Acordei sobressaltada pelo sonho. O suor escorria pela minha testa deixando meus cabelos castanhos extremamente úmidos. 

      Procurei o meu celular tateando o criado mudo, 05h30min. Pelo menos eu dormira mais do que nas outras noites.

      Desci as escadas pensando no pesadelo enquanto tocava meu pingente, fazia isso toda vez que tinha algum sonho ruim.

      “Eu estava dentro de uma sala em chamas, as cortinas escarlates pegavam fogo, os meus pulmões ardiam e a fumaça era cada vez mais densa. Então a calma me tomava, mesmo sabendo que iria morrer em meio a chamas eu estava tão tranquila que pegava no sono, e por fim o fogo me abraçava”.

 - Silena? Oi? – Minha irmã gesticulava na minha frente estalando os dedos e acenando.

-Oi. Bom dia, Catherine. – Esbocei um sorriso.

-Credo. – Ela me lançou um olhar de desprezo e pena.

           No fundo, sabia que todos da minha família me achavam louca, ou com algum tipo de distúrbio mental grave, apenas evitavam comentar.

           Quando eu estava exatamente na metade da minha tigela de Fruit Loops, minha mãe apareceu na escada, totalmente impecável, seguida por um pai concentrado demais em seu Ipad para notar o ambiente ao seu redor.  

         Depois de um silencioso café da manhã, me arrumei tranquilamente em meu quarto, cantando suavemente uma melodia que havia inventado.

          Demoramos a sair, Catherine tinha choramingado por alguma coisa sem sentido, causando o nosso atraso. No banco da frente ela e minha mãe conversavam animadamente sobre qualquer coisa. Enquanto eu encarava as ruas do bairro de classe alta esperando algum detalhe diferente na paisagem.

          Minutos depois o majestoso prédio da Escola Abraham Lincoln se anunciava por entre as árvores, ao virarmos à esquina a fachada de tijolinhos e o gramado repleto de estudantes surgiram diante de nós.

           Respirei fundo antes de abrir a porta da luxuosa SUV prata, um mantra diário. Segui diretamente para o meu armário, me misturando com a massa de pessoas que seguia o mesmo rumo que eu, não que eu sofresse bullying ou coisa parecida, só preferia a solidão da minha bolha particular.

          O sinal tocou fazendo a multidão se dispersar, segui para a minha aula, prestando atenção até o momento em que meu nome foi chamado na lista de presença, não era uma má aluna, pelo contrário tinha médias excelentes, por isso não precisava de fato daquela aula.

               Mas não pensar em nada naquela aula foi um erro, devagarinho comecei a cochilar, e com a escuridão do sono vinha os pesadelos.

      A sala de aula tinha virado cinza, alguns pedaços de madeira ainda ardiam, era possível sentir o calor do fogo que há pouco consumia tudo. Nesse sonho eu não morria, não havia fogo e meus pulmões não ardiam com a fumaça densa, porém sentia um puxão leve na boca do estomago, me sentia fraca, e a sensação de estar sendo perseguida me deixavam em pânico, era como se eu esperasse pela morte.