Duas Linhas Horizontais escrita por Kawaa Chann


Capítulo 8
Um minuto e tudo muda


Notas iniciais do capítulo

Konbanwa, Minna-san... Gomen ne pela demora... andei muito ocupada esses dias... Mas estou de férias agora, quer dizer, duas semanas de férias, mas já é alguma coisa, por isso, aproveitei para postar um novo capítulo... Àqueles que estavam acompanhando, onegai, não deixem de continuar a leitura... Arigatou.



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Embora parecesse desolado e abatido com a última conversa que tivemos, me sentia de certa forma, mais leve e menos tenso. Minha vida era tranquila antes de eu entrar naquele elevador com ele. O que havia acontecido comigo naquele dia era impensável há algum tempo atrás... Mas quando penso nisso agora, me pergunto por que não consegui ser mais coerente comigo mesmo. Eu era mais seletivo antigamente. Era mais centrado. Apesar de meus dramas particulares, imaginar que teria que voltar para o escritório era ainda mais angustiante. Minha vontade era ir para casa, eu já não estava mais a fim de trabalhar naquele lugar. Eu poderia ser demitido e passar algum tempo em casa, planejando algo produtivo, praticando origami, eu era bom em fazer origamis quando criança. Talvez estivesse na hora de escrever meu primeiro haicai depois de tanto tempo... Ou talvez, para a felicidade geral de todos, eu deveria praticar o sepuku, por que não? Minha mãe já não sofreria mais com essas coisas... Argh! Mas o que eu estava pensando da vida? O Takahashi não merecia um pingo da minha tristeza e revolta com o mundo.

Mas na verdade, eu me perguntava em que eu era melhor do que o Takahashi. Saí daquele muquifo me sentindo destruído. O Takahashi-san não se aceitava. Não aceitava estar apaixonado por mim. Mas e eu? Quando fora que eu me assumira para a humanidade? Eu não era melhor do que ele nisso, então por que eu me sentia melhor? Por que eu não era casado? Por que não tinha família por perto? Ora, eu era igual a ele. Não era melhor em coisa alguma, com exceção da Nana, quem mais sabia sobre eu ser gay ou não? Antes de conhecer o Takahashi eu nunca tinha parado para pensar nisso. Eu nunca realmente me assumira. E o porquê eu sabia. E agora, depois de tudo eu entendi o Takahashi. Ele ainda foi mais longe do que eu. Agora todos sabem que ele tem casos com outros homens mesmo tendo uma esposa grávida em casa. Eu era apenas um solteirão vivendo a vida sozinho todos os dias.

O resto da tarde no escritório não foi tão terrível quanto imaginei. Nanoka me trouxe um café e perguntou se tinha ido bem na consulta. Sorriu amavelmente e não esperou por uma resposta minha. Há quanto tempo eu não prestava atenção aos meus colegas de trabalho? Quando eu os afastara de mim? Percebia agora que eu é que não me envolvia com as pessoas e não o contrário. Tentei ver se Nana estava em sua sala, mas não consegui ver nada, ela tinha baixado as persianas da sala. Então, inesperadamente, Yagami comentou que ela estava em reunião com o chefe, mas ele falou aquilo num tom tão malicioso que, de repente, entendi o que a Nana me dissera quando nos conhecemos. Para muitos ela não tinha competência alguma, ela tinha apenas uma vagina e essa era a sua única arma para conseguir ascender na vida. Mas também percebi que se eu não fosse seu amigo, pensaria a mesma coisa.

Comecei a imaginar que eu nunca tivera parado para perceber as coisas ao meu redor. Era estranho, mas eu vivia numa bolha. Minha vida era uma bolha sem perspectivas ou esperanças de melhorar. Qual fora a última vez que eu fora ao cinema? Apesar de me sentir triste, era estranho agora admitir que não existia mais o Takahashi na minha vida, eu me sentia com vontade de renovação. Eu precisava me renovar, não poderia mais viver aquela vida, sempre insatisfeito, sempre esperando por coisas melhores.

Alguns instante depois, vi quando o chefe saiu da sala da Nana ajeitando a gravata... Yagami riu ironicamente e, entredentes, comentou:

– Se eu fosse uma mulher, meu boquete seria ainda melhor e eu é que estaria naquela sala vip.

