O Valor do Passado escrita por EEBorba


Capítulo 4
Capítulo 3 - Susto


Notas iniciais do capítulo

Quero agradecer as pessoas que estão lendo e peço que deixem comentários, isso me faz querer escrever mais.
Quero dedicar esse capítulo a Mabelle, que foi a primeira pessoa que conversou comigo aqui e que é a única que parece estar acompanhando sempre aqui. Muito obrigada.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/331035/chapter/4


O céu estava escurecendo quando Monique saiu do hospital naquele dia. Apertou mais seu casaco contra o corpo, enrolou o cachecol e caminhou pela noite recém formada.


O hospital era perto do cemitério – talvez dez ou doze minutos andando – e ela aproveitava esse tempo sozinha para pensar nos pais. Qualquer pessoa que soubesse disso acharia loucura, ou uma terrível forma de melhorar, mas ela achava reconfortante. Era como se eles estivessem ali também.

Chegando em seu carro, que estava estacionado mais ou menos entre o hospital e o cemitério, ela pegou o buque de lírios que havia comprado para deixar na lápide. Apesar de ficarem o dia todo trancadas, as flores ainda estavam bonitas e possuiam um cheiro gostoso.

Em cinco minutos, ela percorreu a distância que faltava.

O cemitério possuia a entrada feita de tijolos, que no fim tinham o formato de um balão, onde em cima se encontrava o nome do estabelecimento. Ela nunca gostara de entrar em um antes. Sempre vinha ao seu pensamento a vida de todas as pessoas que estavam enterradas ali, e quantas pessoas ainda sofriam por elas.

Mas agora o cemitério era como sua segunda casa. Ela começou a gostar de ler o nome das pessoas mortas até chegar aonde seus pais estavam enterrados.

– Oi pai, oi mãe – ela disse, chegando e deixando as flores em cima do caixão ao lado das rosas do dia anterior – E então, como vocês vão hoje?

“Nem acreditam no que aconteceu comigo. Eu ganhei a oportunidade de virar a mais nova médica do hospital! Há várias pessoas concorrendo, mas me deixou tão feliz... Eu sei mãe, você deve estar dizendo como eu sou precipitada e me animo antes, mas a senhora sabe como eu quero isso.

“Seria engraçado se vocês ainda estivessem aqui. Vocês discutiriam, porque o pai diria que eu tenho que me animar mesmo. Como ele dizia: Nunca perca uma oportunidade para sorrir.

Monique ficou mais um tempo por lá, até que olhou para cima e viu que todas as estrelas ja estavam no céu, olhando para ela. Pegou sua mochila, mandou um beijo aos pais e saiu andando, voltando para casa

~~~ //\\ ~~~

Eram onze horas da manhã. Monique estava no seu horário de almoço. Um dos poucos aonde podia sentar e relaxar no hospital. Todo dia ela sentava com suas colegas de trabalho, Marissa e Roberta.

Marissa era alta, com talvez 1,80 metros, cabelos loiros finos e olhos castanhos. Era o exemplo de gordinha que era linda de qualquer jeito. Já Roberta tinha descendência chinesa. Era magrinha, com 1,59 metros, cabelos extremamente lisos e pretos, com olhos negros como a escuridão.

– Monique, você está comendo extremamente bem hoje. Oque aconteceu? Parou com a dieta maluca? – Marissa perguntou rindo, entre uma mordida e outra do seu pastel.

– Não, ok? – Monique riu mais ainda.

As três riram, até que João entrou na cantina. Ele estava com uma camisa verde por baixo do jaléco, oque fazia seus olhos castanhos esverdeados realçarem.

Ele olhou para a mesa delas, sorriu para todas, mas se demorou mais no rosto de Monique, até que ela corou e virou o rosto para o seu hamburguer. Ele também desviou o olhar, indo até a bancada e pedindo para o atendente um suco de laranja.

Quando se virou, olhou para elas de novo, deu um aceno de cabeça e saiu do local.

– AH. MEU. DEUS! Ele está afim de você! – Roberta falou tão alto que Monique teve a impressão que todos ouviram e agora estavam a encarando.

– Claro que não está! Olha o que você está falando... Nós somos só amigos de longa data, mais nada.

– Além de querer ser super magra, agora ela quer ser burra – Marissa falou, olhando com cara feia para Monique – Você não viu o jeito que ele te olhou?

– Me olhou? Ele olhou para nós todas do mesmo jeito!

Ela não queria admitir. João afim dela? Não que ele fosse feio, muito pelo contrário, mas ela não estava procurando um namorado, ainda mais agora.

E de jeito nenhum queria ele. Era um dos poucos amigos homens que tinha, não iria estragar isso com uma relação que poderia dar errado a qualquer minuto. E por que ela, se isso fosse realmente verdade? Com quinhentas mulheres suspirando por ele no hospital – sem contar fora – por que ela? A única que nunca olhou desse jeito para ele.

Era só o que faltava.

– Se você não quer falar disso, tudo bem. Vamos fingir que nunca aconteceu – Roberta comentou – Mas não finja que ele não é um gato, que ainda é super fofo.

Monique iria falar que sabia disso, mas não queria nada nesse momento, quando uma voz no auto falante interrompeu a conversa das amigas.

– Monique Grutier, sala do Doutor Jinks, por favor.

– E o dever me chama – Ela exclamou fingindo estar entediada, mas sentindo eletricidade internamente.

