Conto: A Estrela escrita por nothing


Capítulo 1
Conto: A Estrela


Notas iniciais do capítulo

O conto é uma obra de ficção que cria um universo de seres e acontecimentos, de fantasia ou imaginação. Como todos os textos de ficção, o conto apresenta um narrador, personagens, ponto de vista e enredo.
Classicamente, diz-se que o conto se define pela sua pequena extensão. Mais curto que a novela ou o romance, o conto tem uma estrutura fechada, desenvolve uma história e tem apenas um clímax. Num romance, a trama desdobra-se em conflitos secundários, o que não acontece com o conto. O conto é conciso.



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Conto: A estrela


Hoje acordei com o céu nublado, não naquele tom de cinza que julgaria normal, um tom verde, algo como a cor de um musgo. As nuvens estavam pesadas, pareciam pedras no céu, prestes a cair. Levantei de minha cama e fui em direção ao espelho do banheiro, havia algo diferente em mim. Meus cabelos não estavam mais no tom loiro como os raios do sol que estava acostumada a ver, muito do contrário, estavam negros como a noite. Minha pele que antes costumava parecer ter sido abençoada pelos céus, agora estava roxa como a de um defunto. Porém o pior estava em meus olhos, o azul celeste que antes podia ser visto tinha sido substituído por um amarelo queimado e sem vida. “O que houve comigo” pensei naquele momento. Eu parecia mais um manequim de funerária do que uma pessoa com vida.

Comecei a pensar no que poderia ter acontecido comigo, o que poderia ter causado tudo aquilo, não soube explicar. A última coisa que me recordava era de ter olhado as estrelas durante a noite e… SIM! A estrela cadente que eu vi passar, aquela a quem eu pedi a felicidade. Mas, que felicidade é essa? É isso estrela? Isso que me destes? Deveria ter ido dormir mais cedo ao invés de pedir algo a uma estrela estúpida, olhe para mim agora, pareço alguém que já morreu há séculos.

Nesse exato momento aparece um ponto de luz em meu quarto, algo parecido com uma estrela, porém sua forma ia se alongando através dos segundos, até que atingiu a minha altura. A moça a minha frente tinha exatamente a mesma aparência que eu a uma noite atrás:

–Quem é você? O que faz aqui? Porque se parece comigo? – perguntei assustada.

A moça se quer abriu sua boca, porém suas respostas atingiram minha mente. “Eu vim lhe salvar Sophia, vim lhe mostrar a verdade que você nunca quis ver. Eu sou… sua estrela!”:

–Sério? Não, na boa, você só pode estar brincando comigo, estrela? – falei já com uma faca na mão.

“Acalme-se. Você não precisa ter medo e não precisa falar também. Apenas pense e sinta”.

Esta foi à última coisa que ela me disse antes de mudarmos para outro cenário. Uma casa de campo, velha e desgastada. Dentro dela estavam duas menininhas loiras de olhos azuis, elas brincavam ao redor de uma árvore de natal extremamente bem decorada. “Essa cena é tão bonita não é?” Eu apenas acenei com a cabeça, sentia que conhecia aquelas meninas, porém não me lembrava de onde. Então de repente nós duas entramos na casa. “Elas não podem nos ver, estamos apenas observando”. Estranhei tudo aquilo, porém eu não tinha alternativa além de continuar.

Então prosseguirmos até um quarto rosa, com uma cama de casal. A decoração era linda, cheia de flores e borboletas, tudo lindo e perfeito. Ficamos paradas, até que as meninas entram no quarto já de pijama, ambos rosa e decorados com ursinhos e deitam na cama. Passam-se quase vinte minutos, até que uma nuvem negra invade o quarto, um homem encapuzado puxa uma das meninas pelo cabelo, retira todo o seu pijama e a joga de um lado para o outro. Aquilo começa a me doer por dentro, ele está transtornado e começa a violentar a menina sexualmente. Sua irmã nada pode fazer além de chorar e continuar escondida em baixo da cama, lugar onde estava desde o início da cena. Ela vê sua Irma sofrendo, chorando, mais implorando para que não saia da cama. Sua Irma começa a sangrar, ela já se afoga nas lágrimas, mais o homem não para. Sua pele começa a ficar roxa, seus olhos vão aos poucos perdendo o brilho e aos poucos a sua respiração vai parando. Porém antes de soltar o último suspiro ela olha pra irmã e sorri. Logo em seguida a menina fecha os olhos e morre nas mãos daquele homem.

