Relato Sobre A Morte Henry Still escrita por Henry41


Capítulo 1
Capítulo único




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O vento bate forte em minha cara, trazendo consigo um aroma característico de bolo recém-saído do forno, toda minha infância passa pela minha cabeça, esse cheiro me faz recordar das manhãs na casa de minha avó. Tudo ao meu redor parece claro demais para eu conseguir enxergar, ando, mas tudo é tão igual que parece que eu estou no mesmo lugar.

Eu sou apenas mais uma daqueles que morreram pelo ideal, morri para tentar construir um novo mundo, um mundo o qual não cheguei a conhecer. Pode ser que minha morte nem ao menos seja lembrada quando outros forem contar essa historia, porém eu estive lá, lutei, chorei, e acima de tudo defendi aquilo que acreditava.

Eu tinha apenas quinze anos, era uma noite normal, mas por algum motivo não conseguia dormir, há muito já estava na cama, meus olhos ainda assim abertos, olhando para o relógio digital em meio ao escuro total do quarto, era a única coisa que dava para se ver, os minutos passando lentamente, pequenos traços vermelhos em meio às trevas, marcava exatamente 23:59, foi então que decidi fechar os olhos.

Nunca imaginei que uma piscadela pudesse marcar o inicio de uma revolução, a música invadia meus ouvidos, fazendo com que eu me levantasse da cama, uma multidão de pessoas já invadia as ruas, foi então que aconteceu, a senhora da justiça havia caído, mas todos sabiam que já não era mais ela que ditava o que era certo e errado dentro do país.

O cheiro de pólvora invadia minhas narinas, havia um show de fogos ao fundo, mas o que havia mesmo chamado minha atenção foi a imagem de um homem, estava em cima de um dos prédios, roupas pretas, e uma mascara, olhando atentamente para o que estava acontecendo, sua mascara tinha um sorriso sarcástico, quem ele era? Porque usava aquela máscara? Nos poucos segundos em que me perdi nesses pensamentos ele tinha sumido, e foi ali que pensei que não teria qualquer chance de responder aquelas perguntas. Eu estava terrivelmente errado.

Estava eu mais uma vez perdido na minha rotina diária, os acontecimentos da madrugada passada ainda mexiam com a minha cabeça, não havia falado nada para ninguém sobre o mascarado, de qualquer forma eles não acreditariam.

Era fim de tarde, estavam todos na frente da TV assistindo o jornal das 5 horas, eles estavam falando que o que tinha acontecido era algo que havia sido planejado pelo governo, claro que já tinha percebido que era mentira, eu sabia de alguma forma que aquele mascarado estava envolvido com o acontecido.

Eu não estava enganado, a programação da televisão tinha parado, tudo estava preto, foi então que o mascarado apareceu, lá estava ele novamente, com aquele sorriso que desta vez parecia um de deboche, ele se autodenominava V, e disse:

"Boa Noite, Londres. Permitam que eu primeiramente desculpe-me por esta interrupção. Eu, como muitos de vocês, gosto de parar para apreciar os confortos da rotina diária, a segurança, a família, a tranquilidade. Eu aprecio-os tanto quanto todo mundo. Mas no espírito de comemoração, daqueles eventos importantes do passado associados geralmente com a morte de alguém ou ao fim de algum esforço sangrento terrível, uma celebração de um feriado agradável, eu pensei que nós poderíamos marcar este 5 novembro, um dia que não é recordado, fazendo uso de algum tempo fora de nossas vidas diárias para sentar e ter um bom bate-papo. Há naturalmente aqueles que não querem que eu fale. Eu suspeito que agora mesmo, estão dando ordens aos telefones, e os homens com armas estarão aqui logo. Por que? Porque mesmo que a violência possa ser usada no lugar da conversação, as palavras reterão sempre seu poder. As palavras oferecem os meios ao povo, e para aqueles que escutarão, o anúncio da verdade. E a verdade é que há algo terrivelmente errado com este país, não há? Crueldade e injustiça, intolerância e depressão. E onde uma vez você teve a liberdade a objetar, pensar, e falar, você tem agora os censores e os sistemas de escutas que exigem seu conformidade e que solicitam sua submissão. Como isto aconteceu? Quem é responsável? Certamente há aqueles mais responsáveis do que outros, e serão repreendidos, mas a verdade seja dita outra vez, se você estiver procurando o culpado, você necessita olhar somente em um espelho. Eu sei porque você o fez. Eu sei que você estava receoso. Quem não estaria? Guerra, terror, doença. O medo começou melhor de você, e em seu pânico você girou para o agora alto-chanceler, Adam Sutler. Prometeu-lhe a ordem, prometeu-lhe a paz, e tudo que exijiu no retorno era seu consentimento silencioso, obediente.

Na última noite eu procurei terminar esse silêncio. Na última noite eu destruí o Old Bailey, para lembrar este país do que ele se esqueceu. Há mais de quatrocentos anos um grande cidadão desejou encaixar para sempre o 5 de novembro em nossa memória. Sua esperança era lembrar o mundo que a justiça e a liberdade são mais do que palavras, são perspectivas. Assim se você não visse nada, se os crimes deste governo permanecessem desconhecidos a você então eu sugeriria a você que passe o 5 de novembro em branco. Mas se você ver o que eu vi, se você sentir como eu me sinto, e se você procurar como eu procuro, então eu peço-lhe para estar ao meu lado em um ano, fora das portas do Parlamento, e juntos, nós daremos a todos um 5 de novembro inesquecível!”

Foi naquele momento que eu percebi que eu tinha encontrado uma ideia pela qual valia a pena morrer, as palavras do homem que se dizia V entravam na minha cabeça e acordava um sentimento que sempre esteve lá, uma fé na humanidade, comecei a acreditar que juntos poderíamos lutar.

O tempo passou, e a situação só piorava, dava pra se perceber que o governo estava preocupado, fazia alguns meses desde o pronunciamento de V, e o circo estava cada vez ficando menor, o governo começava a temer o povo, porém o governo tentava, com medidas opressoras, deter isso que estava acontecendo, mas o fato é que a partir do momento que o povo descobriu que eles podiam lutar contra o governo, ninguém iria conseguir para-los.

Foi em um dia chuvoso que eu morri, estava na rua, depois do toque de recolher, com a mascara, um tiro me atingiu, não sei de onde veio, morri antes de descobrir que foi aquele que ceifou minha vida, mas admito que valeu, valeu cada minuto, eu morri por algo que eu acreditava, apesar de ter deixado minha família, amigos e amores para trás, essa foi minha atitude mais corajosa, eu não fiz isso para mim, e sim para cada uma daquelas pessoas que acreditavam que um dia tudo ia melhorar, fiz pela minha família, por meus amigo e por todos aqueles os quais eu poderia ter vivido um grande amor.


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