Just an Ordinary Day escrita por Daijo


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Olha eu me arriscando de novo com GaaHina.
Mika-chan, espero que goste da história, tentei fazer algo fofo dessa vez -q
Boa leitura!



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A jovem olhou para o prédio a sua frente e não pôde conter um suspiro. Enquanto os outros estudantes continuavam seu caminho para o interior do terreno, ela deixou reter-se por um momento. Observou, ao seu redor, as outras garotas entrarem apressadas. A atmosfera que as envolvia era a mais animada possível.

Em sua opinião, a agitação não combinava com àquela época do ano. Os últimos dias do inverno pairavam pelos cantos da cidade, junto com a sensação monótona que o frio parecia ter.

Mas o que ela poderia dizer contra aquela data. Se saísse por aí expressando sua opinião, certamente seria motivo de piadas de todas as meninas do colégio. Afinal, ninguém poderia tratar aquele dia tão levianamente. Nem mesmo alguém que não se importava com ele, tal como ela.

Era o Valentine’s Day. À sua volta, as jovens cochichavam cheias de segredos, apertando embrulhos coloridos contra o peito, enquanto suspiravam. Elas entregariam seus chocolates aos garotos de quem gostavam, muitas vezes como uma forma de confessar seus sentimentos. Algumas seriam rejeitadas, outras não. Já vira aquilo por tantos anos, que simplesmente ignorava os comentários que surgiam no dia posterior, tediosamente.

Ela não era uma garota popular. Mas também não passava despercebida pelo colégio, embora as vezes preferisse ter seus momentos de exclusão. Sua amiga sempre lhe dizia ser um desperdício não entregar nenhum chocolate a alguém, quando havia garotos que desejavam recebê-lo.

Ora, ela também dava chocolates no Valentine’s Day. Seus amigos mais próximos sempre comentavam sobre o “jovem de sorte” que conseguia recebê-los de si. A garota ficava satisfeita em fazer os chocolates para ele. Sempre era elogiada e recebia a retribuição no White Day. Aquilo bastava para ela.

Depois de achar que fora tempo suficiente para suas divagações, a jovem finalmente deu um passo em direção ao interior do colégio. Afinal, apesar da aparente quebra de rotina, para os professores ainda era um dia de aula normal.

Como esperava, ninguém a incomodou durante sua passagem. As garotas estavam ocupadas demais, tentado criar coragem, enquanto os meninos permaneciam ansiosos por receber os chocolates delas. Pelo menos a maioria agia assim.


A garota parou em frente ao seu armário, guardando o sapato que retirara no genkan. Pegou o uwabaki que descansava no interior e calçou-o sem pressa nenhuma. Seu primeiro período de aula era vago, o que lhe permitia gastar aquele tempo ao seu modo. Mas antes que realmente pudesse pensar em algo que fazer, sua amiga apareceu, esboçando um sorriso que fez a jovem ficar desconfiada.


– Hina-chan, tenho novidades. – A jovem de cabelos rosados, Sakura, apressou-se em colocar seus sapatos no armário ao lado, para finalmente mirar a amiga. – Fiz chocolates para alguém especial.

Hinata rolou os olhos, sem mesmo disfarçar. Onde estavam as novidades? Todos os anos ela fazia um chocolate, para alguém que considerava especial. A única diferença estava no presenteado, que em todos os anos não se repetira nem uma vez.

– O que foi? Eu estou sendo sincera dessa vez – afirmou, enquanto as duas se dirigiam ao corredor principal. – Ele é perfeito, você precisa conhecê-lo.


Sakura tornou-se sonhadora por um momento, o que não mudou a opinião de Hinata. As duas seguiram para a sala de aula, com a rosada ainda listando as qualidades de seu pretendente. Quando a jovem de cabelos azulados sentou-se na sua carteira, perto da janela, e pôs-se a observar o lado de fora, a Haruno puxou a cadeira da frente para si.


– Eu preciso de um favor, Hinata. – disse aos sussurros, embora a sala estivesse vazia. – Eu quero que você me ajude a entregar os meus chocolates.

A mencionada voltou os olhos para a amiga no mesmo instante, com uma expressão confusa. – Por que precisa de mim?

– Eu li em uma revista... Garotos como ele, gostam de meninas tímidas. – Sakura confessou, observando a feição da amiga mudar de surpresa para a de aborrecimento.

