Gabriel

- E ai dude? – John berrou quando eu passei pela quadra. Acenei e continuei a andar em direção a sala de aula. Coloquei a mochila na carteira e me virei para sair da sala, dando de cara com Lucie. Desviei dela e andei para fora da sala.

- Espera Gabe, espera um pouco. – ela veio correndo atrás de mim.

- Não me chama de Gabe. – eu disse entredentes.

- Só ela pode? – Lucie perguntou e eu revirei os olhos. – Desculpa. A gente pode conversar? – ela pediu e eu dei as costas e saí andando. – Por favor, Gabe. Deixa eu explicar porque fiz aquilo. Por favor. – ela pediu me puxando. Encarei-a meneando o corpo. – Por favor.

- Fala logo então. – eu falei e ela sorriu, me puxando pela mão. Andamos até a quadra dos fundos da escola e nos sentamos na arquibancada. – E então? – perguntei encarando a quadra vazia sob nós.

- Desculpa. Eu não devia ter contado tudo assim. Deveria ter te dado a chance de se explicar a Amélia. Eu sinto muito. – ela começou eu bufei. – Eu... Fiquei com inveja... Da Mel. – ela disse entredentes. Encarei-a com as sobrancelhas arqueadas. – Você... Você viu a Mel e... Você não gostava dela. – ela hesitou. – Mas, depois que você a conheceu... Você gostou. Se apaixonou por ela. – ela disse e eu permaneci calado. – Era uma aposta Gabe. Você só precisava beijá-la. Se apaixonar não estava nos planos. – ela disse e eu a encarei.

- Não, não estava.

- Então se apaixonou mesmo? – ela perguntou.

- Isso não é da sua conta Lucie. – eu disse e ela sorriu.

- Enfim... Queria que isso acontecesse comigo. Mas é o contrário. As pessoas gostam de mim quando me veem, mas quando me conhecem se afastam. – ela disse e por um segundo. Um mísero segundo eu senti pena dela. Ela olhou pra frente e sorriu de repente. – Só queria que não fizesse essa desfeita. – ela riu. – Aceita seu premio? – ela pediu e eu balancei a cabeça.

- Você é louca, Lucie. – eu disse e ela sorriu. Virei-me para encará-la e ela riu antes de segurar meu rosto entre as mãos e me beijar.

Os lábios gélidos moviam-se rápidos demais sobre os meus.

- Lucie, por favor. – eu reclamei empurrando-a gentilmente. Virei o rosto e senti meu coração saltar no peito ao ver Mel sacudir a cabeça em negação ao passar com Sale ao lado da quadra. – Droga. – eu levantei passando as mãos nos cabelos. Lucie riu e eu a encarei. – Você a viu ali não foi? Não dá mesmo pra confiar em você. – eu berrei descendo as escadas da arquibancada. Olhei ao redor e não vi mais Mel. Droga. Eu preciso dar um jeito nisso.

Mel

- Para com isso. – Sale falou ao me deixar em minha sala. – Você também me beijou.

- É diferente, e foi você quem me beijou. – eu dei de ombros e ele riu.

- E você bem que gostou. – ele disse e eu ri.

- Não seja indiscreto.

- Agora é sério. – ele riu antes de continuar. – Você não pode ficar com raiva dele. E se ele começou a gostar de você depois que te conheceu direito?

- Está do lado dele agora?  - eu quase gritei e ele riu.

- Pare com isso. – ele disse e deu-me um beijo na testa. – Me pareceu que ela o beijou, então não tem porque você ficar com ciúmes. – ele disse e eu bufei.

- Não se pode ter ciúmes do que não se tem. – eu disse antes de entrar na sala. Sentei em uma carteira e apoiei a cabeça na mesa enquanto olhava pela janela da sala.

Gabe havia beijado ela? Se ele beijou não é da minha conta. Ele tem que ganhar o premio afinal. Eu sacudi a cabeça antes de vê-lo passar em frente a janela. Ele encarou-me e eu virei o rosto. É, acabou mesmo. Se é que um dia começou.

*************

“Antes de ir embora, me encontre no vestiário masculino pra eu ir com você. Xoxo, Sale.”

Li a mensagem quando já estava perto do portão da saída da escola. Girei nos calcanhares e andei em direção ao vestiário. Parei na porta e depois sacudi a cabeça e entrei.

- Sale? – chamei olhando ao redor. – Sale? – chamei de novo. Sem resposta. Bufei e me virei para sair, batendo-me em alguém. – Ai, me desculpa. – eu disse segurando em seus braços. Sorri antes de olhar para o rosto, e sentir meu coração começar a pular como se estivesse em uma escola de samba. – Gabe.

- Oi. – ele sussurrou e eu sacudi a cabeça, tentando me desviar dele. Ele me puxou pelo braço. - Vamos conversar? – ele pediu unindo a sobrancelha e eu puxei o braço.

- Não. Me deixa em paz Gabriel. – eu disse antes de me virar pra sair. Ele me puxou novamente e me empurrou contra a parede, colocando os braços apoiados na parede, um em cada lado no meu corpo impedindo-me de sair.

- A gente vai conversar. – ele disse encostando o corpo mais perto do meu. Senti minha respiração ficar ofegante e uma vontade imensamente grande de beijá-lo começou a me consumir. – Só me escuta. – ele pediu e eu encarei seus olhos ocres. Aqueles olhos ocres. Eu devia escutá-lo?