Muito bom dia para vocês, humanos medíocres. Aqui estou novamente com uma simples e boba questão: Quem é o melhor?

Melhor tio, claro. Afinal, eu tenho um ciúme absurdo da minha querida sobrinha Athena (Mas é óbvio que ela não sabe disso e nem nunca saberá). Eu e ela já temos uma bela história de combate durante todos esses séculos, então por que demônios aquele peixe fora d’água, vulgo Poseidon, está se metendo onde não deve? E daí que eles disputaram as terras da Ática? Ele perdeu! (Oh, sim. Eu também perdi várias vezes para Athena. Mas vocês já sabem que eu faço de propósito).

— Vejo que continuas falando sozinho, caro irmão.

— Passar anos e anos selado dentro de algum objeto dá nisso. Acredito que você já tenha recitado várias histórias para si mesmo naquela ânfora fedorenta.

Falando no diabo azul, eis que ele surge com aquele tridente horroroso que a meu ver, não passa de algo para demonstrar seu complexo de masculinidade (Se é que me entendem). Minha espada é muito mais bonita do que isso!

— Como ousa dizer que a minha ânfora é fedorenta?! Você vive cercado de cadáveres!

— Falou o deus com cheiro de peixe!

— Melhor do que cheiro de carne podre!

— Poseidon, meu irmãozinho. Acaso esqueces que no meu mundo, o mundo dos mortos, só residem almas? Elas não têm cheiro, os corpos se decompõem dentro da terra. Muito longe de meus domínios. É óbvio que onde eu fico não há nada que suje meu belo corpo ou minha alma. Diferente de você. Sinto cheiro de sal marinho misturado com dejetos de baleia ao longe!

— Mas que ousadia! Você só tem essa carinha linda, mas é tão vil quanto um monstro!

— Oh, eu ouvi bem? Você disse que eu sou lindo! Obrigado, Poseidon. Sempre soube que eu era seu irmão preferido.

— Sarcástico você...

— É a mais pura verdade, eu sou lindo. Meus olhos são mais límpidos do que um belo lago cristalino!

— Se acha pouco... – Balbucia o deus dos mares.

— Disse alguma coisa?

— Não, nada. Mas me diga, Hades. O que o faz pensar que és o preferido de Athena? Ela tem outros tios, como eu. E tias, claro...

— Ah, que ingênuo da sua parte. Nunca percebeu que temos uma tensão (não sexual) intensa entre nós?

— “Tensão intensa” Olha o que a criatura diz para parecer puro...

— Eu sou puro, você não. Onde já se viu, violentar a pobre da Medusa dentro do templo de Athena? Você se saiu tão safado quanto Zeus.

— Não me compare com aquele mulherengo! Ele é pior do que todos nós. Em muitos aspectos.

— Tem razão... Até fingir ser mulher para seduzir outra ele já fingiu.

— Sem falar na zoofilia descarada...

— Ah, mas disso nem você sai impune!

— Como assim?

— Quem fez a mulher de Minos sentir desejos por um touro? Você, meu caro peixinho.

— Eu estava me vingando daquele seu juiz mentiroso! Prometeu-me um belo touro e deu um qualquer em sacrifício! E eu não sou um peixe!

— Tão nervoso você...

— Pelo menos eu não sou tão fresco a ponto de esconder meu corpo verdadeiro a mil chaves e possuir o corpo de um rapaz com cara de garota e que tenha o coração e a alma mais puros de sua época. Aff... Francamente, Hades! Quanta frescura!

— E quem foi que encarnou em uma garota morta? Ah! Devo lembrar que você foi enganado, duas vezes, por caras que diziam ser o Dragão Marinho? Afinal, esse seu subordinado sempre dá problemas. Devias ter um controle total sobre seus servos.

— Desculpe se eu não tenho dois deuses gêmeos que fazem tudo por mim! Eles devem até limpar o seu traseiro!

— É bom ser paparicado, sabia?

— Então admites!

— Não admiti nada. Apenas disse que é bom receber mimos de vez em quando. Tenho uma mulher linda e maravilhosa, filhos lindos, um belo cachorro de três cabeças e vassalos leais.

— Mas eu não tive que sequestrar uma sobrinha e obrigá-la a casar-se comigo.

— Eu não obriguei ninguém. Ela comeu a romã e deu no que deu. E mais! Sua querida Anfítrite te odiava tanto a ponto de esconder-se nos confins do mares!

— ...

— Ha! Eu ganhei!

— Ganhou o que?

— A discussão, eu sou melhor marido do que você.

— Sabe, acho que desde aquele dia em que dividimos os reinos... Você criou algum complexo muito assustador.

— Quer dizer o dia em que Zeus trapaceou descaradamente e ficou com os céus, você com os mares e eu com o mundo dos mortos. Sendo eu o mais velho e que por direito tinha condições de reinar no Olimpo? Ah, claro que não. Deixe de bobagens.

— Como eu disse... Assustador. Mas, esquecendo isso. Tenho certeza de que Athena prefere muito mais a mim do que a você.

— Com quais argumentos você acredita nisso?

— Bem... O Julian era e ainda é apaixonado pela Saori Kido, então...

— Seu safado!

— O que eu fiz?!

— Você quer corromper a minha menina! Não deixarei!

— Estais louco?!

— Não, você quem está!

— Eu?!

— Mas que gritaria é essa?! – O motivo da nossa discussão finalmente se faz presente.

— Athena! – Dissemos os dois.

— Tios, o que está havendo? Por que estão brigando?

— Athena, quem é o melhor? Eu ou ele?

— Mas o que...?!

Nem sequer demos tempo para a jovem respirar ou entender o que acontecia, fomos direto sufocá-la com perguntas.

— Athena, eu sei que sou o melhor! Você já pediu minha ajuda para derrotá-lo!

— E você estava encarnado numa mulher.

— Calado Hades!

— Não calo! Athena, não se esqueça de que eu já nasci seu irmão uma vez. Não jogue fora todo o passado que tivemos juntos!

— Quem está sendo o safado agora, hein?!

— Cale-se Poseidon!

— Calem-se os dois! – Ela grita. – Por que estão a brigar como duas crianças?! Estão piores do que Ares. Por favor, tenham dó!

Ah, ser comparado com aquele pavio curto eu não suporto. Acalmo-me e deixo a deusa falar.

— Estão mesmo discutindo sobre quem eu amo mais...?

— Como tio, claro. – Completa Poseidon.

— A resposta é simples: Nenhum.

— Nenhum?! – Indagamos os dois.

— Vocês me dão tanto trabalho com seus planos apocalípticos, me prendem em pilares e vasos e acham que eu tenho alguma consideração com vocês?! Francamente... Quando aprenderem a deixar meus humanos em paz, quem sabe.

E assim ela se vai. E novamente... Ela... Prefere... Vocês...

— Cansei, vou dormir...

— Vai voltar para a ânfora fedida?

Poseidon se vai para o seu aquário particular, não antes, claro, de revirar os olhos para mim. E eu permaneço aqui, refletindo. Ou melhor, planejando.

Humanos, sinto muito. Mas a Guerra Santa será adiantada desta vez.