Promessas escrita por Lorena L


Capítulo 1
Capítulo 1 - One shot




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/332058/chapter/1

Era final da guerra. Gaia havia sido enfim derrotada. A terra estava a salvo.

Mas, ainda assim, Annabeth continuava terrivelmente aflita.

Ela e Percy haviam enfim escapado do tártaro e fechado as portas da morte. Mas ela não havia visto o feito. Estava ocupada demais lutando desesperadamente contra Palas, o gigante que sua mãe havia derrotado uma vez. Fora uma tarefa difícil, mas a garota conseguiu. Ela o havia mandado mais uma vez (Com a ajuda de Atena) para o mundo inferior. Ele estava destroçado, seus milhares de pedaços e seu sangue imortal, estavam misturados ao vento. Gaia também fora destruída, mas isso já era outra história.

E Annabeth, apesar de baqueadíssima, extenuada e sentindo uma terrível dor no ombro esquerdo por causa da batalha, sabia que estava faltando alguma coisa. Alguém.

Percy.

O cenário, bem, era o comum de uma guerra. Havia sangue dourado por toda a extensão do território, o chão, que uma vez fora abundante em pastos verdes e colheitas férteis, estava queimado, e como tudo ali, destruído.

A paisagem de uma cidade grega ao horizonte não parecia dar esperanças maiores a Annabeth. Os mortais por serem... Mortais, não poderiam de forma alguma enxergar ou simplesmente entender o que havia acontecido. Seus cérebros iriam raciocinar alguma coisa para assimilar os terríveis danos que “a guerra” proporcionara àqueles vastos campos que um dia foram verdes. 

Mas ainda assim. Isso não mudava nada. Piper fora quase morta, mas conseguira detonar boa parte dos exércitos de Gaia.  Leo incendiara os inimigos sobreviventes, Jason, Frank e Hazel lideraram as tropas contra Gaia. Estava feito. Eles venceram.

Mas Annabeth não sabia onde Percy estava. E seu coração estava tão acelerado que era como se a guerra ainda não houvesse terminado.  Ela não podia perdê-lo. Depois de oito longos meses, ela o achara, e não deixaria que ele escapasse outra vez.

Foi quando viu um chumaço de cabelos louros carregando alguém nos braços. Parecia apagado. Seus cabelos negros estavam chamuscados, os olhos levemente abertos, e uma ferida que saia do peito direito manchara as mãos do garoto que o segurava. E só então Annabeth se tocou. Só então seu cérebro assimilou os fatos.

Seu Percy estava morrendo.

Não.

Ela correu na direção de Jason, que o carregava, e viu em seus olhos uma preocupação nunca vista antes. Percy e Jason nunca se gostaram, mas acabaram se tornando amigos e tiveram de se aliar para derrotar a deusa terra. E ali estava diante dos olhos de Annabeth, Roma segurando a Grécia nos braços, desfalecida e tão sensível quanto um beija-flor em seu leito de morte.

Annabeth não sabia se conseguiria pronunciar alguma palavra. Seu coração se apavorou, e se envergonhou desse sentimento. Jason olhou em seus olhos e entendeu sua aflição.

- O levarei até a base. É mais seguro.

Um belo lugar para morrer, pensou Annabeth.

- Há bastante ambrosia por lá. Ainda há esperanças.

“Ainda há esperanças. Ainda há esperanças. Ainda há esperanças”. Annabeth se agarrou desesperadamente à palavra. Ainda havia esperanças.

Xx----------xX

Duas horas. Três horas. Quatro horas se passaram desde seu encontro com Jason e Percy. Eles foram mesmo até a base, e Annabeth os seguiu. Acharam melhor que ela ficasse esperando ele acordar – se acordasse – para poder vê-lo. Piper e Frank cuidariam dele e ela deveria engolir a angustia e orgulho e esperar.

A “Base” não tinha absolutamente nada de especial. Era apenas uma tenda de dez metros quadrados, um pedaço de pano branco enorme que fora pendurado entre quatro hastes de madeira. As sobras do tecido foram pregadas no chão. Eles não tinham banco algum, então Annabeth teve de sentar-se no chão. Piper deu-lhe de beber um pouco de néctar, e ela se sentiu melhor. O rasgo em seu ombro simplesmente desapareceu. Mas a verdadeira dor estava em seu coração. E para isso, não seria uma comida ou bebida dos deuses que curaria.