– E você achou que eu poderia dar boas aulas de como agir igual a uma garota tímida. – Hinata cuspiu, sentindo-se irritada.

Não ficava cômoda em admitir a maneira como era. Ela era tímida. Mesmo que no passado tivesse sido bem mais, ainda conservava seus constrangimentos sem sentido, a ansiedade e o receio de permanecer em certos lugares.

– Não é isso, você entendeu errado. – a outra se apressou em esclarecer, puxando a cadeira para mais perto de Hinata. – Deixe-me explicar... Eu decidi não entregar o chocolate pessoalmente. Olha, eu escrevi uma carta.


A jovem tirou da mochila um pacote que continha os chocolates e o envelope vermelho. A Hyuuga correu os olhos entre o embrulho e a amiga, receosa.


– Você quer que eu entregue isso no seu lugar? – Ela pesou por um momento as possibilidades. – Esquece. – sentenciou por fim, voltando a mirar o horizonte pela janela.

– Não se precipite, ok? Você não precisa entregá-lo cara a cara. – Sakura colocou o pacote sobre a mesa de Hinata, fazendo os olhos dela se desviarem da paisagem. – Na verdade, eu só queria que você colocasse isso em cima da mesa dele.

A Hyuuga piscou diante do sorriso da outra. – Já que não é cara a cara, por que você mesma não faz isso? – indagou, empurrando o embrulho de volta as mãos da rosada – E o que isso tem a ver com ser tímida?

– Ora, pense bem! Se eu deixar o embrulho sobre a mesa dele, indica que tive vergonha de entregá-lo pessoalmente. – concluiu, como se fosse a coisa mais óbvia de se pensar.

– Não exatamente. – Hinata divagou, monótona. – Pode significar que você não teve coragem de fazê-lo, indicando que é uma pessoa insegura... O que não implica necessariamente que você seja tímida também.

Sakura exibiu uma expressão confusa. Segundos depois, ela pareceu voltar a realidade, trazendo consigo um “que” de exasperação.


– Não me confunda com suas conclusões! É um plano muito bom... – Haruno devolveu o embrulho às mãos da companheira. – Agora, você pode, por favor, me ajudar.


– Por que você...

– Eu tenho uma reunião do conselho de classe, lembra? – Sakura ergueu-se, devolvendo a cadeira ao seu lugar original. – Será daqui a pouco. Por isso preciso que você faça isso por mim. Venha.

Hinata pegou o pacote da amiga e a seguiu para o corredor. Enquanto ambas andavam, a de cabelo rosa explicava o plano que tinha bolado na noite anterior.

– Enquanto nós temos um período vago, a sala dele estará na aula de Educação Física. – comentou, ambas virando o corredor que as levaria para o pátio. – Tudo o que você precisa fazer é entrar na sala e colocar o embrulho sobre a mesa dele, aproveitando que todos os alunos estarão ocupados na quadra. Eu mesma faria, se não tivesse a reunião.

– E como vou saber qual é carteira dele? – Hinata indagou, com a sensação de que aquilo não daria certo. – Espere... Quem é ele?

– Um senpai nosso... Eu vou mostrá-lo a você.


As garotas chegaram ao pátio, parando próximo a um dos muitos pilares que sustentavam a parte de fora da construção. Sakura procurou com os olhos pelo seu pretendente, em meio aos vários estudantes.


– Onde ele está... Oh! Ali, conversando com o baka do Naruto. – Sakura exclamou repentinamente, cutucando a amiga.

Hinata, no entanto, não se virou prontamente para olhar a quem a amiga estava lhe apontado. Pois naquele mesmo instante, Kiba, amigo de ambas, apareceu ao seu lado, cumprimentando-a.

– Yo, Hina-chan! Como vai? – a jovem sorriu levemente, voltando sua atenção para o garoto. – Já entregou um chocolate para sua pessoa especial?

– Ainda não Kiba-kun. – ela respondeu, abaixando parcialmente o rosto, constrangida. – Farei isso depois da aula.

– E temos alguém diferente esse ano? – Ela apenas balançou a cabeça em negação, fazendo-o sorrir amarelo. – Desde quando um chocolate feito para o primo é especial, Hina-chan!

