumas das janelas pareciam estar acesas.
– Mas é dia e todas estão apagadas, pensou. E então percebeu, o que olhava nas águas não era um reflexo, mas sim outro castelo, submerso, no fundo do lago. Por isso a muralha não possuía entradas ou pontes. Era através do lago que se dava o acesso a ele. Resolveu nadar até se aproximar do muro e então mergulhar a fim de encontrar uma entrada.
Iza se atira no lago, é uma boa nadadora. Calcula que em 3 ou 4 minutos chegará até a parede, onde mergulhara para entrar no castelo. Mas no meio do caminho, algo parece estar errado. As águas próximas a ela começam a se agitar e de repente algo a puxa para baixo. Ela tenta soltar-se, mas não consegue fazer muito mais que se debater. Alguma coisa prende sua perna fazendo com que desça mais, logo começará a lhe faltar ar, então lembra-se de suas armas. Puxa a espada do escudo que havia colocado às costas e golpeia próximo a sua coxa esquerda. Atinge algo, seu corpo está livre e ela volta a superfície. Começa a nadar de volta a margem, aquilo que atacara a está seguindo rapidamente, não deixará que escape. A coisa salta da água passando por cima de Iza e caindo a sua frente impedindo que continue, dois segundos após o mergulho sai das águas.
Ela não acredita em seus olhos, diante de si há uma figura que deveria ser mitológica apenas. A pele azulada, esverdeada em alguns pontos, brilhante. Seu corpo está saindo da água além da cintura, mas não há pernas. No lugar uma grande cauda como a de um tubarão. O ser a sua frente é um tritão. Em sua mão direita uma grande lança bifurcada e em seus olhos escuros um brilho de morte.
Evans: - Quem é você? Por que me atacou?
?????: - Meu nome é Marino. Sou o guarda deste lago e seu executor.
Evans: - Mas o que eu fiz? Na verdade, eu só queria sair deste lugar e encontrar meus amigos. Não quero lutar com você.
Marino: - Se quiser sair deste lugar precisará de uma Chave das Almas. Existem poucas delas e uma encontra-se no castelo. Terá de me derrotar para encontrar seus amigos. Portanto, defenda-se. Lança de Gelo!
Iza mal pode assimilar o que acabara de ouvir, ele já a atacava. Conseguiu apenas proteger sua cabeça com o escudo que resvalou a lança atirada pelo tritão. Ela afunda um pouco com o golpe e ao retornar a superfície outro ataque a esperava. Ainda recuperava o folego quando a segunda lança a atinge de raspão no ombro esquerdo. Afunda novamente, o golpe não foi grave, mas pode perceber sua força. Ajeita o escudo e prepara sua espada, começa a subir novamente, tenta se aproximar dele para um golpe. Ele percebe sua aproximação e se afasta facilmente.
Evans: - Droga, não vou conseguir lutar com ele assim. E porque ele não vem me atacar aqui logo? Tsc, claro, ele não precisa vir aqui, é só esperar eu me afogar. Preciso de uma forma de lutar.
Iza fecha os olhos, sabe que seu tempo é curto, mas não pode se dar ao luxo de desistir. Seus amigos esperam por ela e sabe que também estão lutando em algum lugar. Seu folego começa a acabar, sente a agua comprimindo seu peito, mas não se desespera. A Água é o seu elemento, pode lidar com ele, é o seu mundo.
Nesse momento sua aura brilha, as aguas a sua volta se agitar num turbilhão tumultuoso e explode em seguida. Marino, observa o acontecimento sem muito espanto, não lhe parece uma ameaça, até que percebe algo inesperado quando seu campo de visão fica limpo novamente. Sobre as águas está sua oponente, de pé, encarando-o. É como se estivesse pisando num gramado, seus pés entram na agua somente até abaixo do tornozelo.
Evans: - Veremos agora se você é assim tão bom...Fluir!
Iza empunha sua espada, o escudo firme em sua mão esquerda. Ela parte para uma investida. Sua velocidade é surpreendente, parece deslizar sobre as águas. Ela tenta uma estocada, Marino desvia-se de lado. Iza gira para a direita sobre os calcanhares, a espada acompanha o movimento para um ataque lateral, ele o bloqueia com a lança, rapidamente ela gira na direção oposta desferindo um chute no rosto do adversário. O golpe atinge em cheio e devido a sua velocidade ampliada o impacto também é grande. Marino é arremessado quase 3 metros dali.
