Angelus escrita por anna kurara
Angelus
A água fria arrepiava seu corpo, ela fechou os olhos fingindo nada sentir.
Mergulhou.
A primeira coisa que sentiu foi uma onda elétrica invadindo seu corpo e segundos depois acostumou com a situação. Será que a morte era também assim?
O ar faltou, ela subiu, agora foi a vez do vento frio arrepiar sua pele, olhou para os lados e mergulhou novamente. Será que se pudesse morrer duas vezes ela o faria?
Então o gesto de subir pela falta de ar se repetiu. Ouviu um barulho, um galho, um animal ou um ser humano?
Olhou para os lados, não era a primeira vez que desconfiava. Resolveu sair, o banho não tardaria mais como antes, a água saia do seu corpo na forma gotas cristalinas, vestiu o longo vestido amarelo e saiu dali.
O ar quente de sua casa fez seu rosto ruborizar, o cheiro da deliciosa sopa feita após ás seis invadiu suas narinas, fechou os olhos e inspirou o ar mais uma vez, o cérebro agradeceu pelo prazer. Deixou de lado aquilo e foi para seu quarto, o último quarto do terceiro andar. Enquanto subia as escadas da grande sala chamou pelos pais, eles não responderam:
-“Devem ter saído ou devem estar dormindo”- foi o que ela pensou. O corredor escuro amedrontava-lhe, encolheu os ombros, os quadros pendurados nas paredes eram todos de um pintor desconhecido. Elizabeth parou um pouco para olhá-los; No primeiro quadro os rostos eram somente rostos, não havia olhos, bocas ou narizes. O fundo verde-bandeira dava um ar de desespero á pintura. Andou mais um pouco, olhou agora para seu lado direito, este quadro não era tão grande quanto os outros, porém Elisabeth achava- o mais simpático, mostrava um casal fazendo pic-nic embaixo de uma frondosa árvore:
-“Talvez fosse um carvalho”- pensou mais uma vez a pequena, andou, terceiro quadro, Guernica, o pintor era Pablo Picasso. Lembrou que foi na escola onde aprendeu uma história sobre aquele quadro. Diz-se que um alemão nazista chegou á Pablo Picasso e disse-lhe, apontando para o quadro:
-Essa obra é sua?
-Não é de vocês! Respondeu o artista.
Então tornou a andar, dessa vez não se interessou mais pelos quadros, estava cansada queria dormir. Girou a maçaneta, abriu-se a porta. Ligou a lâmpada, sua pele cheirava a cloro, seus cabelos grudentos, seus dedos enrugados...
Punições por passar o dia na piscina. Não quis tomar banho tirou o vestido, colocou o pijama que havia horas antes jogado na poltrona e vestiu-o sem cerimônia, por fim desforrou a cama e deitou-se cobrindo com o próprio forro. A noite não foi das mais tranqüilas, ouviu vozes a chamando, ventos frios soprarem nos seus pés e uma boca gelada encostar na sua.
Menina tranqüila tranqüila,
Nasce morre ,morre ou nasce?
Menina tranqüila tranqüila
Vive vive....
Virou a cabeça para o outro lado:
Vem logo estou te esperando, menina.
Vem logo... -Estendeu as mãos-
Vem... -Sorriu.
Virou a cabeça de novo, o travesseiro encharcado.
Ele sorria os cabelos loiros ao vento, o sorriso branco brilhava. Acordou, pegou seu chinelo e o ursinho rosa, levantou da cama e girou a maçaneta. Correu pelo corredor, passou pelos quadros de novo, quadros assustadores. Agora estava mais escuro que antes, agora estava pior. Resfolegou, o ar faltava, apoiou-senos joelhos, para depois voltar a correr, parou olhou para cima, os dentes trincaram, o sangue pareceu ficar frio como a água da piscina, o coração subiu pela garganta:
-O sorriso... O sorriso. Deitou no chão e gritou. Lágrimas caiam, Elisabeth estava desesperada aquele sonho mexera muito com ela e agora esse outro quadro (maldito) estava apavorando-a.