Para ela era. Mesmo que dissessem que não havia graça em fazer um chocolate para seu primo Neji, Hinata continuaria fazendo-o, demonstrando sua gratidão por aquele que era como um irmão. Ela sabia que o primo recebia diversos honmei choco, mas ele sempre lhe dissera que seu giri choco era o único especial... E ela gostava de acreditar naquilo.

Antes que Hinata pusesse seus pensamentos em palavras, o Inuzuka voltou-se para Sakura, agarrando-a pelo pulso.

– Temos uma reunião agora. – lembrou, um tanto impaciente, já que viera até ali em busca dela. – Até logo, Hina-chan!

– Espere! – Sakura protestou, à medida que era arrastada pelo companheiro. – Hinata, você viu não é? O senpai conversando com o Naruto!

A Hyuuga não teve tempo de responder à amiga, que já se encontrava distante com impressionante rapidez. Ao vê-los desaparecer dentro do colégio, a garota instantaneamente procurou pelo garoto loiro em meio a multidão. Foi com alívio que ela o encontrou, conversando com outro senpai. O cara que Sakura estava interessada.

E lá estava ele. Um jovem com feições taciturnas, que parecia impassível diante dos sorrisos do Uzumaki. Seus cabelos eram ruivos, vermelhos como sangue. Aquela era uma comparação estranha, mas Hinata não tinha tempo para refletir melhor naquilo, pois logo o sinal indicando o início das aulas havia tocado.

Com cautela, Hinata os seguiu, acompanhando-os até a porta de sua sala, sem ser notada. Esgueirando-se até o batente da porta, a garota tombou parcialmente a cabeça para o lado, a fim de ver o interior do cômodo.

Foi com alívio que ela descobriu qual era a carteira do dito cujo. E quando os meninos se apressaram para chegar ao ginásio, e todo o resto saiu da sala, a Hyuuga correu para o seu interior e depositou o embrulho de Sakura na mesa do ruivo.


Ela suspirou aliviada. Estava feito e não fora tão difícil como imaginara.



***



Faltavam alguns minutos para que seu tempo vago acabasse, quando Sakura retornou a sala. Cheia de expectativa, a garota rumou direto para a amiga, com os olhos sonhadores.


– E então? – indagou, postando-se ao lado da mesa de Hinata.

– Está feito. – respondeu simplesmente, mantendo-se indiferente até sentir ser abraçada pela outra com força. – Foi fácil – Sorriu ao admitir.

– O que achou dele? Não é bonito? – Sakura manteve-se ajoelhada, ficando no mesmo nível que a companheira.

– Um pouco. – concedeu de má vontade. Nunca fora muito de expressar suas opiniões sobre garotos, até mesmo dos quais já havia se interessado. – Gaara-senpai parece tão reservado. – comentou, uma leve curiosidade lhe coçando por dentro. – Você já conversou com ele, Sakura?

– Quem? Gaara-senpai? – Sakura pareceu confusa por instante. – Nunca troquei nenhuma palavra com ele... Às vezes ele parece viver em outro mundo.

Hinata surpreendeu-se com a amiga. – Nunca achei que se interessaria por esse tipo de garoto, Sakura. – A garota de cabelos rosa piscou sem entender. – Mas ele parece ser uma boa pessoa.

– Que Gaara-senpai? Eu estou interessada no Itachisenpai.

– Não Sakura, o nome dele é Gaara. – Hinata olhou para a rosada, um pouco descrente. – Eu ouvi o Naruto dizer seu nome... O garoto ruivo chama-se Gaara.

– Você! – Sakura levantou-se em um sobressalto, prendendo a respiração. – Não era nenhum garoto ruivo, Hinata! Eu lhe mostrei no pátio, lembra? O moreno de cabelos compridos... Itachi-senpai.

Os lábios de Hinata abriram, sem emitir som algum. Ela sabia desde o começo que aquilo não daria certo.


***


– Por que eu?! - a Hyuuga indagou pela terceira vez, enquanto seguia a amiga de cabelos róseos pelos corredores do colégio.

– Porque a culpa foi sua! – Haruno sibilou, saindo para o pátio. – Porque você não prestou atenção quando eu o mostrei!

As duas caminharam até avistarem a quadra de esportes ao ar livre. De longe elas puderam ver os garotos jogando futebol, enquanto as meninas exercitavam-se alguns metros deles. Sakura então apontou para um jovem um pouco mais alto que os demais, com cabelos negros e longos, amarrados em um rabo de cavalo.

