O quintal da casa de Claire estava lotado de adolescentes vestidos das mais variadas coisas, uma batida ensurdecedora tocava ditando o ritmo da dança.

–Ok crianças, volto para buscar vocês as 01h00min. – O pai de Henry anunciou.

–Está bem pai. – Ele murmurou. – Vamos garotas? – Se voltou para mim e Tempestt, já abrindo a porta do carro.

–Tchau Sr. Black. – Disse junto com a ruiva desconfortável ao meu lado.

Dentro da casa a aglomeração de jovens era maior ainda, a sala ampla de mármore estava tomada pelo som e pelas luzes coloridas que piscavam freneticamente.

–Sil! Você veio nem acredito! – Minha irmã gritava abrindo espaço entre a multidão.

–Cathy! Você está linda. – Catherine usava uma fantasia de anjo branca e extremamente curta, deixando suas pernas enormes de fora.

–Então, não vai me apresentar? – Ela jogou um olhar malicioso para Henry que estava ao meu lado procurando algo no mar de gente.

–Desculpe. Henry esta é Cathy minha irmã.

–Muito prazer. – Eles apertaram as mãos, e Catherine voltou a me fazer perguntas banais, porém sempre evitava o assunto “família”.

Enquanto eu conversava Henry e Tempestt se misturaram, procurando o que segundo Bea encontraríamos aqui. Catherine me acompanhou onde drinks eram servidos.

–Oi? Quero dois Black Russian, por favor. – Ela pediu a um homem que em poucos minutos voltou com o pedido.

–Tem certeza Cat? – Perguntei enquanto ela virava o copo.

–Relaxa Sil. É uma festa. – Hesitante peguei o copo da mão da minha irmã e repeti seu movimento.

Não me lembro da quantidade de drinks que tomei, porém foi o suficiente para tornar minha visão um pouco mais turva, estava procurando Henry neste momento, mas meu corpo precisava de outra bebida. Aproximei-me do bar e pedi.

–Um Grasshopper. – Rapidamente ele voltou com a minha bebida. Tomei um grande gole.

–Hey! Calma bebê, assim você vai se engasgar. – Uma voz desconhecida falou. Virei-me para ver de onde o som vinha e dei de cara com um deus perfeito. Ele era loiro, alto, lindo, vestia uma fantasia de piloto que o deixava extremamente sexy. – Um Blue Lagoon. – Ele falava com barman nesse momento, enquanto isso eu aproveitava para examina-lo da cabeça aos pés.

–Sou Silena. – Disse ao terminar meu drink. – Você é novo na cidade?

–Jason. Sou, na verdade sou primo da Clarie. – Ele fez uma pausa, tomando um gole da bebida. – Então, Silena, quer dançar?

–Claro. – Jason virou seu copo e me levou até a pista de dança improvisada, onde uma música envolvente tocava.

Enquanto dançávamos e conversamos um arrepio percorreu minhas costas, a sensação de ter encontrado algo importante tomou conta de mim. Do alto da escada poderia ver Henry sinalizando sutilmente para mim.

–Pode me dar licença um minuto- Pedi delicadamente para Jason.

No andar de cima a aglomeração de jovens era menor, mas ainda suficiente para dificultar minha busca por Henry. Entrei em umas das portas, um grande quarto branco. Ia dando meia volta, mas algo me puxou para dentro do closet.

–Shhhh! Sou eu. – Henry me acalmou. – Achou alguma coisa?

–Como sabia que eu ia estar aqui? – Perguntei ainda arrepiada.

–Digamos que nós. – Ele sinalizou para mim e para si. – Temos um grande poder de intuição... Quase nunca falha.

–Ok, obrigado pela informação. Não achei nada até agora, nem sei o que procuramos.

–Provavelmente aquilo que falta para completarmos o circulo. –Pareceu pensativo.

–O que? Que circulo?

–Pensa, seres como a gente sempre tem poderes ligados à natureza, então o circulo se fecharia se encontrássemos o elemento que falta.

–Então o que procuramos é alguém que controla a água. – Conclui. Tentando me concentrar na conversa, porém os olhos azuis de Jason não saiam de minha mente.

–Lembra-se do que Bea disse. Que seriamos em cinco, então na verdade procuramos por duas pessoas.

