Estou sonhando ou a Nessie está a ponto de me beijar? Ela está tão... próxima. Posso sentir seu hálito quente, sua respiração acelerada... tudo tão perto. Um centímetro, dois no máximo. Boom. A magia acaba. Ela se afasta bruscamente e entra em disparada pela casa. Será que fiz algo errado? Droga.

Entro logo em seguida, correndo também. Meu primeiro impulso é correr até o seu quarto, mas Nessie não foi para lá. Sinto o cheiro suave de seu perfume vindo da sala do segundo andar, vou até lá pulando dois degraus.

Quase volto para trás ao ver a família toda na sala, o cheiro é quase insuportável. Entretanto, Carlisle olha na minha direção. Ótimo, queria sair sem ser notado. Pelo seu olhar percebo que algo importante aconteceu. Hesito, mas não saio da sala, até dou alguns passos à frente.

– Sam foi encontrado. – ele diz finalmente, em alto e bom som.

Minhas pernas vacilam e eu desequilibro. Nessie vem ao meu lado e segura minha mão.

A sala está num silêncio total, sem nenhum ruído, nem mesmo som de respiração. Estou chocado demais para falar, ninguém diz nada, todos esperam uma reação minha, mas não tenho nenhuma.

– C-como? – decido perguntar depois de alguns minutos.

– Isso é um mistério. – responde Carlisle. – Sam simplesmente apareceu na porta da casa de Emily. Ele estava com alguns ferimentos e desmaiado.

– Mas ele está bem, já acordou? – pergunto hesitante.

– Sim. – responde ele com os olhos apertados. É impressão minha ou ele está com um pouco de dúvida?

Olho para Bella. Ela está mordendo o lábio inferior, costuma fazer isso quando está nervosa. Ou quando algo está atormentando-a.

– Carlisle, o que houve com Sam? – pergunto com os dentes cerrados.

Todos trocam olhares tensos, o que me deixa ainda mais nervoso. Não gosto quando escondem algo de mim. Sinto meu sangue ferver e minha respiração ficar acelerada. Nessie aperta meu braço, mas é mais forte que eu. Se eu não me acalmar, em apenas alguns minutos me transformarei aqui mesmo, na sala dos Cullen. Isso não seria nada agradável.

– Jake, calma. – sussurra Nessie. Ela está com medo de mim?

Fecho os olhos e respiro fundo. O lobo dentro de mim vai se acalmando lentamente, mas o suficiente.

– Desculpe. – murmuro.

– Tudo bem. – sorri Esmee. – Carlisle irá te contar tudo.

Esmee olha para o marido e sorri, encorajando-o a contar a verdade. Carlisle suspira e muda de posição.

– Sam não se lembra do que aconteceu, nem mesmo de que sumiu por dias. – começa ele calmamente. – Quando ele apareceu naquele estado, Emily me chamou imediatamente. Logo quando estava terminando de examiná-lo, ele acordou meio atordoado, sentia fortes dores na cabeça. Dei um analgésico e perguntei como ele estava se sentindo. Sam respondeu que estava bem, mas não entendia minha presença, pois ele só estava com ressaca depois da festa de Nessie.

Carlisle parou, como se esperasse uma pergunta minha. Eu ainda estava processando toda aquela informação.

– Ou seja, ele não se lembra de nada, Jacob. Apenas até a festa de Nessie. É como se alguém tivesse entrado na sua mente. – Carlisle parecia assustado com as próprias palavras e não o culpo, como é possível tirar as memórias de uma pessoa?

– Isso é possível? – pergunto com a voz rouca.

– Sinceramente, eu não sei. – admite ele. – Depois que sai de lá, pedi para Emily o deixar descansar e contar do ocorrido somente quando ele estiver descansado e sem dor de cabeça. Ele precisa estar totalmente bem para saber o que houve com si mesmo.

– Definitivamente foi um vampiro! – grito. – Desculpe.

– Tudo bem, Jake.- diz Bella com um sorriso fraco. – Nós o entendemos e concordamos.