Ali estava o verdadeiro pretendente. Itachi-senpai.


Hinata gemeu em arrependimento. Estava arrependida por não ter se concentrado no pedido de Sakura... Não, na verdade estava arrependida por ter aceitado participar daquilo!


Mesmo do lado de fora, ela puderam escutar o sinal indicando o início da segunda aula. Hinata apertou as mãos uma na outra, sentindo-se ansiosa.

– Agora, você só tem que ficar de olho no Gaara-senpai e não deixar que ele chegue na sala. – Sakura a relembrou, ainda observando o moreno correr de um lado para o outro durante o jogo. – Eu vou tentar pegar os chocolates durante a troca da segunda aula para a terceira.

– Nós temos aula agora... Eu nunca matei uma aula! – choramingou a Hyuuga, imaginando os castigos que cairiam sobre si caso fosse pega. – Por que você não faz isso, já que a ideia foi sua desde o começo?

– Eu não posso faltar em nenhuma aula... Eu sou a representante da classe. – a outra contra argumentou, para o desespero da colega. – Não vai ser tão difícil assim... A próxima aula deles é aqui também e a terceira... Bem, você terá que imaginar um jeito de retardar a chegada dele na sala de aula!

Sakura virou-se para a amiga, deparando-se com sua expressão desolada. A de cabelos róseos sorriu, colocando as mãos sobre os ombros de Hinata.

– Vai dar tudo certo! Agora eu tenho que ir... Eu estou atrasada! Vou receber um sermão do Iruka-sensei – a Haruno afastou-se depressa, correndo em direção ao corredor que a levaria para a sala. - Boa sorte! – exclamou por fim, desaparecendo pelo portal.

Sorte? Sim, Hinata precisaria de muita sorte para enfrentar o que estava por vir.


***


Resignada com seu destino, Hinata esgueirou-se com cautela para perto da quadra de esportes. Fez o máximo que pode para passar despercebida pelos demais alunos. O que foi relativamente fácil, já que cada qual prestava atenção em suas atividades, exceto algumas garotas que se perdiam observando os jogadores.

A Hyuuga não viu Gai-sensei por perto, o que a deixou aliviada. Sentou-se então, na última fileira da arquibancada, pronta para manter guarda. Como sugerira Sakura, a jovem pousou os olhos atentamente sobre o garoto ruivo. Assim como os outros, ele corria de um lado para o outro na quadra.

Hinata apertou os olhos para ver melhor a figura dele. Ágil, ele mantinha uma expressão séria, demonstrando sua concentração. Às vezes ele movia os lábios, talvez expressando pragas em murmúrios. Em certo momento, ela teve que segurar o riso, enquanto assistia outro aluno trombar o corpo contra o de Gaara, recebendo um olhar mortal deste.

A partida deveria estar acontecendo desde o começo da primeira aula. Alguns dos garotos já mostravam os sinais de seu cansaço. Mas seu alvo de observação não aparentava estar em tal estado. Como os outros, ele também estava encharcado pelo suor, os pingos escorrendo por seu rosto, fazendo do uniforme algo incômodo.

Hinata estreitou mais os olhos, se é que podia. Os fracos raios solares que escapavam pelas nuvens, refletiam nas minúsculas gotas de suor que se espalhavam pela pele desnuda do ruivo. E elas brilhavam, àquela distância, fascinando a menina.

Era tão... Bonito. A garota não conseguia desgrudar seus olhos, enquanto ele corria com os demais, os brilhos faiscando aos olhos dela, conforme seus movimentos. Perdeu a noção de quanto tempo ficou o admirando.

Isso até o observado virar o rosto em direção a si.

Hinata arregalou os olhos, sentindo o sangue ferver instantaneamente em sua face. Gaara estava parado no meio da quadra, alheio aos amigos que continuavam com o jogo. Seus olhos estavam cravados nela, intimidando-a.

A garota não sabia o que fazer. Com o coração aos pulos, pensou em correr dali. Mas ela não poderia. Não quando precisava vigiá-lo. “Maldita Sakura”, choramingou em murmúrio, enquanto abaixava o rosto, tentando “esconder-se” de seu senpai.

