- Inoue, esta tudo bem? – Perguntou Ichigo em pé a encarando. – Não ouviu o sinal?

- Ah  ah?! Ah sim, estou bem Kurosaki-kun. Pode deixar, só tenho uns assuntos para resolver na biblioteca. – Não queria dizer que estava em detenção. Não podia contar isso aos demais.

- Ok, então ate amanha. – Disse lhe dando as costas.

Inoue ficou sozinha na classe e abraçou o próprio corpo para passar o frio. Sentia-se sozinha e não sabia por quê. Percorreu a sala com um olhar triste. Não era possível que fosse Ulquiorra lhe evitando que tenha a deixado assim.

Seu coração bateu apertando. Queria que as coisas voltassem a ser como eram. Levantou-se pesadamente e encaminhou-se ate o local da detenção. Será que ele estaria lá? Provavelmente tenha fugido e deixado todo o trabalho para ela. Era esse o tipo de coisa bem capaz dele fazer.

Caminhou sozinha pelos corredores escutando seus passos solitários. Era assim sua vida. Vivia sozinha. Mesmo rodeada pelos colegas, toda relação era muito formal. Tinha que manter a compostura. Como estão suas notas Inoue? Sentiu-se enjoada.

Abriu a porta do deposito de livros e sentiu seus olhos encherem-se de lagrimas. Tinha a esperança, lá no fundo do coração que veria o amigo ali. Caçoando de sua lerdeza como sempre. Mas presente.

Suspirou e largo sua mochila no canto. Com movimentos um pouco robóticos, sentia a tristeza tomando conta. Soltou os longos cabelos laranja. Estavam sempre presos em um penteado perfeitamente comportado. Como era esperado. Tirou o casaco e começou a separar os livros por categoria. Era uma infinidade de trabalho. Mas pelo menos iria deixa-la entretida.

Achou que aquela hostilidade irônica de Ulquiorra era a forma dele dizer que eram amigos, pois afinal, não falava com mais ninguém.

Inoue largou o livro pesado que segurava  e sentou-se em meio a eles. Fizera praticamente um “forte” de livros sem perceber. Como era idiota, xingou-se mentalmente. Por pensar que eram amigos. O que sabia dele? Onde morava? O que gostava de comer? Como era sua família?

Grossas lágrimas escorriam por seu rosto triste. Ninguém podia ver nem ouvir a perfeita Inoue ali, então iria chorar o quanto quisesse. Uma voz masculina ecoou no aposento a deixando paralisada.

- Ate o jeito que você chora é idiota sabia? O que você é? Um filhote de cachorro ou coisa parecida? – A acidez de Ulquiorra interrompeu as lagrimas da garota. Mas ao contrario do que pensou que sentiria ao ouvi-lo novamente caçoar dela, não ficou aliviada, sentiu uma raiva crescendo dentro dela. Que não sabia bem o que era e pra quem era.

- Não sou idiota! – Disse da sua fortaleza de livros. Ulquiorra teve que sorrir com a cena, só podia ver o cocuruto laranja de sua cabeça. Aproximou-se e viu os grandes olhos cinzas, agora vermelhos de chorar, lhe espiando. Mas logo se escondeu.

Enfiou as mãos no bolso para não fazer uma besteira.

- Pois é o que esta parecendo. Porque esta chorando garota?

- Porque quer saber? Garanto que você tem muito mais coisas pra fazer do que ouvir uma sem graça como eu.

- É verdade. Tenho mesmo. Mas sabe que ando com insônia ultimamente, talvez se você começar a falar eu finalmente consiga dormir de novo.

Isso era demais!  Porque mesmo sentia falta daquele imbecil? Orihime levantou-se vermelha de raiva.

- Eu tenho muita graça ta?! – Gritou desajeitada. Não tinha experiência nenhuma com conflitos. Muito menos com discussões. Mas aquele dia tinha saído todo fora do normal. Então estava pelas favas com qualquer coisa. Até com ele. A causa do seu choro, a dor em seu coração.

- Por quê? – Perguntou o moreno sem emoção chegando perto do muro de livros que ela criou.

- Porque... por que.. eu eu ... Eu sei contar muitas piadas e também olho programas de humor para me manter atualizada! Alem de sempre tropeçar e cair por ai, é sem querer mas todos parecem achar graça e não me julgam mal. Eu.. eu... eu sei fazer algumas caretas e gosto de musicas boas.  – Desabafou contando nos dedos.

- E um dia eu vou ser uma escritora de livros conhecida no mundo todo! E vou sempre criar um personagem que será você Ulquiorra! Que vai ser o vilão! O Dragão! O Morcego! O malvado das trevas!

- E você vai ser a princesa? – Perguntou sorrindo e atravessando a proteção de livros. Mesmo com as mãos no bolso apenas levantou as pernas sobre o “muro”. Inoue notou como ele era alto e como estava perto. Deu um passo para traz.

- S..sim. vou ser uma princesa sim! – Disse parecendo duvidar de suas próprias palavras.

- Pois eu ainda acho você sem graça e jamais será uma escritora famosa. – Encerrou mal contendo o sorriso. Inoue encheu os olhos de lagrimas novamente, não era possível o quanto era rude.

- Eu te odeio Ulquiorra! – Disse cerrando os punhos na frente do seu peito e sacudindo a cabeça negativamente. O garoto segurou seus pulsos fazendo como que ela olhasse diretamente para seus olhos verdes.

- Você não vai ser uma escritora famosa se continuar achando que é uma princesa. – Disse meio sádico. – Porque, Inoue Orihime, você é a garota mais imprevisível que eu já conheci. Princesas são como todos esperam. Mulheres sem personalidade esperando o príncipe encantado.