~~~ //\\ ~~~

– Então, você sabe o quanto quero dar essa vaga a você, mas todos os candidatos passam por um teste.

– Que tipo de teste? – Ela perguntou.

Estava sentada mais uma vez na sala do doutor, olhando enquanto ele usava o computador, como sempre...

– Não é nada demais. Pedimos para transferirem uma paciente da outra sede do hospital. Ela ficará dois dias com cada candidato, e no fim do processo nos dirá quem cuidou melhor dela.

Monique esperava algo muito mais difícil. Cuidar de pacientes era o que fazia todo dia já, sentia que não teria muita dificuldade para ir bem. Porém cada paciente era um caso e nunca se poderia julgar um pensando na média geral.

– Tudo bem, e quando eu começo?

– Amanhã, você será a primeira a realizar o procedimento.

Ser a primeira nunca era algo bom. Até os cinquenta candidatos atenderem a mulher, ela provavelmente já teria se esquecido de Monique. Todas as pessoas que trabalham no hospital sabiam desse detalhe quando faziam algum teste para promoções.

Doutor Jinks percebeu a expressão feia de Monique, porque comentou:

– Eu sei o que você está pensando e não se preocupe. Se a paciente ficar em dúvida entre dois ou mais pacientes, faremos por eliminações, assim ninguém será prejudicado.

– Então tudo bem. O que ela tem?

Ele virou o computador em direção a ela e teclou no campo de busca: Margaret Kloop.

Ali apareceu todo o histórico da mulher. Ele foi lendo para Monique, já que ela estava um pouco afastada.

– Nome: Margaret Kloop. Entrada: 24/03/2011. Causa da internação: Crise do pânico seguida de problema sério no coração. Idade: 52 anos. Saída: sem previsão.

– Crise do pânico? Ela recebe atendimento piscicológico então?

– Recebe sim. No outro hospital, tem uma piscicóloga contratada especialmente para cuidar de casos como esses. Como aqui não temos disponível tal conforto, você mesma será o apoio dela. Não se preocupe, será somente por dois dias. E eu sei que isso nem seria um motivo preocupante, você adora conversar com os pacientes, pelo que eu entendi.

– Gosto sim.

Doutor Jinks continuou rolando a página, parecendo procurar algo.

– Monique, você está dispensada. Só chegue amanhã meia hora mais cedo, para poder conhecer pessoalmente a paciente, para quando começar o trabalho vocês já estarem mais confortáveis uma com a outra.

– Tudo bem. Obrigada pela oportunidade, mais uma vez.

Ela estava na porta já, mas quando virou para fechá-la, viu em que parte da página ele estava.

Em destaque, havia uma foto da mulher.

Ela possuia os cabelos pretos, com parte das raízes ficando brancas. Tinha o rosto redondinho e possuia rugas ao lado dos olhos.

Aqueles olhos. Monique não conseguia desviar deles.

Tão familiares que a pele dela ficou toda arrepiada. Mas ela não precisou pensar muito para saber de quem era o dono de tal olhos.

Olhos com um tom azul sedutor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!