Ela poderia jurar que os olhos dele irradiavam um lazer até si, tamanho o calor que estava sentindo. Mas na verdade era apenas sua vergonha que ultrapassara o limite do esperado. Hinata já não sabia mais o que pensar, quando o som da sua salvação chegou-lhe aos ouvidos.

O apito de Maito Gai soou pela quadra, chamando atenção dos alunos do último ano. Hinata ergueu o rosto prontamente, mirando com quase devoção para o professor, lá embaixo. Aproveitou que o homem iniciava seu velho discurso sobre o fogo da juventude, para escapar das vistas do ruivo.


Aquele era só o início de sua longa manhã, de má sorte.



***



Ele abriu a torneira, molhando suas mãos quando a água começou a escorrer. Jogou um pouco do líquido gelado sobre o rosto, o sentindo amenizar um pouco do seu calor. Ao seu lado, Naruto e o Hyuuga faziam o mesmo ritual, cada qual com uma torneira diferente.


Gaara volveu as costas para os dois, pensando em entrar no vestiário masculino. Deu um passo em frente, porém deteve-se por um segundo. Virou o rosto para o lado esquerdo, franzido o cenho para o velho pessegueiro que ficava ali.

Neji e Naturo passaram por ele, indagando-lhe o porquê de estar com aquela cara desconfiada. Limitou-se a responder um “nada”, enquanto acompanhava-os, com uma estranha sensação de estar sendo observado.

Atrás do tronco da árvore, uma Hyuuga respirava com dificuldade. Depois que os meninos haviam deixado a quadra para as garotas jogarem, a maioria havia se dirigido aos vestiários. Hinata seguiu o trajeto do ruivo, vendo com nervosismo que ele estava acompanhado de seu primo e de Naruto.

Estaria perdida se por acaso eles a vissem. O que o primo diria se descobrisse que ela andava perseguindo um garoto? E com que cara olharia para Naruto então?!

Apesar ter superado seu interesse amoroso pelo garoto loiro, ainda ficava facilmente constrangida em sua presença. Kami, ele a acharia mais estranha do que já achava.

Quando percebeu que eles entraram no vestiário, a garota pôde respirar aliviada. Esperaria ali, do lado de fora, até que o ruivo saísse, torcendo para que ele se separasse dos dois senpais que conhecia.

Enquanto aguardava, a jovem ficou imaginando planos que poderiam ajudá-la a distrair o senpai. Nenhum deles lhe pareceu bom o suficiente. Absorta em seus pensamentos, nem percebeu o tempo passar. Uns quinze minutos depois, alguns garotos já saiam do vestiário. Hinata só voltou a realidade ao escutar as vozes dos primeiros meninos a deixarem o local.

Sua cabeça moveu-se para o lado, divisando a entrada do cômodo. Observou os estudantes se afastarem, verificando que nenhum deles era Gaara. Conforme eles saiam, mantinha seus olhos atentos, a espera que o ruivo saísse. Um por um, Hinata os viu saindo. Até mesmo seu primo e Naruto desapareceram dali, antes dele.

Para seu azar, naquele dia, Gaara fora um dos últimos a tomar banho. E depois de quase meia hora de espera, o garoto finalmente pôs o rosto para fora do vestiário. A Hyuuga segurou a vontade de se revelar e perguntar ao jovem, à gritos, por que ele demorara tanto.

Hinata consultou seu relógio. Ainda faltavam uns quinze minutos para que a terceira aula começasse. Ela imaginou, então, que o garoto voltaria para a quadra, assim como os outros haviam feito. No entanto, para seu desgosto, Gaara tomou um rumo diferente, voltando a entrar no prédio escolar.

A garota apressou-se em segui-lo. A uma distância razoável, esgueirava-se atrás dele, com cuidado para não ser vista. Poucos alunos andavam pelos corredores e Hinata agradeceu mentalmente por isso.

Enquanto o perseguia, ocultava-se nos vãos das diversas portas que encontrava pelo caminho. Em certo momento, no entanto, longe de qualquer portal, ela teve que fingir ler um quadro de avisos ao perceber que o ruivo virara seu rosto para trás. Com o canto dos olhos, notou quando ele continuou seu caminho, acalmando-a...

Até perceber o rumo que estava tomando. Aquele corredor era o mesmo que o levaria até a própria sala de aula. A jovem choramingou, sem saber o que fazer. Não poderia impedi-lo, a não ser que fosse até ele. Mas o que diria?


