“Quando me lembro dos momentos que passamos juntos, me dá um aperto no coração, sinto muito sua falta, por que foi me deixar assim? Quando éramos crianças, brigávamos, nem sabíamos o que nos tornaríamos.”

‘-Evelyn, para com isso, você é muito irritante e enjoada! Não sabe brincar – grita um menino de 10 anos irritado.

-Mas Yuri, você só me derruba e briga comigo – eu falo chorando.

-Para de ser criança, já tem 10 anos, cresce! – ele retruca mais nervoso – Ninguém aqui gosta de brincar com você. Garota mesquinha, metidinha.  – ele aponta para nossos amiguinhos e eles concordam rindo. Apenas saio correndo os deixando lá. ‘

“Você parecia me odiar, éramos melhores amigos até aquele momento, mas eu não agüentava mais escutar essas coisas de você, me rebaixando na frente dos outros, isso resultaram cinco anos sem nos falarmos. Não tem idéia de como foi difícil para eu ficar longe de você, naquela época, você nunca soube que eu gostava de você mais que qualquer melhor amiga gosta de seu melhor amigo.”

‘-Posso me sentar ao seu lado? – Yuri pergunta.

-Tanto faz. – respondo indiferente, já estava tão acostumada sem ele.

-Me desculpa? Fui um idiota. – ele fala de cabeça baixa, realmente arrependido.

-Demorou cinco anos para perceber isso? – ficamos quase 10min em silêncio.

- Talvez, demorei demais para perceber que está faltando uma parte de mim.

-Promete nunca mais fazer isso? – peço com lágrimas nos olhos.

-Prometo. Nunca mais quero ficar sem você. – e me abraça. ’

“A partir daquele momento, nunca mais nos separamos, éramos como irmãos, mas apareceu Lúcia, e eu queria você cada vez mais e sempre procurava ficar com ela ao invés de mim. Estava me trocando, eu me sentia trocada, me sentia qualquer uma, novamente.”

‘-Yuri, vamos sair? – pergunto com esperança.

-Vou sair com a Lu... – ele responde e saio triste de perto dele. ’

“Foi assim por muito tempo, eu estava triste, foi na mesma época que minha mãe faleceu de câncer, eu estava ficando perdida, meu pai não parava mais em casa, sentia falta de sua atenção, as vezes até pensei que era um estorvo em sua vida. Apenas vinha em minha cabeça ‘suicídio’. E foi em um dia desses que eu estava no banho e fiz vários cortes em meu corpo, não pensei em nada, apenas em morrer, não pensei nas pessoas que sentiriam minha falta, se é que tinha alguém... Aliás, eu tinha 18 anos e não sabia mais o que fazer da minha vida.”

‘Abro meus olhos, estou num lugar branco, “só deve ser o céu” pensei.

Olho para o lado e percebo, ‘não, não é o céu’.

-Oi – falo para Yuri que está ao meu lado.

-Por que fez isso?  - ele me pergunta triste.

-Não tinha mais motivos para viver...

-E seu pai? E seus amigos? E EU!  - ele elevou a voz num tom de desespero – O que faz pensar que não me importo com você? – pergunta triste.

-Eu... – não consegui falar.

-Só não faça mais isso... – se senta ao meu lado – Eu te amo.’

“Foi à primeira vez que me disse o que sentia você havia acabado de terminar com Lúcia por minha causa. Minha vida estava completa a partir daquele momento, claro, tiveram algumas discussões bestas.”

‘-Que mania essa sua de ficar me respondendo! – brigo.

-Por que está comigo se tem tantas manias minhas que odeia? – ele pergunta se aproximando de mim.

-É diferente! – reclamo- se afasta, estou braba. –faço uma careta.

-Mesmo? – ele abre um sorriso safado e põe suas mãos em minha cintura me deixando de frente para ele.

-É! – tento me soltar.

-Nem tenta... – me segura mais forte e fala em meu ouvido – Te amo sabia?

-Não vale. – reclamo, mas de nada adianta. Ele começa a beijar meu pescoço. ’

“Bons tempos aqueles que eu acordava e via você ao meu lado, com o rosto sereno, dormindo, ou quando me acordava com beijos, abraços e carinho. Sua voz calma e maravilhosa. Quando víamos filmes juntos, nos divertíamos, viajávamos. Até que nos casamos, ambos com 25 anos.

Aquela vez que fomos à Paris, a melhor viagem, passamos um mês fora do Brasil, apenas nos divertindo, conhecendo pessoas, fazendo amizades. Voltamos à nossa vida normal, estávamos nos distanciando, nosso casamento já não era mais o mesmo, até que aconteceu.”

‘-Você me traiu! –Yuri grita quando chega em casa. – Foi com ele não foi? Pois bem, já desconfiava... – ele estava triste, devia estar falando de Leandro, meu parceiro de trabalho. Percebo que ele estava bêbado –Depois que começou a trabalhar com ele, você mudou, parece não me amar mais...

-Não! Nunca te traí Yuri! – gritei.

-Ele me falou...

-Acredita nele ou em mim? – pergunto com vontade de chorar – Você está bêbado... Melhor descansar antes de tirar conclusões não acha?

-Acho que acredito nele, do jeito que estamos, é mais fácil acreditar nele... – ele falou enquanto pegava uma mala e juntava suas roupas.

-Não fiz isso, juro! Eu te amo. Você não pode dirigir nessas condições. Fica pelo menos essa noite para conversarmos melhor. – seguro sua mão implorando.

-Me deixa... Precisamos de um tempo... – ele fala baixinho chorando também. – Te amo... – falou e saiu pela porta.’

“Depois de quinze minutos que ele saiu, liguei para seus pais e contei o que aconteceu, eles estavam te esperando na casa deles, pelo fato de já ter ligado para eles e ter avisado. Mas nunca chegou. Recebi uma ligação do hospital avisando que você havia sofrido um sério acidente. Saio desesperada de casa, quando chego, já tinha falecido, meu mundo simplesmente desabou. Nós tínhamos apenas 27 anos, e eu já estava sem você.

Não consigo ir ao seu enterro, entrei em depressão, a falta que sinto é imensa até hoje, o único que amei, seus pais e meu pai me ajudam até hoje a superar. Todo dia acordo pensando em você e esperando estar ao meu lado. Quero que saiba que te perdoo por tudo. Eu aprendi a amar novamente. E hoje amo outro, muito parecido com você. O nome dele é Thiago. Hoje venho aqui pela primeira vez depois de oito anos, no cemitério.”

-Mãe! Vamos? Vou chegar atrasado na aula de natação. – Thiago fala – O que você tanto fala sozinha?

-Estou falando com seu pai, o homem que mais amei, por isso nunca o viu, mas ele sempre está com você, se lembra do que eu disse?

-Sim, ele é meu anjo. – ele sorri – Era bonito?

-Muito... como você. – sorri – Vamos? Vai para o carro que já estou indo. – falo e ele corre para o carro que estava ali perto.

“É seu filho, eu estava grávida de 4 meses, eu iria te contar naquela noite. Eu sei que está muito bem onde se encontra. É nosso anjo, continua sendo meu marido, o homem que mais amei e continuo amando. Amo você.”