–Ótimo. – Disse sarcástica. – Já viu o tamanho dessa casa? O que vamos fazer, convidar todos para nos assistir controlando o fogo e fazendo furações mini, e aquele que conseguir imitar leva o prêmio.

–Talvez não, talvez só tenhamos que sentir quem é diferente aqui.

–Gostei mais da minha ideia. – Falei

–Olha, quando eu conheci Tempestt senti que ela tinha algo de especial, o mesmo aconteceu com você.

De repente a ficha caiu, tudo ficou tão obvio, claro, como eu não fui perceber.

–Henry, vem comigo. Acho que encontrei. – Sai do closet o mais rápido possível, atropelando vários adolescentes fantasiados ao descer as escadas. Jason ainda estava no mesmo lugar. Atravessei a pista de dança decidida.

–Jason? Preciso que venha comigo. – Ele aceitou, seguimos para o jardim. Henry caminha atrás de nós sem ser percebido.

–Você se assustaria se eu fizesse uma coisa? – Perguntei, assim que chegamos ao lado de fora.

–Não. – Aquilo seria realmente difícil, era a primeira vez que eu mostrava meus poderes a alguém.

Concentrei-me na palma de minhas mãos, já sentia o calor tomando conta de mim, mas um sopro de vento tirou minha atenção. Abri os olhos, Henry estava em posição de ataque assim como Jason. Outro sopro de vento, mais forte que o primeiro, correu o jardim, percebi um movimento mínimo do outro garoto, no momento não pareceu surtir nenhum efeito, mas logo percebi que a fonte próxima a nós havia sido ligada.

Não vi o momento exato, mas Jason avançava para Henry, tinha que fazer algo. Foquei meu poder na palma de minha mão e agarrei com força o braço de Jason que berrou de dor.

–Porra Henry, me ajuda. – Gritei ainda tentando imobiliza-lo.

–Calma. – O moreno moveu habilmente as mãos, criando uma espécie de corrente muito fina em torno do corpo do loiro. – Pronto, pode solta-lo.

–Tem certeza? – Questionei olhando as correntes, mas afrouxando meu aperto.

–Apenas faça.

Quando tirei minha mão do antebraço de Jason pude notar que havia uma queimadura horrível, porém minha palma estava intacta.

–Ele vai ficar bem? –Perguntei preocupada.

–Vai, só está desacordado. – Henry deu de ombros. – Agora vamos, temos que encontrar Tempestt.

* * *

–Até que fim. Achei que vocês tivessem morrido. – Tempestt estava sentada no chão brincando com algumas pedrinhas. – Olha só o que eu encontrei.

Olhamos para a direção em que a ruiva apontava entre as árvores uma garota se debatia, os troncos enrolavam-se em suas pernas e braços, como grossas cobras, sujando sua linda – e curta – fantasia de grega.

–Escuta aqui sua esquisita, quando eu me soltar, vou matar você e essas plantas estupidas. – A garota gritava e se agitava inutilmente.

–Você está dizendo isso faz uma hora e trinta minutos, até agora não vi nada. – A ruiva sinalizou e os galhos se aproximaram de nós.

–Oh meu Deus Jason. – A loira na árvore falou, encarando o menino desacordado. – O que fizeram com ele? – Ela gritou.

–Não fizemos nada. – Disse Henry, assumindo sua posição de líder.

–Tempestt, solte-a. – Falei decidida. Contra sua vontade os grossos troncos das duas árvores afrouxaram seu sufocante aperto e a garota caiu no chão.

–Vocês. – Ela estava com raiva, tanta que era palpável, o ar se tornou gelado. –Prenderam meu irmão, sujaram meu vestido e agora eu vou...

–Você não vai fazer nada. – Henry entrou na frente de Tempestt. – Só queremos conversar, uma amiga nossa disse que vocês estariam aqui, se você nos der um tempo.

Foi bem difícil, mas no fim a loira cedeu. Ela se chamava Quione, ela e seu irmão gêmeo Jason se mudaram da Suíça tinha alguns meses, ficariam na casa dos pais de Clarie até que sua outra tia voltasse da França, o que aconteceria em alguns dias. Porém o mais surpreendente sobre Quione veio quando eu perguntei qual eram seus poderes.

–Domino a neve. – Ela disse em um sorriso, e em poucos segundos flocos brancos caíram ao nosso redor, formando um fino cobertor branco a nossa volta.

–Hey! Olha, Jason está acordando. – Anunciei.