Mel

O som da sirene ecoou dentro da cabana e eu peguei minhas coisas e saí. Ellie e Zoey estavam chegando quando eu estava saindo e pediram que eu esperasse elas pegarem suas coisas. Depois que fizeram, andamos para o estacionamento. A maioria dos alunos já estava lá. Zoey entrou no mesmo ônibus que eu, e Ellie foi para o ônibus D. Sentei na cadeira da janela e Zoey sentou-se ao meu lado.

- Como foi na festa? – perguntei e Zoey sorriu.

- Foi bom. Conversei com Samuel. Não na festa... Nós saímos.

- Vocês ficaram? – eu perguntei e ela riu.

- Não. Ainda não. – ela deu de ombros. Eu ri e olhei para o corredor do ônibus, vendo Sale se aproximar. Suspirei.

- Oi. Er... A gente devia conversar. – ele disse me olhando. Encarei-o fingindo que ele não tinha falado comigo.

- Ah, claro. Pode falar com a Zoey. – eu disse levantando da cadeira. – Senta aí. – eu falei e sentei em outra cadeira, ao lado de um garoto do primeiro ano. Coloquei os fones no ouvido e fechei os olhos, recostando a cabeça.

Eu não queria falar com ele. Não agora. Sale não podia ter feito isso comigo. Essa droga de noite na cabana, me fez ficar vulnerável. Me fez... Gostar ainda mais de Gabe. Droga. Eu não queria ficar brava com Sale. Eu precisava dele. Apertei os olhos e olhei para o lado. Sale já tinha engatado uma conversa no mínimo interessante com Zoey, suspirei .

Era melhor eu ficar sozinha. Eu pensei enquanto olhava pela janela e sentia uma lágrima quente escorrer do canto do meu olho.

Gabriel

O ônibus já estava em movimento. Coloquei os fones no ouvido e recostei a cabeça no assento. Meus olhos correndo pela paisagem através da janela. Como se fosse necessário absorver cada detalhe daquele lugar. Na verdade eu não estava absorvendo coisa alguma. Eu nem estava olhando realmente. Minha cabeça estava fora. Flutuando por um lugar qualquer. A magia tinha acabado e agora eu estava voltando pra casa. Pra realidade. Sem ela. Eu sei que vou sobreviver e no final posso até rir de todo esse drama que eu e Mel estamos fazendo. No final a gente possa até ser... Amigos. Como ela propôs. Sei lá. Tudo que eu queria agora era paz, e tudo que eu tinha era incertezas. Talvez, quem, possa ser, um dia... Certeza de alguma coisa? Zero. Mas, quem tem não é? Quem? Mel?Não. A Mel. Desceu do ônibus B que vinha a frente do meu ônibus. Absorto nesses meus pensamentos incertos, não percebi que tínhamos entrado na cidade e que agora passávamos em frente à casa dela. O ônibus parou e ela desceu. Acenou para alguém com um sorriso fraco e depois voltou a andar para casa. Os ombros encolhidos como se ela fizesse algum esforço pra não estar ali. Pra ser o menor possível. Encolhi-me também. Eu não estava conseguindo suportar a ideia de que eu a fazia sofrer. Não era isso que eu queria. Mas esse sentimento ruim só cresceu quando os ônibus voltaram a andar e a imagem de Mel sumiu na varanda de sua casa. Como se eu nunca mais fosse vê-la. Como se eu devesse descer desse ônibus nesse exato momento, abraça-la e dizer que eu... Eu sou um idiota e que vamos ficar juntos. Eu devia fazer isso, não é? Talvez. Talvez se eu estivesse numa comédia romântica. Talvez eu tropeçasse e falasse alguma coisa engraçada. Mas é a realidade. Minha realidade. Eu não sou o mocinho bonito e corajoso. Eu, sou só... Eu. Gabriel Johnson, agora o medroso e covarde.