Pov Peeta

Já faz 4 anos desde o fim da rebelião em Panem, mas as cicatrizes desses tempos ruins ainda estão bem amostra. Muitas vezes tenho que me controlar e concentrar para não deixar que aquelas malditas alucinações me dominem.

Katniss e eu nos acertamos já há algum tempo, eu me mudei para a casa dela na vila dos vitoriosos do distrito 12. Não nos casamos (ainda espero eu), mas já estamos em um relacionamento bem estável e feliz. Sem o Gale, eu me sinto bem mais seguro com ela e parece que ela tem mais certeza do que sente, ou não. É isso o que me assombra.

Hoje tive de acordar mais cedo do que o de costume, já que terei de ir a minha padaria, que construí com muito esforço nesses anos que se passaram. Exclusivamente hoje tive de cuidar de uns problemas com fornecedores da Capital e de outros distritos bem cedo. Assim tendo de sair de casa bem antes de Katniss acordar.

Com a correria de cuidar de papeladas, assinar entregas, preparar massas de pães e outras atividades da padaria, eu só consegui voltar pra casa na hora do almoço. Quando entro em casa, estranho por está tudo tão quieto.

- Katniss? Onde você está amor? – digo deixando minhas chaves e meu casaco em uma mesa próxima a porta.

Escutei um barulho na cozinha e imaginei que a minha querida estaria lá.

Quando entrei na cozinha, encontrei uma Katniss totalmente estressada sentada a mesa. Como eu sei que ela estava estressada? Simples. Ela estava sentada de pernas cruzadas, mexendo compulsivamente o pé, e estava segurando uma faca, com sua ponta na mesa (de mogno) e a girando. Provavelmente já devia ter aberto um buraco de tanto que ela girava.

- O que aconteceu amor? – digo cauteloso.

- O que aconteceu? Queria que você me dissesse isso! – ela diz me encarando.

- Como assim? Do que você está falando?

- Estou falando do fato de eu ter acordado e você não está em casa. – ela diz alterando um pouco o tom de voz.

- Ah! Eu tive de ir um pouco mais cedo para a padaria hoje. – digo me explicando.

- Isso de novo? Todo dia você já sai cedo e agora toda semana sai mais cedo ainda! E ainda tem dias que volta muito tarde! – ela já estava praticamente gritando.

- Amor, não pensa besteira... Eu só estou com alguns problemas na padaria...

- Padaria, padaria, padaria. É só disso que você sabe falar! Se você pudesse, tenho certeza que se casava com a sua preciosa padaria!

Afinal, o que deu nela? Ela está com ciúmes? Pior, ela esta com ciúmes da minha PADARIA?! Como assim?

- Amor...

- Não me chama de amor! Vai saber O QUE você fica fazendo nessa sua padaria, que sai de manhã cedo e só volta de noite! Ou então, COM QUEM você fica lá. – ela já estava com os olhos lacrimejando e já não falava coisa com coisa.

- Katniss... Escuta o que você ta dizendo, isso não tem o menor sentido. Escuta... – comecei a falar, mas fui interrompido.

- Eu não quero te escutar, eu quero que você vá embora daqui. Não quero mais te ver! – ela diz já praticamente chorando. – Mais tarde eu peço para que o Haymitch deixe suas coisas na sua casa. – foi tudo o que ela disse antes de subir as escadas correndo.

Eu estava totalmente sem reação. Não sabia o que pensar, não sabia o que fazer. Katniss simplesmente havia acabado de me expulsar de casa. Não me lembro bem como sai de lá, só sei que quando me dei por mim, eu estava sentado no chão da cozinha da minha padaria. Na hora do almoço sempre costuma ter muita gente, já que Greasy trabalha comigo e serve sua famosa sopa na hora do almoço.

Eu não estava com a menor cabeça para o trabalho. Eu não conseguia entender como Katniss pode ter mudado tão rapidamente. Ontem a noite mesmo estava tudo bem, ela não comentou nada sobre isso. Mas eu tenho que admitir que ela estava certa em um ponto. Eu tenho trabalhado muito na padaria e não tenho passado muito tempo com ela.

Mas isso não é justificativa para ela me colocar para fora de casa e dizer que não quer mais me ver. Se bem que pelo jeito que ela falou... Até parecia que ela estava pensando que eu a estava traindo, que estava me encontrando com outra pessoa quando dizia que ia trabalhar. Mas ela deveria saber que eu NUNCA faria isso. Eu a amo mais do que tudo, e tenho a certeza que isso é real.

O resto da minha tarde passou como um flash. Só me lembro de ter atendido algumas pessoas, de ter preparado alguns pães e de até ter queimado parte de uma fornalha.

Assim que fechei a padaria, me despedi de Greasy e dos outros funcionários que trabalham comigo e me encaminhei à vila dos vitoriosos. Mas a verdade é que eu estava me sentindo como o pior dos perdedores.

Já sabia que não havia condições de falar com Katniss hoje. Do jeito que ela estava nervosa na hora do almoço, era capaz daquela faca vim parar em mim ao em vez da mesa de mogno.

Encaminhei-me até a minha casa e me limitei a apreciar a “bela” vista de uma casa vazia e sem vida, com todos os móveis cobertos por lençóis. Parecia até que eu estava cercado de fantasmas.

Comecei a tirar os lençóis dos móveis e a varrer a poeira, iria arrumar só o necessário para passar a noite, amanhã providenciaria alguém para arrumar a casa.

Já estava quase terminando de limpar meu quarto quando a campainha tocou. Enquanto descia a escada pude perceber que já era bem tarde, provavelmente já passava das dez. Eu passei tempo demais arrumando as coisas e acabei nem vendo o temo passar.

Antes de abri a porta eu já suspeitava de quem poderia ser. Provavelmente seria o Haymitch trazendo minhas coisas a pedido/mandado da Katniss. Mas quando eu abro a porta é que me surpreendo. Quem estava na porta não era o Haymitch carregando uma mala com as minhas coisas, e sim Katniss com a cabeça baixa e os olhos um pouco vermelhos, possivelmente por ter andado chorando.

- Katniss? – a surpresa é clara na minha voz.

Sem dizer nada ela levanta a cabeça, me olha rapidamente e logo se joga em cima de mim me abraçando fortemente pela cintura.

- Peeta, me perdoa meu amor! Eu fui uma idiota, eu nunca deveria ter brigado com você. Você é tão bom pra mim, eu não conseguiria viver sem você. – ela diz entre soluços.

- Katniss...

- Me escuta, eu tava sentindo muito a sua falta, e ainda estou. Você tem trabalhado muito e não temos nos visto como antes. A maioria das vezes você chega em casa exausto e tudo o que você quer é dormir. Mal conversamos mais e a maior parte do tempo você está na padaria.

- Eu sei, mas é para...

- Sim, eu sei, é para o nosso bem, é para podermos viver bem. Eu te entendo, eu não sei o que deu em mim... Até chegou a passar pela minha cabeça a hipótese de você... De você está me traindo. – ela termina de dizer e esconde o rosto com vergonha.

- Eu nunca faria isso!

- Eu sei, eu confio em você. Mas a ideia de te perder me assustou.

- Aí você resolve me mandar embora? – pergunto ainda um pouco confuso.

- Eu não sabia o que estava fazendo. Você me perdoa?

- Claro meu amor! – disse unindo nossos lábios e matando as saudades daquela boca que tive medo de nunca mais sentir sob a minha. – Você me ama, real ou não real? – pergunto quando nos separamos.

- Real.

- Isso é tudo o que me importa. Eu te amo minha mulher de fases.