Eu já não podia conter minhas lágrimas, apenas gritava aquela menina ao meu lado para que me tirasse dali e assim ela fez. Então aparecemos num parque de diversões, eu sentei em um banco enquanto as lágrimas insistiam em cair pelos meus olhos:

–VOCÊ NÃO TINHA ESSE DIREITO! AQUILO É COISA MINHA, ELA ERA MINHA IRMÃ! - gritei aos prantos á garota.

–Eu sei – ela disse calmamente.

–VOCÊ TEM IDEIA HÁ QUANTOS ANOS EU TENTO ESQUECER DAQUELA NOITE?MAIS DE VINTE ANOS, MAIS DE VINTE ANOS. EU SAÍ DE CASA, FUI PRA UM ORFANATO, ME AFASTEI DE TUDO PRA ESQUECER E ENTÃO VOCÊ APARECE E FAZ ISSO? VOCÊ NÃO TINHA ESSE DIREITO! – continuei gritando perdendo toda a compostura.

–Sophia, eu sei o que você passou, sei o quanto fugiu. Eu sempre estive com você, vi seu sofrimento, suas inúmeras tentativas de superação. Vi você morrer naquele dia e passar o resto de seus dias morta. Vi o quanto você desejou também ter morrido naquela noite. Vi sua fúria quando percebeu que aquele era seu vizinho. Vi sua decepção quando ele não foi preso. Eu vi tudo. Vi quando saiu de casa e foi para o orfanato, vi você e a falta de preocupação de seus pais diante daquela situação. Vi você sair do orfanato, se formar na faculdade. Vi você comprar sua cabana e viver lá durante oito anos. Eu vi seu sofrimento com as memórias do natal de quando você tinha três anos, ver a morte de sua irmã te mudou. E eu vejo você agora com vinte e seis anos ainda chorando, se lamentando por não ter me salvo. Sou eu Sophia, Elena, sua irmã. Eu venho te acompanhando desde aquele dia minha irmã, vendo sua dor. Quando você pediu aos céus a felicidade eu tive de vir, precisava te dizer que nada disso foi sua culpa. Irmã, não se culpe, eu quis que você vivesse, sabe eu estou melhor assim, correndo o céu todas as noites como uma estrela, isso me faz feliz, porém eu quero te ver feliz. Eu te perdoo, mas irmã, você tem de seguir em frente. Pare de se isolar, siga o seu mundo, as pessoas a sua volta sentem sua falta. Papai, mamãe e até mesmo a nossa gata Buttercoop. Irmã vá ser feliz, vá viver.

As lágrimas rolavam mais do que nunca agora, porém ela continuou:

–Sua aparência irmã, essa é a sua aparência por dentro. Essa é você por dentro, um cadáver. Irmã eu não posso lhe ver assim, você está viva. Então sinta o vento, volte ao trabalho que ama e viva!

Então ela se aproxima de mim e me abraça, fazendo com que voltemos ao meu quarto. Por último ela faz um coração com as folhas na janela, deixando ali a sua mensagem. E tudo aquilo me fez refletir, o que eu estava fazendo? Eu nem vivia mais. Precisa voltar ao mundo, à vida, por ela, por Elena.

Dias depois voltei ao meu apartamento no centro da cidade, voltei ao meu trabalho, procurei meus pais, que por sinal ficaram muito felizes a me ver e enfim, voltei a viver. Mais sabe, é engraçado como tive que ver minha irmã morta mais viva do que eu para eu voltar a viver. Talvez a culpa estivesse me matando e o perdão, vindo de mim mesmo, talvez aquilo tenha feito com que eu voltasse à vida, não só na aparência, visto que meus cabelos, olhos e pele voltaram ao normal, mais internamente. Sabe às vezes estamos apenas vivos, porém não vivendo. Simplesmente respirar, cumprir os deveres, isso não é viver. E, tantas pessoas morrem nos dias de hoje e ás vezes nós que estamos vivos damos tão pouco valor a nossa vida. Então pare, pense, será que hoje você está vivendo ou está apenas vivo?


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Notas finais do capítulo

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