– Foram eles? – pergunto com os dentes cerrados.

– Não, não foram os Volturi. – responde Edward.

– Como você pode ter certeza? – pergunto fazendo várias pausas. É quase impossível controlar a vontade de me transformar.

– Eu sempre estou atenta às decisões de Aro, Caius e Marcus. – explica Alice.

– Mas e os outros?

– Eu não consigo ver. – lamenta ela.

Desabo no sofá mais próximo a mim, mas não deixo que Nessie solte a minha mão. Preciso dela num momento tão... catastrófico como esse. Ela se senta ao meu lado e passa seu sobre meu ombro.

– Vai ficar tudo bem. – ela sussurra.

Fecho os olhos e conto até dez. Respiro fundo. Não posso me transformar agora, eu tenho que me controlar.

Minha cabeça começa a ficar confusa. Várias possibilidades passam por ela. A primeira coisa que me ocorre a fazer é visitar Sam, mas como não é possível no momento, fico desolado. Até que me lembro dos outros lobos, sem um líder no momento. Preciso conversar com ambos e explicar a situação. Parece que mesmo tendo desistido de ser alpha, essa obrigação nunca me deixará livre.

– Eu preciso ir. – levanto e percebo todos me olhando. – Falar com os outros lobos, não Sam.

– Eu sinto muito, Jacob. – diz Carlisle quando estou prestes a me virar.

– Ele não recuperará a memória, não é? – pergunto relutante.

– Quando se perde parcialmente a memória, as chances de voltar são significativas. Mas, quando se trata da interrupção de um vampiro, eu realmente não sei. Na verdade, acredito que é praticamente impossível.

Não digo nada, nem mesmo um sinal de cabeça. Vou o mais rápido que consigo em direção à saída. Não uso minha moto e tão pouco me preocupo com as minhas roupas. Quando dou uma olhada para trás, vejo Renesmee na varanda ofegante, lágrimas escorrem pelo seu rosto e sinto um enorme aperto no coração, mas não volto. Tenho que cumprir meu dever de lobo, eles precisam de mim.

Estou no piloto automático, vou em direção a La Push sem menos olhar se alguém me viu. Estou chocado com o que aconteceu com Sam. E chateada por fazer Nessie chorar.

A vontade de despejar a verdade toda para ela está ficando incontrolável. Ainda não falei porque Bella não me perdoaria.

“Estamos no segundo Natal ao lado de Renesmee. Ela está correndo pela sala com as primas, feliz com a companhia delas. Não consigo parar de sorrir. Bella senta ao meu lado e se apoia no meu braço direito.

– Ela está linda. – sussurra Bella sorrindo.

Sorrio de volta.

– Jake, preciso te pedir uma coisa. – começa ela.

– O que? – pergunto hesitante, encarando-a.

Bella não responde logo em seguida, ela olha para Nessie por um longo tempo e depois suspira.

– Promete que só contará para Nessie sobre... o imprinting quando ela realmente gostar de você?

Abro a boca para falar, mas logo desisto. Isso é um pedido difícil para mim.

– Por quê? – pergunto engolindo em seco.

– Ela te ama e não aguentará de ver sofrer, ela ficará confusa e se sentir obrigada a amar você daquele jeito...

– Mas, ela vai amar. Um dia, mas vai. – interrompo.

– Jake, escuta – Bella se vira para ficar de frente à mim. – Eu sei disso. Mas, tem que ser naturalmente. Nessie tem que te amar independente do imprinting. Não quero forçá-la a nada e sei que você também não. Por favor, espere. Pode demorar, mas o amor dela será seu.

Olho para Nessie, seu sorriso, seu corpo frágil. Ela acena para mim e logo volta para a brincadeira. Depois, olho para Bella, parece ser forte e segura de si, mas sei que as coisas não funcionam assim.

– Eu prometo, Bella. – murmuro.”

Abro os olhos e quase trombo em uma árvore. Paro bruscamente antes que vou além do meu destino. Essa lembrança martela em minha cabeça e me pergunto por quanto tempo poderei manter minha promessa.