Provavelmente, gaguejaria algumas palavras sem sentido, irritando-o. Ele a taxaria de maluca e sairia depressa para sua sala...



– Ah, droga! – Exclamou de repente, ao notar que o ruivo já havia sumido na curva do corredor.



Sem pensar em mais nada, correu tentado alcançá-lo. Porém, ao virar no final do corredor, deteve-se. Havia se chocado contra o corpo de outra pessoa, esta suficientemente forte para não se mover nenhum centímetro do ponto em que parara.



Hinata soltou um muxoxo de dor, seguido por um fraco pedido de desculpas. Foi erguendo parcialmente a face, deparando-se com o tronco sólido do garoto e o início do seu pescoço. Com certo receio e o coração aos pulos, ela arriscou-se a mirar o rosto dele.


Se-senpai? – gaguejou, ao encarar os olhos verdes que a analisavam.

Ali estava ela, frente a frente com ruivo. O que faria agora? Sentiu o rosto esquentar novamente, e seu coração dar um solavanco. Apesar disso, seus olhos ficaram presos aos dele, como se estivesse hipnotizada.

– Por que você está me seguindo? – Gaara indagou de repente, sua expressão impassível.

Hinata sentiu-se tremer apenas pelo seu tom de voz. Os lábios moveram-se receosos, pois ela nem sabia o que responder. Precisava de uma desculpa... Alguns segundos se passaram, com ele esperando pacientemente por uma resposta.

– Eu-eu... – começou hesitante – Na ver-verdade...

“Oh! Não é o Gaara-senpai?!”

“Sim, é ele!”

“Quem é aquelazinha?”

Hinata desgrudou seus olhos dos do garoto e virou a face para trás. Três estudantes estavam paradas no início do corredor, observando-os com curiosidade. A Hyuuga pode sentir a aura de raiva crescendo ao redor delas, por vê-la tão próxima ao ruivo.

A garota afastou-se prontamente dele, constrangida. Até o momento não tinha reparado no grau de proximidade que manteve com ele. Quis murmurar um pedido de desculpas, mas não teve coragem para tanto.

“Tsc”, os lábios dele moveram-se com desdém.


No instante seguinte, Hinata sentiu a mão ser tomada pela do seu senpai. Gaara iniciou uma corrida, puxando-a consigo.


– O que estamos fazendo? – ela indagou, depois de algum tempo de surpresa.

– Estamos fugindo delas. – respondeu, simplesmente, enquanto podiam escutar o coro de “Gaara-senpai” as suas costas.

Hinata não podia acreditar no que estava acontecendo. Em seu íntimo, praguejava mil vezes contra Sakura e sua ideia idiota. Por culpa dela, agora era alvo de um fã clube alvoroçado e correndo risco de ser considerada como uma stalker pelo ruivo.

Pensando que não poderia ficar pior do que isso, Hinata quase chorou em desespero ao ver, no início do caminho que eles estavam percorrendo, as costas de Kakashi-sensei. Em uma reação rápida, Gaara puxou-a para o lado, em direção os degraus que levavam para o segundo andar. O jovem guiou-a para o pequeno espaço que tinha embaixo da escada.

Num ímpeto ele abraçou-a, girando-a, para que trocassem de posição. Ela sentiu suas costas chocarem contra a parede, sendo prensada pelo corpo dele. A Hyuuga não se atreveu a fazer nenhum movimento. Apenas fazia o esforço de respirar, assim como ele.

Naquela proximidade, pode até mesmo sentir o coração dele bater forte assim como o seu, que mantinha o mesmo ritmo agitado. Com a cabeça abaixada, não se deu conta de que o ruivo mirava o topo de sua cabeça.

Logo as três garotas surgiram barulhentas no corredor, chamando atenção do sensei. Em silêncio, ambos ouviram Kakashi ralhar com elas, gritando para que fossem para a sala de aula. Hinata relaxou nos braços do acompanhante. Estava salva pela segunda vez naquele dia.

– Você ainda não me respondeu... – Gaara chamou sua atenção, pegando-a desprevenida – Por que estava me seguindo?

– Hã? – Apesar dos poucos centímetros de espaço entre eles, Hinata se esforçou para erguer o rosto. Seus olhos se encontraram mais uma vez com o dele, fazendo com que sua bochecha afogueasse. Se não estivesse presa em seus braços, tinha certeza que suas mãos já estariam mexendo-se nervosamente uma contra a outra. – Na ver-verdade...