Annabeth não tinha muitas instruções do que fazer em momentos como aquele. Cruzou os dedos no colo, e observou o único pedaço maldito de pano que a separava de Percy. Um pedaço de pano dentro de outro pedaço de pano. Ela poderia ter bolado algo melhor. Ela queria rasgar tudo aquilo. Acabar com a tensão. Queria acreditar que tudo aquilo era um pesadelo. Por alguns instantes, ela conseguiu.

Mas sabia que na verdade, não era.

Hazel estava ao seu lado, abraçando os próprios joelhos. Parecia tensa. Jason estava de pé, jogando sua moeda e transformando-a em espada, e depois jogando-a de novo, e transformando-a em moeda. Aquilo tudo estava começando a se tornar mesmo um pesadelo.

Leo havia feito uma fogueira, baixa para não colocar a barraca no chão. Pelo menos o pesadelo estava aquecido.

Piper e Frank estavam do outro lado, o mesmo que o de Percy. Eles poderiam cura-lo. Estavam tentando. Annabeth sabia disso. Todos ali gostavam dele. Todos ali sentiriam sua falta.

Uma lagrima silenciosa brotou de um dos olhos de Annabeth. Uma lagrima de ódio. De rancor. De desespero. Aquela lagrima se transformou em duas, e depois em três. O choro era inevitável. Ela não queria chorar. Ela não podia chorar.

Ela precisava ser forte.

Hazel percebeu o choro de Annabeth.

- Está tudo bem?

- Além do fato de que meu namorado está morrendo, está tudo bem, obrigada.

Ouve um breve momento de silencio.

- Hey. Ele vai ficar bem, ok? Até onde eu sei, ele conseguiu escapar da morte diversas vezes. Ele vai escapar de novo.

Era verdade. Na guerra contra Cronos, ele quase morreu muitas vezes. Desde que ela o conhecera, presenciara momentos da vida dele que passaram por um fio. Mas hoje era diferente. Ele nunca se machucou de forma tão grave. E Annabeth sabia disso melhor do que ninguém.

- Tem razão – Mentiu – Estou bem.

Hazel deu-lhe um sorriso tímido.

Mais alguns minutos que mais pareceram uma eternidade se passaram. Ela sentia-se moderadamente aquecida por fora, mas seu coração continuava gelado.

A palavra “esperança” não largava seus ouvidos, e a voz de Jason lhe dizendo que ainda haviam esperanças assombrava a sua mente. Ter algo a que se agarrar, nem que fosse uma promessa desfalecida, naquele momento era essencial. A palavra promessa a cobria de rancor. Talvez porque Percy havia prometido que nunca mais a abandonaria. E ele estava prestes a deixa-la, para sempre. Era um pensamento egoísta, mas era verdade. Mesmo sem querer admitir, Annabeth precisava de Percy.  

Precisar sempre é bem diferente de ter.

- Annabeth?

Era Piper. Ela havia aberto uma pequena fresta no pedaço de cortina que separava o pequeno cômodo de pano. Piper parecia exausta. Apesar das feridas fechadas, o cansaço e a preocupação lhe eram estampados nos olhos.

- Annabeth, acho que é melhor você vir aqui. Agora.

Não pestanejou. Em um único pulo, ela se levantou, e entrou do outro lado da base.

A tensão foi quebrada.

Diferente da outra metade da base, naquela parte havia duas cadeiras cheias de ambrosia e néctar e uma maca branca. Pelo visto improvisada. O mais importante.

Percy estava deitado nela.

E estava acordado.

Piper vestia sua usual jeans e camiseta, e Frank estava sujo com sangue. Por alguma razão, em seus olhos, Annabeth viu certa melancolia e... Compaixão.

Aquilo não era bom.

- Talvez... Seja melhor deixar vocês dois sozinhos. Voltaremos em dez minutos. – A voz de Piper soou nos ouvidos de Annabeth, mas ela não podia enxergar nada. Seus olhos estavam assolados de lagrimas.

Ouviu passos deixarem seu lado da base. Ela e Percy estavam sozinhos. Se aproximou lentamente do leito dele, puxou um acento para perto, retirou a comida dos deuses e se sentou.

Percy abriu seus olhos, e a íris verde despertou um novo sentimento em Annabeth.

- Oi Annabeth – murmurou.

- Oi cabeça-de-algas.

Ela segurou sua mão.

- Está se sentindo melhor?

