Mel

As aulas do dia passaram voando. Meu último horário estava vago e como eu não queria chegar cedo em casa resolvi esperar Sale. Fui para a biblioteca e mandei uma mensagem para ele avisando. Entrei na biblioteca e sorri aliviada por esta estar vazia. Passei os dedos nas prateleiras e encarei os livros.

- Procurando alguma coisa boa? – assustei-me e acabei me esbarrando na prateleira.

- John? Você me assustou. – eu disse enquanto tentava acalmar minha respiração. Ele sorriu.

- Me desculpe. – ele disse enquanto andava lentamente passando os dedos nos livros. Eu estranhei o tom cordial em sua voz.

- O que faz aqui? – perguntei seguindo-o devagar.

- Venho aqui quando sou expulso da aula, o que acontece com frequência.

- Porque aqui? – perguntei e ele deu de ombros.

- Gabriel.

- O que?

- Gabriel é o culpado. – ele disse e riu. – Um dia eu disse que iria começar a ler mais livros, e então ele me obrigou a fazer isso. Sempre que eu vou a sua casa ele me dá um livro e manda-me ler em uma semana. – ele fez uma careta e eu o encarei. – Eu acabei tomando gosto pela coisa. – ele disse parando de repente, fazendo-me esbarrar em seu ombro. – Esse é um bom livro. – John apontou para um livro e depois o puxou da prateleira. Olhei a capa e bufei.

- Não curto livros que fogem da realidade. – eu disse e desviei o olhar de John para a estante. Ele riu.

- Eu curto. Acho que ler é isso, fugir da realidade de vez em quando. – ele murmurou. Olhei-o de soslaio e vi que ele folheava o livro, então ele me encarou. – O que?

- Não sabia que você era tão inteligente. – eu disse e ele gargalhou.

- Cheguei ao terceiro ano, espera-se que eu saiba alguma coisa, mas obrigado pela sinceridade. – ele disse rindo mais uma vez.

- Por nada. – eu disse dando de ombros.

- Gabriel leu esse livro depois de mim. Levou uma bronca da bibliotecária por ter marcado essa página. – ele disse e eu o encarei rapidamente. – Quer ler o que ele marcou? – ele perguntou e eu dei de ombros. John riu e colocou o livro no apoio, aberto na página marcada. – Vou procurar um livro pra você. – ele disse saindo do corredor em que eu estava. Encarei o livro aberto e andei para mais perto dele. Corri os olhos rapidamente pelas letras marcadas e sorri involuntariamente.

Gabe tinha marcado aquilo? Quando? Porque isso importava? – Olha esse. – John voltou fazendo-me saltar novamente. Ele sorriu de lado e me entregou um livro.

- Romance? Estou fugindo deles. – eu murmurei depois de ler a sinopse e ele riu.

- Temos uma leitora exigente. – ele deu de ombros voltando a analisar a prateleira.

- Pode me chamar de chata, John.

- Que é isso, Mel. Não posso queimar meu filme com minha futura cunhada. – ele disse e eu parei, balancei a cabeça e ele sorriu. – Gabriel me mata se souber que eu disse isso.

- Por quê? – eu perguntei rápido demais e ele sorriu.

- Não sabe mesmo? – ele arqueou uma sobrancelha e eu suspirei encarando a prateleira a minha frente. – Sabe, é engraçado. Quando vejo vocês dois... Assim, é como se eu soubesse... Como se eu tivesse certeza de que não acabou, de que esse não foi o final. Acho que o final pertence a vocês dois e só vocês podem escreve-los. – ele disse e eu fiquei um tempo parada, quase me esquecendo de que eu precisava respirar.

- Está lendo muito romances.- eu apenas disse e ele sorriu.

- Pode ser. Mas de qualquer forma, você sabe que eu estou certo. - ele disse e eu dei de ombros, fingindo que aquilo não importava. – Mel. – John chamou, me puxando gentilmente pelo braço forçando-me a encará-lo. – Gabriel é um cabeça dura, você precisa entender que isso é novo pra ele. Gabe só ficava e ficava com um bando de garotas. Nunca manteve um compromisso, não porque ele é um safado como dizem, mas porque ele nunca achou a pessoa certa.

- Está dizendo que a pessoa certa... Sou eu. – eu disse e ri forçadamente.

- É, eu estou. E sei que eu dizendo isso não provoca nenhum efeito em você. Sei que se Gabe te dissesse isso, agora você estaria com um sorriso bobo. – John sorriu e me soltou. – Só estou pedindo que você não deixe isso passar tão rápido. Não deixe acabar assim.

- O que quer que eu faça? – perguntei e ele deu de ombros.

- Não sei. Essa é a sua história. Não posso escrevê-la. – ele riu. – Tenho que ir agora. – John disse antes de me dar um beijo na bochecha e sair. Fiquei parada tentando entender o que havia acontecido ali. John tinha me dado conselhos amorosos?

- Little? – Sale me chamou e eu virei para encará-lo. – Vamos? – ele chamou e eu assenti indo até ele, mas girei nos calcanhares e voltei. Peguei o segundo livro que John tinha me indicado e corri de volta para Sale. Agarrei meu braço ao dele e sorri.

- Vamos. – disse por fim, dando uma última olhada no título do livro.

“O melhor de mim.”