O sinal indicando o início da terceira aula tocou, interrompendo a Hyuuga. Com a surpresa, Hinata desvencilhou-se do agarre do ruivo, finalmente saindo do esconderijo que haviam improvisado. Gaara a seguiu, taciturnamente, atento aos movimentos dela.

– A terceira aula... – choramingou, pensando em Kakashi–sensei.

Presa em seu mundinho de lamentações, a jovem mal percebeu que o ruivo passara por si, em direção as escadas. Por hora ele não iria mais questioná-la. Voltaria para sua sala de aula, esperando por outra oportunidade para tirar-lhe a verdade.

– Ja ne – a jovem escutou a despedida, finalmente lembrando-se dele.

Gaara-senpai estava indo para sua classe. Ele encontraria os chocolates antes que Sakura os tirasse dali. A Haruno disse que tentaria pegá-los de volta durante a troca de aulas... O garoto a veria com a mão na massa. Pensaria que os chocolates eram para ele...

Ansiosa, Hinata correu para a escada, indo atrás do ruivo. – Senpai... – chamou-o.

Seus pés alcançaram os degraus, galgando-os com pressa... – Gaara-senpai! – exclamou por ele, mais alto que podia.

E Gaara virou-se para encará-la... A tempo de vê-la vacilar um dos pés durante a subida, desequilibrando-se. As pupilas dele dilataram-se enquanto a observava. Ele correu o máximo que pôde, esticando uma das mãos para ampará-la uma vez mais.

Mais infelizmente o estudante não pôde impedir que ela rolasse pelos degraus.


***


Ela sentiu a cabeça latejar. Remexeu-se um pouco na cama, mas o corpo mostrou-se dolorido. Sentiu um pouco de dificuldade para abrir os olhos, mas com insistência conseguiu. Enquanto seus olhos se acostumavam com a claridade, Hinata tentava lembrar-se do que havia acontecido.

– Maldita Sakura - sussurrou, quando um filminho dos acontecimentos do dia passaram por sua mente.

– Você acordou? – a voz de Sakura se fez presente, assim como seu corpo ao abraçá-la. – Eu fiquei tão preocupada... Você está bem? Está doendo muito?

– Eu estou bem...

– Você teve muita sorte... Caiu de poucos degraus. – a amiga comentou, ao afastar-se da outra e ocupar uma cadeira ao lado da cama. – Poderia ter sido muito pior. É tudo minha culpa, desculpe.

Sakura estava prestes a cair em prantos. Hinata sorriu e tentou convencê-la de que não era culpada... Talvez fosse um pouquinho, mas não diria isso a ela. Se a Hyuuga não tivesse se atrapalhado enquanto subia os degraus atrás de Gaara...

Hinata então lembrou-se do ruivo. Recordou-se que a última coisa que vira antes de perder os sentidos, fora a mão dele indo a sua direção.

– Sakura, e o Gaara-senpai? – indagou instantaneamente, tentando erguer o tronco.

– Vai com calma! – a rosada exclamou, ajudando-a a sentar-se – Ele estava aqui até agora pouco. Eu disse para ele não se preocupar, que eu ficaria com você. Há muito tempo as aulas acabaram, mas ele foi embora só agora. O senpai ficou bastante chocado com sua queda.

Hinata sentiu seu coração balançar mais uma vez naquele dia. Com um estalo, jogou os lençóis para longe, guiando os pés para fora da cama. – Me ajude, Sakura. – pediu, enquanto procurava seu uwabaki. – Onde está minha mochila?

– Você está louca? Tem que ficar de repouso um pouco mais! – exclamou Sakura, desesperando-se com a súbita mudança de humor da outra. – Neji chegará daqui a pouco para te levar para casa.

A Hyuuga colocou os pés no chão, vacilando. A Haruno amparou-a prontamente, enquanto a outra se dava conta que seus joelhos haviam se machucado. Percebeu que algumas partes de seu corpo estavam com curativos, assim como sua cabeça estava enfaixada.

– Pegue a minha mochila e me ajude encontrar o Gaara-sepai – pediu, sentido que já poderia ser tarde demais.

