Maboroshi - O Último Verso escrita por Will Matos


Capítulo 3
Primeiro Ato - Ponte




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Ao chegar em casa, a secretária eletrônica me pôs a par do resultado da briga entre os meus pais. Minha mãe havia saído, e quando era assim não costumava voltar no mesmo dia. Já meu pai, de certo estava esparramado nas calçadas, ou então nos arbustos que floreavam as praças. Era incrível como as coisas se repetiam naquela casa, eu conluia. Mas para todos os efeitos, tudo reverberou no progresso de minha própria autonomia, pois desde à infância almejava me desgarrar do controle de meus pais, já que se referiam a mim como um engano da vida.

Enfim, decorreram alguns dias com um sentimento estranho latejando em meu peito. Calma, não era amor, ainda não. Medo, eu diria, mas sem razão nenhuma de ser. O perfume de jasmim se manteve intenso, como se Sakuchi ainda me envolvesse com os braços. O mais estranho, entretanto, eram os sonhos repetitivos.

Sempre um lugar ermo, escuro, frio e nevoado. O vento sempre forte. Um véu escuro trovejando estrondosos guturais no céu. O turbilhão de areia levado ao vento era tanto, que não era capaz de identificar as pessoas ao meu lado. Aliás, eram muitas, e Sakuchi estava lá. Ela gritava meu nome, de longe, mas me mantinha em transe. Cercavam-me centenas de cães latindo com vigor, e ora chorando como se fossem agredidos. Mas eu olhava pro céu, como que aguardando alguma coisa. De repente, um clarão forte e aprazível me envolvia, penetrava em meus olhos e em todo meu ser, até que... Despertava, despertava num grito violento, quase um brado de batalha! Era estranho. Acordava transpirando muito e me sentindo imbatível, e posso até dizer, me sentindo nobre!

Em uma dessas noites acabei conseguindo dormir novamente, no temor da quimera onírica me atacar outra vez. E atacou, porém num sonho diferente. Nele, via claramente uma ponte, e embaixo dela uma dezena de homens vigorosos portando imensos machados, prontos à abaterem Sakuchi, completamente inconsciente e largada no córrego. Em dada noite, confuso, saí de casa, mas me limitei ao quintal. Olhei o céu enluarado e me senti embutido de alguma missão. Não sabia definir ao certo qual seria, mas à princípio, deveria seguir aquele aroma divino de jasmim! E assim fiz! Peguei todo dinheiro, toda a comida e um pouco de roupas, soquei tudo dentro de uma velha mochila, e lá fui eu! Mas para onde?... O cheiro me levaria, concluí, e tinha quase certeza que todo esse mistério resultaria naquela ponte.

Era estranho, tudo muito estranho e cômico! Nunca havia me entregado tanto ao meu olfato. Com o decorrer de alguns dias aprendi que os jardins, parques, e lojas de flores podiam me enganar maldosamente! Mas sempre conseguia encontrar o aroma de jasmim especial que efluía de Sakuchi. Dormi em pontos de ônibus, dentro deles e muitas vezes não dormi. De noite era mais fácil de caminhar. Descrevia a ponte para algumas pessoas, e tudo me indicava que esta existia, porém em outra cidade, próximo de onde estava. Enfim, uma longa semana de provação se alongou em duas, três, um mês! Usei da dó alheia para me alimentar e me alojar com mais segurança, nunca havia me divertido tanto! Mas enfim, as coisas começaram a ficar sérias, já que finalmente, havia encontrado o lugar.


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Notas finais do capítulo

Obrigado pela leitura! Continua!



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