Inoue Orihime estava na frente da diretora Kuchiki, que olhava para ela com decepção.

“Leve decepção.” Pensou Inoue, não conseguindo conter um sorriso.

Viu os olhos severos da amiga passarem rapidamente pelos seus, com ar de graça.

– Então... Orihime Inoue. Definitivamente não esperava ver você aqui enquanto dirijo esta escola. – Disse sem conseguir conter um igual sorriso no canto do lábio, que não passou desapercebido pelo moreno pálido sentado ao lado de Inoue.

– Mas você, Schiffer-kun, novamente por aqui. Nós já não conversamos muito não? Será que você vai continuar com essa vida inútil e levar a nossa brilhante Orihime junto?

– Cale-se. – Disse Ulquiorra, seus olhos verdes faiscaram tão profundamente que Kuchiki chegou a recostar-se no acento de sua cadeira.

Ele sorriu maliciosamente, não se preocupava em esconder sua satisfação, nem sua ironia. Ao contrario de Inoue, que ainda tentava manter a compostura.

– Que impertinente! Detenção é claro! Vai ficar uma semana após a aula para arrumar nossa sessão de relíquias da biblioteca Ulquiorra-kun! – Esbravejou Rukia recompondo-se.

– Ótimo. – Respondeu imediatamente.

– Saia da minha frente! – Disse começando a se irritar. – Vão para a aula de vocês e não quero ouvir mais nada.

Inoue soltou a barra da saia colegial que apertava tentando segurar o riso, e levantou-se pronta para começar a gargalhar quando saíssem da sala da diretora. Mas Ulquiorra, que a seguia, parou abruptamente.

– Imagino que a detenção se estende a Orihime também. – Falou com um sopro na voz, lembrando muito alguém que esta segurando a risada. Estava com as mãos no bolso e o olhar impassível, não parecia sentir absolutamente nada.

Rukia encarou Inoue no mesmo instante. Não tinha se dado conta, estava irritada com os modos dele para perceber que sentenciou uma detenção em que sua querida e pura amiga teria que ficar em um aposento afastado de todos, apenas com o detestável Ulquiorra.

Seu queixo caiu ao encarar a garota que não pensou absolutamente nada em comum com a diretora. Estava apreensiva, será que seria a primeira detenção da sua vida? Sentia-se extremamente rebelde.

– Sim. – Proferiu Rukia derrotada. Aquilo a irritara ainda mais. Iria perder a compostura e chutar a cara daquele bastardo naquele instante!

– Ótimo. – Disse novamente, e dessa vez, com um leve contração no lábio. Lá estava o sorriso impertinente.

Inoue, totalmente chocada, saiu marchando como um robô da sala.

Quando fechou a porta atrás de si Ulquiorra fitou a colega e, apesar de prestar muita atenção nela (mais do que seria adequado para apenas colegas), se surpreendeu novamente com seu jeito. Seus enormes olhos acinzentados estavam brilhando de emoção, lagrimas começaram a se formar juntamente com risadas, quebrando o silencio do corredor.

– Calada! Ainda estamos na porta da diretoria! – Pediu o garoto apreensivo, e vendo que a ruiva não conseguia se controlar, pegou sua mão e correu com ela corredor a fora. Nem sabia para onde, mas não importava, estava tudo ótimo. Segurava a mão de uma Inoue rindo sem parar, a levando para onde olhos não pudessem enxerga-los.

Chovia.

Um professor vendo o alarde daquela matraca colocou a cabeça para fora da sala:

– Ei vocês, parados ai!

Foi então que a ruiva se deu conta do que acontecia, no mesmo instante parou de rir. Olhou assustada para Ulquiorra e, dessa vez, ela que tomou a frente na corrida desenfreada pelos corredores da escola.

Ainda de mãos dadas, nem se deram conta de que passaram por sua própria turma que vinha no sentido contrario, voltando do intervalo. Abriram caminho pelos demais apressadamente.

– Inoue? Mas que merda? – Disse Ichigo surpreso por ver a cena.

– Inoue-san?! Era ela mesmo? – Perguntou Ishida também abobalhado, a tímida e comportada Inoue correndo com o rebelde Ulquiorra enquanto um professor e dois monitores de corredor (que se juntaram) os perseguiam.