Sob seus próprios protestos, Sakura acabou ajudando a amiga. Elas caminharam pelos corredores do colégio, esperando ver o ruivo em algum lugar. Já estavam desistindo, quando o viram deixando o prédio, na entrada do local.

– Gaara-senpai! Espere! – Hinata o chamou-e ele prontamente virou-se para atendê-la.

Evitando que ela se esforçasse, o garoto foi até seu encontro. Sakura entregou a mochila para a companheira e afastou-se deles, para que pudessem conversar.

– Desculpe. – a menina foi logo pedindo, enquanto abria a própria bolsa. – Eu estava tentando ajudar a Sakura, apenas...

– Eu sei. – Gaara a cortou, com a voz suave. – Ela me contou tudo.

“Oh”, Hinata surpreendeu-se. Por fim, tirou de dentro da mochila, um embrulho colorido. Estendeu o chocolate para seu senpai, sentido as bochechas arderem outra vez diante dele.

– Obrigada. – agradeceu com um sorriso sincero, mirando os olhos verdes dele, deixando hipnotizar-se mais uma vez.



Mais tarde naquele dia, já em sua casa, Hinata se deu conta que dera os chocolates de Neji para Gaara-senpai. Por sorte, havia guardado alguns chocolates extras, entregando-os ao primo quando esse os reclamou.



Ficou aliviada também em saber que Sakura entregara seus chocolates a Itachi-senpai. No final das contas, acabou entregando-os pessoalmente. E tudo indicava que ele gostara do agrado.

Apesar de tudo ter dado certo, algo ainda a incomodava. As letrinhas que confeitara nos chocolates que entregara a Gaara.


“Giri Choco”



***



Os dias haviam passado lentamente para Hinata. Depois de ter experimentado um dia agitado, voltar a sua velha rotina lhe parecia estranho. No entanto, conformada com sua velha vida de volta, a jovem vislumbrou o prédio escolar, sem conter um suspiro.


Aquele não era um dia comum, era o White Day. Agora era a vez dos garotos saírem por aí, distribuindo seus chocolates, retribuindo os que foram lhe dados. Hinata já havia recebido os seus de Neji, se sentido satisfeita como em todos os anos.

Ou talvez não. Algo dentro dela lhe dizia que aquilo não era o suficiente, mas ela não sabia o por quê. Apenas quando chegou até seu armário e encontrou um pequeno bilhete, ela imaginou o que poderia ser.

Depressa, antes que as aulas começassem, a Hyuuga guardou o papel no armário e saiu em disparada. E então ela se deu conta do quanto havia sentido por não ter tido nenhuma notícia do garoto ruivo, desde que lhe entregara os chocolates, na entrada do colégio. Passou todo aquele tempo apenas, vendo-o de longe, cumprimentando-o de longe quando percebia estar sendo observada por ele.

Com o coração aos pulos, ela chegou até a escada para o segundo andar. Parcialmente oculto no espaço embaixo dos degraus, um garoto ruivo a esperava. Hinata viu que ele segurava um embrulho colorido nas mãos.

Ela se aproximou, sem conter um sorriso. Então Gaara lhe entregou os chocolates brancos.

– Isso é pelos giri choco – disse, dando um passo para mais perto dela. – E isso, é por me perseguir.

Hinata se surpreendeu ao sentir os lábios dele contra os seus. Gaara segurara em seu queixo, puxando sua face contra a dele. Depois de um tempo em transe, ela finalmente entendeu o que estava acontecendo. Cerrou então os olhos, aproveitando o calor de seu senpai.

A partir daquele momento, o Valentine Day’s não lhe parecia mais um dia sem importância.


A terça-feira vem e vai assim como uma gota de chuva cai lentamente
Tem sido um dia muito longo
Quando os meus dias tornaram-se como um rio, eu parei de contar os dias
Que eu passei sem você



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Notas finais do capítulo

Uwabaki - tipo de calçado japonês, utilizado no interior de casa, escolas, empresas e prédios públicos.
Giri choco - o chocolate obrigatório, para amigos, colegas de trabalho...
Honmei choco - o chocolate para o amor verdadeiro
O trechinho final, é uma estrofe da música Tuesday Song, da Big Baby Driver.
Achei que combinava com a Hinata dessa história.
Ah, espero que tenha ficado bom.
Apesar de estar na vibe de dramas atualmente, achei que seria melhor escrever algo mais fluffy/comédia.