As luzes acenderam, vozes familiares a chamaram:
-Elisabeth, o que aconteceu?! Era a voz de seu pai.
-Elisabeth! Era a voz de sua mãe.
Ela voltou seu rosto para cima. Eles agarraram seu braço:
-Me solta!
-Elisabeth venha... As vozes tornaram-se lentas.
-Socorro!
-Venha Elisabeth...
-Não! Ela chorava.
-Agora! As mãos agarram-na com mais força, as unhas penetravam em sua carne, os gritos de perto se confundiam com ganidos e de longe com a dor. -Os gritos eram fantasmas de sua alma-:
-Não!
Elisabeth deu uma volta em torno de si mesma, livrando-se das garras e por fim soltou-se e correu, para onde não sabia.
As lágrimas saíram dos olhos agora pode ver sem nenhum tipo de embaço, estava no jardim de sua casa, mas, o jardim não era como ela estava acostumada, a grama cresceu, a madeira das árvores parecia ter ficado mais escura:
-Elisabeth. Sussurrou uma voz. Ela olhou para os lados, não viu ninguém.
-Elisabeth... Sussurrou mais uma vez, porém parecia mais perto. O desespero acomodou-se no corpo dela:
-Elisabeeeth.
-Ahhh - Tampou os olhos, começou a chorar de novo – não por favor!
-Elisabeth...
Elisabeth encheu os pulmões de ar e gritou com toda a sua alma:
-Por favor... Pare! Um vento passou algo aqueceu sua pele, ouviu um pássaro cantar, abriu os olhos, a claridade penetrou:
-Elisabeth. A voz que agora chamava seu nome era macia, ela continuou de olhos fechados:
-Lisa... Uma mão mexeu nos seus cabelos, uma boca beijou suas bochechas:
-Abra os olhos Elisabeth. Ela abriu. Era ele! Ele que penetrava em seus sonhos, ele que soprava seus pés, ele que beijava sua boca, passou a mão por aquele rosto:
-Quem é você?
-Sou seu anjo. A visão escureceu, ela desmaiou. Abriu os olhos, estava em seu quarto devia ser meio dia, o travesseiro molhado:
-C-como vim parar aqui? Balançou a cabeça. –Sonho.
Dez anos depois...
O cheiro do mar penetrava em suas narinas, as gaivotas cantando, os vendedores ambulantes tudo, caros leitores, tudo da praia agradava Elisabeth, o contato de seus pés com a areia quente, o simples e infantil ato de catar conchinhas á orla domar etc.
Acomodou-se embaixo de uma guarda-sol junto aos seus três filho, Lucio, Mauro e Sophie, os dois mais velhos ficaram embaixo de guarda-sol junto á mãe e Sophie foi andar pela orla:
-Não vá muito longe Sophie! Gritava Elisabeth para sua filha mais nova:
-‘Tá bom mamãe!
Cinco minutos... Dez... Quarenta... Uma hora... Onde estava Sophie?
Elisabeth começou a desesperar o coração de mãe não se enganava algo estava acontecendo com sua filha. Levantou-se da cadeira de praia e foi procurar a menina. Olhava para todos os lados não tardou que der repente á alguns metros dali avistou uma roda de pessoas, o coração bombeou mais sangue, não pensou outra coisa.
Ao chegar ao meio da roda percebeu o corpo de uma menininha estendido, o corpo da sua menininha:
-Saiam da frente é minha filha! As lágrimas correram pelo seu rosto. Sophie abriu os olhos:
-Ela deve ter sido puxada para o fundo, a correnteza está muito forte deste lado. Disse alguém.
-Mas, quando eu cheguei -dizia um homem com a blusa escrito “salva- vidas”, Sophie levantou a cabeça para ouvi-lo -... Ela já estava aqui na areia, não sei como se salvou.
-Como assim? Perguntou outro alguém.
-Eu a vi afogando, porém quando corri para salvá-la ela já estava aqui!
As pessoas fizeram um “oh” em conjunto, Sophie levantou, Elisabeth abraçou-a como se nunca mais fosse soltá-la o que não era uma mentira:
-Ele era loiro mamãe. Disse Sophie.
-Eu sei.
FIM
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