Ele se ergue novamente sobre as águas, seu olhar é uma mistura de surpresa e raiva. Ergue sua lança preparando-se para atacar. Então avança, um ataque frontal como o de Iza, sua arma aponta o coração da garota. Ouve-se o som agudo do choque dos metais, a lança resvala sobre o escudo, sua arma não permite ataques periféricos, então ele tenta golpeá-la com o punho, mas ela é mais veloz, desvia o rosto do primeiro soco, bloqueia o segundo com o escudo e tenta um golpe frontal com a espada, mas ele consegue se afastar a tempo.
Marino: - Heh, tenho que reconhecer sua força garota. Ninguém até hoje havia me atingido como você fez e muito menos resistido aos meus ataques. Contudo, essa brincadeira termina aqui. Dou-lhe a chance de partir, em valor a seus esforços, é sua única chance.
Evans: - Obrigada pelas palavras, mas sabe que recusarei sua oferta, você mesmo disse que para encontrar meus amigos tenho de entrar no castelo e se você não permite minha entrada, terei de força-la. Prepare-se!
Marino: - Quanta coragem desperdiçada garota...Que estas sejam suas ultimas palavras.
Ele avança novamente, mas na metade do caminho ele mergulha no lago e então surge próximo a Iza desferindo um golpe ascendente do qual Iza se desvia no último instante saltando para trás. Ela recobra o equilíbrio, mas ele não está a vista. Logo, um golpe a atinge pelas costas, um corte se abre, um pouco acima do omoplata, enquanto ela é lançada a frente. Iza se recupera rapidamente, mas ele já sumiu novamente. Um ataque pelo lado esquerdo é o que segue, consegue desviar o golpe. Para sua sorte era o lado do escudo, caso contraio teria o braço atravessado pela lança, mas seu adversário sabe disso e logo a ataca pelo outro lado. Iza já esperava a investida, salta para trás e tenta golpeá-lo sem êxito.
Evans: - Droga, de novo esse cara me pondo em apuros, hora tenta me afogar e agora usa o lago contra mim como camuflagem...preciso resolver isso logo!!
Por apenas um segundo ela fechas os olhos, lembra-se novamente que a água é também seu elemento, então ela pode sentir todo o lago, quase como se estivesse dentro dele, como se fosse parte dele e sente também a presença de seu inimigo, nadando velozmente em sua direção para outro ataque. Marino salta a sua frente, um paço para o lado e um giro, é tudo que Iza precisa para se desviar da investida agora esperada. Ele afunda, surge em suas costas, ela se abaixa colocando o escudo sobre si. A lança é bloqueada, Marino está sobre ela agora, já que saltara para o ataque. Ela se levanta golpeando seu abdômen com o escuro, ele cai para o lado e rapidamente mergulha de novo. Seguem-se mais três ataques, sem nenhum êxito de sua parte.
Por alguns segundos nada acontece, Iza chega quase a pensar que ele desistira, quando subitamente uma Lança de Gelo surge em sua direção, ela desvia por muito pouco, chegando a ter o braço direito levemente cortado. Ele surge novamente sobre as águas.
Marino: - Você foi sábia em utilizar a água para prever meus movimentos. Veremos como você se sairá agora sem o seu Sonar. Esteja pronta. Lança de Gelo!
A lança vem em sua direção antes que ela possa tentar algum ataque contra o adversário. Iza o bloqueia com escudo, Marino já mergulhara de novo. Os ataques começam novamente, mas ela ainda pode se desviar deles. Sua técnica Fluir começa a se tornar ainda mais eficiente. Contudo, ela ainda não sabe como parar os ataques e poder então vencê-lo. Marino também percebe que seus ataques não serão suficientes para vencê-la seu mana acabaria antes que ela estivesse cansada a ponto de não conseguir desviar mais.
