Conto: Para Todo e Sempre

As gotas de chuva caiam constantemente, porém o céu estava mais claro do que nunca. Talvez aquele não fosse o cenário ideal, mais foi o que a garota sempre quis. Ela decide sair de seu quarto e ir até a beira do lago que estava admirando. Está atônita com a beleza do local, extremamente distraída, até que uma voz lhe dirige a palavra:

–Você está especialmente linda hoje, parece uma princesa.

A menina reconhece a voz rapidamente, se vira e encontra a sua frente um jovem de aproximadamente vinte e poucos anos, cabelos negros como a noite, pele branca e olhos tão azuis quanto o céu que está acima deles. Ele traja uma roupa de cavalgada e a observa sem parar:

–O que você veio fazer aqui? – pergunta ela séria e em um tom rígido.

O garoto sorri e se aproxima dela, retira uma caixinha de veludo do bolso, ela está um pouco desgastada, provavelmente pelo tempo, porém continua extremamente bela:

–Vim lhe entregar um presente e lhe desejar felic… – o jovem para um instante e olha para cima, constatando que a chuva ainda não havia parado, mais logo em seguida volta seu olhar para a garota – felicidades, muitas felicidades.

A garota fica sem reação, apenas segurando a caixinha que ele havia depositado delicadamente em suas mãos. Ela veste um vestido longo e branco, cheio de detalhes, tem o longo cabelo loiro preso em um conjunto de tranças complexo e em uma presilha de diamantes. A pele dela está corada e seus olhos verdes demonstram certo receio:

–Sabe, esse rapaz, ele tem sorte. Espero que ele lhe trate bem, lhe faça feliz e. Sinto muito por tudo. Desculpe.

O garoto então deposita um beijo na testa da menina e logo em seguida faz um assovio, chamando para perto dele um cavalo branco, muito bem tratado. Ele está caminhando em direção ao cavalo, porém volta à menina e diz sussurrando em seu ouvido:

–Para Todo e Sempre!

Ele então sobe no cavalo e vai galopando em direção ao horizonte, sumindo pouco a pouco da visão da garota. Ela então se volta para o lago, senta-se na grama e abre a caixinha. Dentro dela existe um bilhete, ela o abre e começa a lê-lo:

Sei que cometi muitos erros nessa vida,

Mas perder você foi o maior deles. Perdoe-me.

Conhecê-la foi a melhor coisa que me aconteceu

Nunca irei esquecê-la.

Espero de coração que sejas feliz

De nós dois lembre-se apenas dos bons momentos

Os que vivemos na beira deste lago por questão

Obrigado por sua companhia

Para todo e Sempre

Henrique

A essa altura as lágrimas já rolavam no rosto da menina, pois aquele foi o jovem por qual ela fora apaixonada durante toda a sua vida. Eles cresceram juntos, ele era um serviçal de sua casa. Os dois engataram um romance de anos, que terminou quando o garoto passou a noite com uma de suas primas. A menina não sabia mais ele havia sido dopado e se quer se recordava disso. Diante de todo o ocorrido a garota acabou ficando noiva de Dom Ivan, acabando de vez com a esperança de romance. Ele até propôs a fuga, porém a moça lhe guardava o resentimento. Apesar de tudo, todas as noites ele depositava na janela da moça uma linda tulipa vermelha com um bilhete escrito “Para Todo e Sempre”, palavras que ambos usavam como jura de seu amor. Aquele, portanto era o dia de seu casamento, o dia em que iria se unir matrimonialmente a Dom Ivan. Ele fora até o lago onde se encontravam todas as noites, o lago que ficava a certa distância da casa, com uma fraca esperança de ainda fugir com ela. A moça, porém não demonstrou nenhuma reação, então ele decidiu deixá-la ser feliz.

Depois de ler o bilhete a moça voltou a olhar a caixinha, onde se encontrava um pequeno medalhão, aqueles bem antigos, com uma escrita atrás “Para Todo e Sempre”. A menina então colocou o medalhão, guardou o bilhete na caixinha e a mesma em um fecho de seu vestido e partiu para o casamento.

Os dois nunca mais voltaram a se encontrar, porém lembraram um do outro para o resto de suas vidas. Ele passou a vida cavalgando livre com a memória do rosto dela e ela, casou-se e teve dois filhos. Ela nunca tirou o medalhão que havia ganhado do pescoço e guardou até o último dia de suas vidas o bilhete que ganhara. Eles nunca descobriram a armação da prima da moça, não casaram e morreram separados, porém guardaram na memória todos os momentos que viveram, fazendo com que dessa forma, seu amor vive-se para sempre.