Ele não respondeu. Parecia muito fraco. A ferida não estava mais aberta, mas Annabeth podia ver a expressão de dor no rosto de seu namorado.

- Percy...

- Sabia que você fica uma gracinha quando preocupada?

Um soluço acabou se transformando em um sorriso tímido, e as lágrimas rolavam do rosto de Annabeth.

- Você nunca vai deixar de ser assim, né Percy?

- Você sabe que nunca vou mudar. – Ele tossiu. Estava perdendo as forças. Sua expressão voltou a ser séria – Piper... Ela tentou de tudo – uma pausa – Mas meu coração...

- Não continue. Por favor.

- Annabeth...

Ela sabia. Sabia que seu coração não aguentaria. Sabia que seu namorado e melhor amigo estava morrendo.

Sabia que ela nunca mais seria a mesma.

Ouve um momento de silêncio total. Nenhum dos dois falou. O único som audível era o crepitar da fogueira do outro lado da cortina de pano. Percy continuou segurando a mão de Annabeth, sua respiração pesada. Ela já não mais chorava.

Annabeth sabia: Havia uma chance muito pequena de Percy sobreviver. Piper tentara convencer o seu coração a continuar batendo, a seu corpo continuar funcionando. Se fosse funcionar, ainda levaria um pouco de tempo. E talvez ele não aguentasse.

- Annabeth... Chegue mais perto.

Annabeth aproximou seu rosto dele, e colocou uma mecha rebelde atrás da orelha.

- O que foi?

Todos os seus pensamentos se esvaziaram da mente, por um momento, quando ele a beijou. Foi rápido demais para ela.

 Outra lágrima desceu de seu rosto e caiu na camiseta suada de Percy. Aquilo não podia estar acontecendo.

- Você me disse que ficaria comigo, cabeça-de-algas.

- Cabeça-de-algas. – Ele murmurou, fraquejando. – Eu sempre gostei desse apelido.

Annabeth segurou sua mão outra vez. Estava esfriando sobre seus dedos, tão leve e sensível quanto uma folha perdida de seu ramo na primavera. Olhou nos olhos dele. Estavam vazios.

Encostou os lábios em sua testa.

Fria.

Ela soluçou freneticamente e lhe deu mais um beijo.

- Você prometeu, Percy. Você prometeu.

Ela não pode aguentar. Seus soluços tornaram-se mais frequentes. Seus lábios tremiam desesperadamente, e em seus olhos, haviam apenas lagrimas, não mais silenciosas. Ela não se importava com o fato de que seus colegas poderiam estar ouvindo-a. Não se importava que estivesse enroscada nos braços de um cadáver. Ela só se importava com uma coisa.

Seu Percy estava morto.

A realidade bateu em sua porta como em um estrondo e seus soluços tornaram-se mais desesperados. Aquilo não podia estar acontecendo.

Ela lhe deu vários beijos, e a cada toque de lábio para lábio, seu corpo ficava mais frio. A cada toque de dedo para dedo, sua alma sentia mais separada da alma de seu amado. Ela levantou a cabeça de Percy com os dedos e acariciou seu cabelo sem vida. E o abraçou.

Ela poderia ter ficado assim para sempre. Ela nunca mais o deixaria escapar de seus braços. Minutos se passaram, e se transformaram em horas, e poderiam ter sido dias. Mas o tempo passou como segundos, e em momento algum, o desespero abandonou os ombros de Annabeth. Tudo o que ela desejava era tê-lo de volta. Era que o coração de Percy ouvisse o chamado de Piper, e voltasse a bater. Era que sua alma não tivesse tempo para chegar ao mundo interior, e voltasse ao seu corpo.

Annabeth desejava aquilo com todas as suas forças.

E ela mal pode acreditar quando algum raio de calor correu por seu corpo. Em seus braços, algo tornava a se mover. Algo como uma flor, mostrando suas pétalas pela primeira vez, desabrochando e lançando fios de esperanças por todo o mundo.

Seu desejo fora ouvido pelos deuses.

O coração de Percy ouvira a voz de Piper. Ouvira os chamados desesperados de Annabeth, para que voltasse a viver. E ela sentiu que poderia agarrar-se novamente a esperanças.

E duas mãos cheias de vida lhe retribuíram o abraço.

- Eu nunca vou te deixar, sabidinha. Nunca.

Ele conseguiu.

N/A

Espero mesmo que tenham gostado!! Eu, pessoalmente gostei muito de escrever essa fic...

Reviews? >.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!