Senti-me enojado com aquele cara. Crescer na carreira para uma mulher era então abrir as pernas para o chefe e deixá-lo meter fundo todas as vezes que quisesse? Aquilo era absurdo. Se fosse apenas isso, ele tinha razão, qualquer garota aqui do escritório que fizesse um boquete melhor estaria no lugar da Nana. Mas ela não sai de lá não porque transa com o chefe, mas porque é boa o suficiente para ocupar o cargo. Quis dizer algo do tipo, mas tinha absoluta certeza de que Nana me odiaria por isso. Ela não se importava com os comentários maldosos, ao menos era o que me dizia, mas seria mesmo isso? Ou ela já se acostumara a ouvi-los e ignorá-los?

O expediente já estava acabando. Atrasei o máximo que pude meus afazeres para esperar Nana sair de sua sala, que ainda mantinha as persianas fechadas. A maioria do pessoal já estava indo, ao menos no meu setor, a maioria tinha aversão a fazer hora extra. Eu também. Trabalhos burocráticos não têm a menor graça. A porta da sala de Nana se abriu e ela saiu. Percebi que ela me viu e deduziu que eu a esperava. Fazendo uma cara de irritada, ela veio até minha mesa. Parecia séria, aborrecida… um misto de emoções nada agradáveis.

– Por que você não foi pra casa ainda?

– Porque preciso conversar com você.

Esperava que a Nana fosse gritar ou jogar na minha cara coisas do tipo: agora você precisa do meu consolo etc., mas ela simplesmente suspirou e disse:

– Ok, vamos embora.

Não é que estivesse surpreso, mas foi meio que fora do comum. Ela não parecia a Nana altiva e destemida que eu conhecia, parecia cansada, distante, tensa. Eu sempre lhe falava dos meus problemas, mas vendo-a assim tão desprotegida e desamparada fiquei me sentindo um péssimo amigo. Quantas vezes eu procurara saber como ela estava?

Seguimos até o estacionamento. Eu não tinha carro, mas Nana sim. Saímos do trabalho juntos e era a primeira vez que eu a via dirigindo. Pensei que ela usasse o metrô como eu, mas eu deveria supor que ter um carro, às vezes, pode ser questão de status para alguns. Estranhamente, Nana estava muito silenciosa e, de certa forma, aquilo não me deixava confortável e nem me encorajava a dizer alguma coisa. Percebi que nós dois estávamos passando por alguma coisa difícil.

A cidade era muito luminosa durante a noite, mais até do que durante o dia. Absurdamente elétrica e incansável. Minha mãe tinha razão, Tóquio era demais para qualquer um que morasse no interior. Observava o movimento, o frenesi das pessoas nas calçadas, dos jovens que se vestiam ainda mais bizarros do que na época em que vim morar na capital. Era tudo muito frenético.

– Nana, - reuni o pouco de coragem que tinha e perguntei – aconteceu alguma coisa com você?

Ela respirou fundo, não me olhava nos olhos, apenas para o trânsito. Os demais carros passavam por nós e ela nada respondia. De repente percebi que ela estava entrando à direita, no caminho para o meu apartamento. Na verdade, eu não queria ir para casa agora e tentei avisá-la disso, no entanto, Nana continuou dirigindo até o meu prédio. Por uns instantes me dei conta de que nunca fui à casa dela e que sequer sabia onde ela morava. Uma sensação de culpa e desleixo tomou conta de mim… que amigo eu era…

Entramos em casa e ela ainda silenciosa. Era muito estranho ver a Nana nesse estado. Pensativa, esquisita, sem a sua armadura de combate. Analisei seu semblante por mais um tempo, antes de acender as luzes e seguir para a cozinha. Ela ficou descalça e sentou-se perto da janela. Por mais que eu quisesse me aproximar dela agora, alguma coisa me dizia que eu não saberia o que fazer. Certamente, eu não saberia mesmo. Eu nunca estive do lado que dá conselhos…

– Você quer tomar alguma coisa? – perguntei tentando quebrar o gelo, parecíamos dois estranhos que se conheciam, mas não sabiam o que falar um com o outro.