Os dois não perceberam por quem passaram, Ulquiorra abriu as portas que davam para o pátio.

– Mas esta chovendo!

– Não importa. – Respondeu seco. – Você tem medo de se molhar é isso? – Desafiou sarcástico.

O jeito dele a tirava do sério. Porque sempre tentava lhe ofender?

– Não! – Disse a garota enchendo as bochechas de raiva. – Vamos!

E correndo pela chuva até o ginásio deserto, entraram em um só folego. No fim, o quanto ficaram molhados nem Ulquiorra calculou. Estava realmente caindo o mundo lá fora.

Estavam muito encrencados!

A garota segurava os próprios joelhos tentando encontrar ar para seus pulmões, enquanto Ulquiorra encostava-se na parede, muito mais discreto que ela.

Quando suas respirações voltaram ao ritmo normal, se encararam e começaram a rir ate novamente faltar ar.

O moreno passou a mão pelos cabelos molhados e fitou a colega com carinho. Sem que ela percebesse, é claro.

Olhou ao seu redor, o ginásio estava escuro mas barulhento devido a chuva que castigava seu telhado. Avistou os colchoes de ginastica e puxou um, tirou o casaco e jogou em Orihime de qualquer jeito, que sumiu dentro dele.

Segurando seus ombros, fez com que a colega senta-se no colchão. Ulquiorra sentou-se ao seu lado.

– Ulquiorra-kun, você não precisa se preocupar comigo.

– Quieta. Eu sei que não preciso. – Disse grosseiro.

Inoue ficou emburrada e virou a cara.

– Mas não quero ver você doente, iria tirar seu sorriso.

– Obrigada. – Sussurrou sentindo seu rosto esquentar. – Obrigada pelo dia de hoje inteiro.

Encarou seus olhos verdes novamente e lhe deu um grande sorriso, esta reação o pegou de surpresa. Nem quis entender, havia metido a colega numa grande encrenca e ela estava feliz da vida por isso. Não queria nem entender.

– Será que o professor Ikakku algum dia vai conseguir tirar a mancha dos olhos? – Perguntou entre risos. Na aula de química, Ulquiorra caiu de dupla com Inoue, os dois eram muito bons e distraíram-se completamente do objetivo da aula.

Apensas misturaram algumas coisas para fazer uma pegadinha com algum colega. Claro, tudo incentivado pelo moreno, aceitado meio negando pela ruiva. Fizeram uma espécie de tinta, que demoraria muito tempo para sair se em contato com a pele. Passaram ao redor do telescópio e iam chamar algum colega pra ver.

Por azar foi o Professor Ikakku quem pediu para ver como estava a análise deles. Inoue ia impedir o professor mas, Ulquiorra colocou a mão em sua boca calando-a. Realmente queria que aquilo acontecesse. E quando o desavisado professor voltou a encara-los com duas marcas roxas em volta dos olhos que não se sabe quando sairia dali, Inoue chorava de rir.

Realmente valeu a pena a detenção, pensava a garota. Sempre tão regrada e certinha não tinha tempo para se divertir. Mas com Ulquiorra era sempre assim. Se metiam em coisas inesperadas. Era um amigo antigo. Apesar de não saber muita coisa sobre ele na verdade. Era muito reservado sobre seu lado pessoal. O conheceu na escola e viu que ele estava sempre lá, não fazia parte de sua roda de amigos, mas estava todos os anos na classe. E uma vez ou outra se metiam em alguma coisa errada. Ou conversavam por horas. E a frequência destas conversas estava aumentando na verdade.

Inoue tinha que estudar muito para entrar em uma conceituada faculdade, assim, seu comportamento deveria ser exemplar.

E era sem maiores problemas. Pois ela era assim mesmo, ingênua e feliz.

Mas Ulquiorra era seu oposto. Brilhante mas preguiçoso. Não fazia questão nenhuma de ser como mandava os professores e as boas normas da sociedade. Queria ser do jeito que quisesse e fazer o que desse na telha. Na maior parte do tempo aparecia não estar sentindo nada. Não reagia como as outras pessoas.

Ulquiorra Schiffer. Ele vai roubar seu primeiro beijo.