Inoue sentiu o rosto esquentar com suas palavras e a proximidade do seu rosto. Podia sentir seu cheiro, nunca tinha reparado em como era bom. Segurava seus pulsos com firmeza e ao mesmo tempo era quente e gentil.

- E se eu sou um morcego vilão e você uma princesa. Com vamos poder ficar juntos? – sussurrou roucamente chegando perto de sua orelha. A garota sentiu todo seu corpo arrepiar - Esperar o príncipe encantado te deixa sem graça Inoue.

De repente desvencilhou-se das mãos de Ulquiorra e o empurrou para longe. Parecia lívida de raiva.

- PARE! Eu sei o que você esta fazendo! Pare de brincar com meus sentimentos! Você gosta de brincar comigo Ulquiorra! Eu disse ontem, eu sou apenas uma diversão para você! – E novamente as lagrimas marejavam seus olhos. Porque pensar nisso era tão dolorido? Porque machucava tanto?

- De repente estamos correndo de mãos dadas, depois você grita para todos que sou uma sem graça e agora esta dizendo que não quer que eu seja uma princesa porque quer ficar comigo?

- Eu te odeio Ulquiorra! – Afirmou de novo, começando a jogar alguns livros nele. Isso já era demais! Porque ele brincava com seus sentimentos dessa forma? O garoto encolheu-se de dor quando um livro particularmente pesado acertou em cheio sua testa. Logo sua têmpora começou a sangrar e ele avançou ferozmente para cima da garota que ficou assustada. Achou que ele iria lhe dar uma surra. Inoue recuou mas não foi rápida o suficiente, Ulquiorra segurou seu pulso e puxou sua cintura colando-a em seu corpo. Ia começar a gritar porem se esqueceu do por que. Pois o moreno sorriu e lhe beijou. Com os olhos arregalados de surpresa, Inoue debateu-se tentando livrar seu pulso dos dedos longos de Ulquiorra mas sua cintura também estava muito bem envolvida prensada contra o corpo dele.

Parou de se debater quando ele abriu os olhos também. Não interrompeu o beijo, apenas ficou a encarando tão penetrante que foi como se estivesse lhe hipnotizando. Logo Inoue desejou jamais interromper aquele momento. Era seu primeiro beijo. E não tinha nada do que era esperado de uma garota bem comportada como ela.

Sentiu a força no punho diminuir, não tentou fugir mais, apenas a descansou no peito largo do garoto que abraçou ainda mais forte.

Voltou a fechar os olhos junto com ele, apenas sentindo seus lábios. Queria ficar assim pra sempre com Ulquiorra. Mas como nada com ele era como o esperado, logo Inoue começou a gritar, pois este a levantou pela cintura e a carregou no ar ate uma pilha de livros mais elevada e sentou a garota lá.

Como se fosse um passe de magica, isso a silenciou completamente, ficou sentadinha com os olhos enormes fitando os próprios joelhos, muito corada e claramente contente.

- Eu não consigo te entender... – Disse simplesmente.

- Eu me divirto com você. – Disse o garoto fazendo com que a ruiva voltasse seu olhar para ele perplexa. Seria possível que aquele beijo fosse apenas brincadeira dele?

- Eu me divirto com você, e apenas com você. Quando diz que não espero nada de você eu... Perco a cabeça. – Disse desviando o olhar e novamente enfiando as mãos no bolso.

- O ... que... o que você espera de mim? – Perguntou tímida com tudo aquilo.

Mesmo com a cabeça virada para o lado, virou os orbes verdes para encara-la. Sem muita emoção no tom de voz continuou.

- Eu espero seu sorriso. O de verdade, não aquele que você da para todo mundo. O meu sorriso. – Ulquiorra disse desviando novamente o olhar.

E dessa vez foi ela que o surpreendeu, sentiu a força nas pernas lhe falharem quando Inoue pulou em seu pescoço, perderam o equilíbrio e caíram em meio a livros velhos. Inoue o beijava delicadamente.

Estava frio, o lugar estava uma bagunça e não estavam nem perto de começar o trabalho da detenção. Mas nada disso passou na cabeça deles naquele momento.

Inoue encarou Ulquiorra com muito carinho. Pela primeira vez viu seu olhar retribuído e ele ficar meio sem jeito.

- Ah, Inoue, eu não sou exatamente o cara que faz as coisas da forma que deve ser mas... Com você eu... quero dizer... sei la, eu quero ser algo mais então acho que tenho que te chamar pra sair certo?

Esperava ate um não como resposta, mas o que veio o surpreendeu. Sentiu as lagrimas de Inoue caindo em seu rosto.

- Nossa você detesta tanto assim a ideia de sair comigo? – Disse irônico.

Sentaram-se enquanto Orihime chorava copiosamente, esfregando os olhos como uma criança.

- Não seu idiota, eu estou feliz...

- Você chora como um filhote de cachorro sabe? – Disse sorrindo e bagunçando seus cabelos. – Você fica linda de cabelo solto. Porque não os usa assim?

- Você quer? – Disse entre soluços.

- Só para mim. Será como um símbolo de que você esta comigo. – E deu um beijinho rápido nos seus lábios. Levantou-se estendeu a mão para ela. Que segurou firme e sorrindo.

- Aonde você vai me levar? – Perguntou sorridente.

- Agora? Para casa.

- Nãooo seu bobo. No nosso encontro!

- Ahhh isso... É surpresa. – Disse virando o rosto e puxando-a junto, que chorou mais um pouco.

Estava muito feliz.