Como fui despertada por Marcelo, que olhava intensamente para eu e Pietro e segurava, aparentemente, um copo de whisky, ou qualquer coisa do tipo.

-Oi?

Meus olhos se recusavam a se abrir totalmente mas pelos cantos pude observar o irmão de Pietro.

Eram nada parecidos. No que Pietro era alto, Marcelo era mais ainda. Os cabelos dele eram loiros e estavam perfeitamente arrumados, apesar de serem umas 6:30 da manhã e ele estar voltando de uma festa. Os olhos cinzas profundos e os músculos eram outras das coisas que diferenciavam os irmãos.

-Tudo bom? Você é a...?

Ele falava meio alto, devia ser por causa da bebida. Por eu estar dormindo no sofá da casa dele, com o irmão dele e com um casaco que, depois de olhar melhor, tinha mais o tamanho dele do que de Pietro resolvi perdoa-lo por ter me acordado com a risadinha sarcástica. 

-Alice. Sou Alice. Você deve ser Marcelo, não?

Sonolenta e confusa mas cordial, parabéns Alice, você está quase parecendo a Alice de Wonderland.

-É sim. Prazer então, Alice. Poderia acordar meu irmão?

Concordei com a cabeça e morrendo de pena de Pietro por ser acordado sacudi ele de leve e sussurrei no seu ouvido: "Pietro, seu irmão quer falar com você."

Parecendo cansado Pietro abriu os olhos. Sorriu ao me ver. Estava me puxando para um abraço quando se deu por conta da presença do irmão.

-Bom dia Ali...  Oh, você voltou Marcelo.

-Hunf... Bom dia Pietro, bom dia.

-Ahan. O que você quer?

Não ouvi o resto da conversa, caí no sono com a cabeça no peito de Pietro, novamente, diga-se de passagem.

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Não sei se foram minutos ou até mesmo segundos mas acordei novamente. Pietro me acariciava os cabelos e chamava meu nome de leve.

Abri os olhos e encontrei um Pietro já vestido com outra roupa e aparência acordada.

-Que horas são?

-7:30. Vou te levar pro meu quarto. Cê dorme mais lá. Certo?

-Não. Tá muito tarde. Tenho que ir pra casa.

Pietro revirou os olhos, murmurou alguma coisa sobre eu não estar na minha sanidade mental e me pegou no colo subindo as escadas.

-Eu posso andar Pietro!

Ou achava que podia. Com cara desafiadora Pietro me pôs no chão, quando meu pés tocaram o tapete que cobre a escada eu senti a força se esvaindo por eles.

Pietro rapidamente me pegou no colo de novo. Lá pelo meio do caminho Marcelo apareceu correndo e pulando degraus. Como o irmão ia devagar, ele se irritou.

-Anda Pietro. É uma menina, não uma princesa!

-Cala boca, Marcelo.

Eu estava praticamente dormindo de novo, então só pude ouvir a última frase.

-Fala sério, é igual as outras que você traz aqui!

Como assim outras?

PIETRO POV

-Como assim "outras"? Vai se tratar Marcelo. A mãe vai ficar puta quando souber que você voltou as 6:00 de uma festa. Podre de bêbado drogado.

-Fica quieto Pietro. Larga essa putinha lá no quarto e desce me enfrentar como homem!

Nessa altura eu já estava descendo as escadas pra tapar um soco na cara do filho da mãe do meu irmão. E eu ia fazer mesmo, se Alice não tivesse acordado com a agitação e bocejado baixinho.

-Outra hora Marcelo. E trata a Alice com res-pei-to! Sei que não é normal pra você, mas um pouco de treino não faz mal.

Não esperei resposta, subi depressa até meu quarto e botei Alice  de baixo dos meus cobertores na cama desarrumada.

-Pietro...

-O que foi Alice?

-Fica.

-O que?

-Fica aqui comigo. Por favor.

Não pude resistir. Deitei do lado de Alice, no escuro, por cima das cobertas.

Depois de um tempo de silêncio Alice se dirigiu a mim, com uma voz chorosa.

-Pietro. Quem são as outras?

-Ãh? 

-As outras. Que seu irmão mencionou.

-Alice. Entende. Marcelo só não cheira mais por que precisa enganar minha mãe. Ele vê coisas onde não tem. As vezes minhas amigas vem pra cá e ele acha que eu praticamente transei loucamente com elas a noite inteira. Ele é perturbado.

-Entendo...Suas amigas? Você tem muitas amigas? Elas vem sempre aqui?

Será que Alice estava com... Ciúmes? Ciúmes de que? Poderia muito bem ser da minha casa, do meu cachorro, da pedra que tem no jardim, mas não de mim. De mim não. Somo só amigos, e é assim que Alice quer que continuemos.

-C-como assim?

-As suas amigas Pietro. As outras. Elas vem aqui? Elas dormem aqui? No sofá da sua casa?Vocês jogam banco imobiliário até as 4:00 da manhã? Você carrega elas no colo até seu quarto pela manhã?

Alice parecia a beira das lágrimas.

-Não to te entendendo Alice.

-Não... Claro que não... Nem precisa. Eu já entendi. Como seu irmão disse... Sou só mais uma. Você não gosta de mim né Pietro? Nem como uma amiga especial, muito menos... Muito menos...

Ela adormeceu antes de terminar. Não perdi tempo e a sacudi.

-Muito menos o que Alice?

-Esquece Pietro. Por favor. Me deixa em paz. eu vou pra casa.

POV Alice

O que eu tinha feito? Nem eu mesma sei. Arruinei tudo, talvez essa seja a resposta. Tinha acabo de confessar. Confessar que Pietro mexia comigo, que Pietro me deixava hipnotizada, que os olhos azuis poderiam me prender pra sempre. Mas a minha surpresa não foi ter confessado pra ele, e sim ter confessado isso pra mim. 

Ótimos. Além de não correspondida, humilhada por mim mesma eu ainda estava com ciúmes do que nunca me pertenceu, nem pertencerá.

-Para Alice. Não seja boba. Eu gosto de você. Eu amo Você. É uma ótima amiga. Perfeita.

Amiga... A palavra ecoava pela minha cabeça como se Pietro tivesse gritado ela dentro de uma Igreja.

-Sou só sua amiga...

Adormeci novamente. Pietro não saiu do meu lado. Ainda bem que estava escuro. Não gostaria que ele visse aquelas lágrimas amargas descendo pelo meu rosto e dando a minha boca um novo sabor. Um sabor amargo. Amargo como eu.

    Você não me quer, não Você não precisa de mim Como eu quero você, oh Como eu preciso de você   You (The Pretty Reckless)