Os ataques param, Marino surge novamente, encara Iza nos olhos. Sua expressão não demonstra mais raiva ou desprezo. Ele tinha a sua frente uma grande adversária e sabia reconhecer isso. Encontrar uma boa luta o faz sentir-se bem novamente, era uma guerreiro afinal. Mas uma tarefa lhe foi dada, proteger o castelo, e o faria a qualquer custo. Ele se prepara para a última investida.
Iza o encara, deseja no fundo que esta luta acabe, não gosta de violência, não quer machucar ninguém, só voltar para casa e para junto de seus amigos. Então lembra-se que isso ainda é “apenas” um treinamento, que seres mais fortes e mais cruéis ainda desejam fazer mal a ela e seus amigos. Não, não vou permitir que isso aconteça, ela pensa. Ela está pronta para terminar com tudo isso. Será seu golpe decisivo.
Como se este combate fosse a única coisa agora, dizem em uníssono: - Que assim seja!
A aura dele brilha, seu ataque virá primeiro. Ergue sua lança em direção a garota.
Marino: - Armadilha de Gelo!
Um grande circulo de gelo se forma em torno de Iza e partindo dele, estalagmites começam a surgir rapidamente sobre as águas vindas de todas as direções. Não há como desviar delas, se aproximam rapidamente, logo alcançarão o centro onde Iza se encontra.
Iza observa o ataque sendo formado. Só há duas coisas a fazer, mergulhar ou saltar. Mergulhar não é uma boa ideia, pode haver lanças surgindo também abaixo das águas. Sua ação surpreende por um instante a Marino, Evans embainha sua espada e coloca o escudo nas costas. O circulo está próximo agora.
Ela salta, estica os braços na direção do oponente, as palmas abertas, os pulsos unidos. Sua aura brilhante quase ofusca. Marino esperava que ela saltasse, alias era sua intenção. No ar não teria como se desviar dele, então avança em sua direção e salta. A lança em riste aponta o coração da garota.
Iza sabia que ele tentaria atacá-la no ar, mas assim como ela não pode desviar ele também não poderá, a partir do momento em que não toque mais as águas. A força de seu ataque acaba agindo em favor dela, pois ele tem de saltar de longe dando tempo a ela para preparar o ataque.
É uma visão dantesca. Numa fração de segundo, todo o lago se agita, o gelo formado pelo ataque de Marino começa a se partir. Correntes de água sobem em direção a garota, junto com fragmentos de gelo, elas se encontram diante de suas mãos. Marino está a sua frente, sua lança toca o peito de Iza fazendo-o sangrar. Mas já era tarde, ela já havia proferido suas palavras.
Evans: - Canhão de Água!
Uma grande esfera formada por água e o gelo é atirada sobre o peito de Marino. A força do ataque o arremessa de volta, o golpe é violento. Ele cai a borda do lago, enquanto Iza cai sobre as águas.
Por instantes, tudo fica calmo. Não há o que prove que ali acabara de acontecer um duelo, exceto o corpo de Marino, seriamente ferido. Então próximo a ele Iza aparece a tona. Ela esta ferida, mas não é tão grave. Olha para ele, lágrimas, surgem em seu rosto.
Evans: Por quê? Não precisava ser assim, mas que droga!! – ela grita.
Percebe então que ele ainda respira. Começa a arrasta-lo de volta ao lago, talvez ele ainda possa ser salvo. Marino abre os olhos:
Marino: O que está fazendo garota?
Evans: Não precisa ser assim, nós podíamos ter sido amigos. Não quero que ninguém morra.
Ele está fraco, mas sorri. Se esforça para retirar a corrente que usava em seu pescoço.
Marino: - Aqui, use esse pingente para abrir o castelo. Você mereceu isso.
Ela o devolve ao lago, pega a corrente e percebe que seu pingente é uma espécie de apito.
Marino: - Agora, vá. Seus amigos esperam por você. Talvez nos encontremos de novo...
Ele desmaia. Iza se preocupa, mas não há o que ser feito. Mal consegue manter-se de pé. Como só tinha uma chance usou toda a energia que possuía no ataque. Ela sai do lago, ao tenta se levantar, cai. Está muito cansada, ela desmaia sob a grama, com o sol a aquecer lhe o corpo.