O que ainda mais me assustou, foi seu sorriso. Involuntariamente, acabei cuspindo toda a água que estava na minha boca.

- O quê? - perguntei quase gritando.

Luiza me encarava, e depois disse:

- Que nojo Alice. Eu falei que você vai ter que lutar comigo para sobreviver.

Aí é que a minha cabeça explodiu mesmo. Não conseguia assimilar o que queria dizer com aquilo. Me coloquei de pé, com dificuldade.

- Por que você quer isso? - falei.

- Você não entenderia. Sua vida sempre foi perfeitinha, não é? Nunca teve problemas com o seu pai olimpiano, porque sua mãe conseguiu te proteger o suficiente.

Ela não podia estar falando sério. Perfeitinha? Luiza não sabia nem da metade do que eu havia passado. Meu pai se fora, e tudo o que restou para mim, foi minha mãe, cuja não conseguia parar em um emprego bom, pelo fato de que eu sempre dava algum problema. A única opção, foi ser recepcionista, e o salário... muito baixo. Nunca tive ela presente. Minha avó cuidou de mim, depois uma babá, que me agredia. Era um segredo que eu guardava, apenas para mim. Ficar sozinha, foi bom, mas... eu sempre quis estar com a minha mãe.

- Minha vida não é fácil como pensa - retruquei.

- Se soubesse tudo o que eu passei, pensaria duas vezes antes de dizer isso.

O problema, é que eu realmente não sabia. A curiosidade se fez presente.

- Já que alguém vai sair morta daqui - desafiei - Acho que mereço saber.

Luiza respirou fundo, então começou:

- Como sabe, sou filha de Afrodite. Quando tinha 10 meses, fui deixada para que meu pai cuidasse de mim, mas nunca foi aquele homem, que toda criança sentiria orgulho um dia. Ele era um inventor, e aos cinco anos, percebi que não havia nenhum trabalho novo em casa, e nunca tinha dinheiro para brinquedos, roupas ou até mesmo comida. Sabe qual o problema? Meu pai estava louco. Por Afrodite. Aquela mulher conseguiu destruir a carreira que ele custou à alcançar, e toda sua dignidade. Nunca senti tanto medo, como a vez, em que ele ameaçou me matar, apenas para chamar sua atenção. Não sei o por que, mas ela veio. Apenas para "terminar". Pensa que acabou por ai? Errado. Foi ai que tudo começou a revirar mesmo. Meu pai começou a querer que Afrodite viesse toda hora que queria. Não sei se sabe, sobre Ares, mas ele é amante dela. O deus não ficou nada feliz, em saber que havia um homem que enchia a mulher dele. 

"Como se tivesse um plano perfeito, Ares apareceu, e disse que sabia como trazer Afrodite. Meu pai, não via mais coerência em nada, e quis saber. Foi obrigado a jurar lealdade a ele. Se tornar peão do deus da guerra, é a mesma coisa do que pedir para te apunhalarem com uma espada. Um dia, meu pai teve que resolver uma briga que Ares havia se metido. Era uma cilada. Foi enviado para uma luta com o próprio deus. Adivinhe quem ganhou! Meu pai foi morto, e toda a culpa foi daquele estupido. O que ele quer agora é você, Alice. Quer um novo peão, só porque é mais forte do que os outros. Mas eu não vou deixar, e não pense que é uma ajuda. Quero estragar os planos dele, assim como um dia, destruiu minha vida."

"E não é só isso, querida. Simon está no meio, pode ter certeza. Antes de tudo isso acontecer, Afrodite quis distanciar aquele louco de perto dela, e para isso, jogou uma maldição na própria filha. É isso, eu não posso amar. Nem meu próprio pai. Quando eu comecei a namorar com Simon, eu não conseguia sentir esse sentimento, de jeito nenhum. Ele também não sentia isso. Irônico a filha da deusa do amor, passar por tudo isso. Agora, aparece você. A garota que pode dar a ele, tudo o que um dia eu quis. E ainda por cima, é retribuída. Não suporto. Vou acabar, com a doce Alice, para que ela não encontre o sequestrador do namorado. Isso mesmo, para que ela não ache Ares."

Luiza entregou a resposta de bandeja, pelo simples fato de pensar que eu não sairia de lá viva. Foi por isso que veio até mim, no momento em que eu não conseguia nem se quer mexer o dedinho, que já parecia que ia cair.

- Por que me disse que ainda amava Simon? - perguntei, me lembrando do quanto aquilo me fez mal.

- Só para ver você morrendo de ciúmes - ela riu - E para lhe enfraquecer. Mas, eu tenho algo, ainda pior.

A garota tirou do bolso o celular, e me entregou. Era um vídeo. Gravado a distância, vi Simon encostado em uma árvore, cansado. Luiza sentou ao seu lado, e disse:

- Está pensando na Alice?

- Não consigo tira-la da cabeça - respondeu.

- Posso fazer você esquecer disso.

Ela entrou na frente de Simon, e eu não via mais nada, mas já imaginava o que era. Estavam se beijando. Ele segurou seu braço, e de leve, a empurrou. Por um momento, fiquei feliz por isso. Entreguei o telefone.

- Isso não funciona - debochei - Ele a soltou.

- Depois de um tempo, mas lhe garanto, que aquilo foi um sonho, que eu não queria acordar.

Nunca senti tanta raiva, que nem aquela hora. Apertei meu bracelete, e passei a lâmina pelo seu braço.

- Não quer mais lutar, docinho? – estava tão animada, tentando ver Luiza nervosa.

Ela sacou uma adaga, e correu em minha direção. Desviei, mas não foi o bastante. Cortou minha mão, e um risco de sangue surgiu.

Investi novamente, focando em sua perna, para poder derruba-la. Consegui fazer isso, só que fui puxada, e cai junto. Luiza rolou para cima de mim, e tentava acertar minha cabeça, e eu desviava rapidamente.

Reuni toda a minha força, e com as duas mãos, joguei-a de lado, e foi a minha vez de ficar em vantagem. Diferente dela, eu tinha um plano. Enfiei minha espada em sua barriga, e tirei. Ela gritou de dor. Encostei a lâmina em seu pescoço.

- Me de um motivo para não fazer isso - pedi.

- Não vou me render à você. Se tiver que morrer, que seja lutando.

Fui empurrada, e quando recuperei o equilíbrio, tudo o que conseguia fazer era me defender de seus golpes. Ela me encurralou.

- Quem vai acabar perdendo mesmo? Ah é, você - disse.

Sem pensar, estiquei meu braço, e acertei sua garganta. Vi sua pele perdendo cor, lentamente, e uma ultima lágrima escorrer de seu rosto.

- Você não viverá em paz, Alice - foi suas últimas palavras, antes de cair morta no chão.