– Saquê.

– Ora, Nana, você sabe que eu não tenho saquê em casa. Mas tenho chá de oolong, quer?

– Eu queria algo forte… algo que não me fizesse lembrar nada no dia seguinte. Mas já que não tem, tomarei o chá. As coisas melhoraram com o Takahashi?

– Acho que terminamos. E isso parece meio definitivo.

– Não está triste por isso?

– Não pareço estar comemorando…

– Acho que ninguém comemora essas coisas. Soube que minha prima quer se mudar de Tóquio. Takahashi e ela irão morar longe por um tempo, pelo menos até que o bebê nasça e eles resolvam o que fazer.

– Por que está me contando isso?

– Pensei que o Takahashi tivesse te dito. Afinal, vocês não conversavam sobre coisas ou ele não te falava nada?

– Nana, eu não sei o que está acontecendo com você, mas eu não acho que preciso dos seus comentários maldosos e cruéis. Se você quer insistir nisso, pode tomar seu chá de oolong e ir embora pra casa.

– Eu não quero ir para casa essa noite.

Sinceramente, eu não a queria em meu apartamento aquele dia. Estava muito triste com tudo o que acontecera e ela tinha sido muito cruel ao me dizer que Takahashi se mudaria em breve. De fato, estava tudo acabado entre nós, mas ter essa confirmação era mais doloroso do que se pode imaginar. Tudo hipoteticamente falando parece fácil de suportar. Na teoria tudo funciona bem, mas na prática é bem mais difícil cumprir o que parece fácil de fazer.

Nana obviamente não parecia estar bem, mas ela não me dizia o que tinha e nem me dava espaço para perguntar. Parecia amarga, desolada e seus olhos pareciam denunciar todo um desencanto pelas coisas. Esse abandono pela vida não era algo comum vindo dela. Nana era sempre alegre, comunicativa, desinibida, fazia e acontecia, mas nem todo mundo tem apenas dias felizes. Nana também passava por problemas, mas por que ela não me dizia o que era? Eu lhe servia mais chá e ela não parecia muito incomodada com o silêncio da sala. Ela tomava o chá sempre com aquele mesmo semblante. Parecia que ela estava triste, de fato, mas ao mesmo tempo parecia se forçar a fazer de conta que não estava acontecendo nada.

Eu também pouco me esforçava para tentar conversar com ela. Embora ela não desse muitas brechas eu não fazia questão de tentar nada. Eu pensava apenas que minha vida agora precisava de um novo rumo, de novos objetivos e metas a serem cumpridos. Nana poderia estar passando por uma barra muito pesada, eu queria perguntar a ela sobre o relacionamento que ela tinha com o chefe se era apenas profissional ou não, mas eu também imaginava que lhe perguntar isso era aderir ao pensamento dos outros de que ela transava com o chefe para manter a sua posição na empresa. Mas e se ela realmente transasse com o chefe? E se fosse apenas por que ambos se desejavam e não por interesse? Mas pensando bem, o que eu tinha a ver com a vida dela, e se ela realmente tivesse um caso com o chefe isso iria fazer com que ela fosse menos competente? Quantas oportunidades ela teria para chegar ali? Nem acredito, mas eu estava pensando coisas terríveis sobre ela.

Nana era uma mulher misteriosa, todo o tempo em que ficamos juntos conversando, ela nunca me falou nada significativo sobre ela. Nunca me convidou para ir a sua casa e mal saímos para nos divertir. Minha vida ficou tão presa ao Takahashi-san que eu simplesmente só a procurava quando estava triste e abatido. E eu nunca lhe perguntei nada. Era engraçado como a vida da gente podia mudar em um minuto ou menos. Eu só percebia agora o quanto eu tinha perdido. E não era apenas o amor do Takahashi, o que eu perdera fora jogado fora com as minhas próprias mãos. Na verdade, eu era o único responsável ou meio responsável por tudo o que tinha acontecido até agora. E estava na hora de tomar alguma atitude.


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Notas finais do capítulo

Yooo, Minna, espero que vocês estejam gostando dessa história. Espero postar novo capítulo em breve e já avisando, nossa história acaba de entrar na sua reta final... Até logo, Minna... =D



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