Maboroshi - O Último Verso escrita por Will Matos


Capítulo 1
Primeiro Ato - Lua


Notas iniciais do capítulo

Uma fic que não sei bem aonde vai dar. Estou me aventurando na própria escrita, e espero que se disponham à se aventurar comigo. Boa leitura!



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A sombra do Juiz encharcava o céu por sobre nós, tal um enxame de abelhas. A Terra respirava devagar, suspirava. - Parece que ela chora, não é, Maboroshi? - Sakuchi me perguntava. Nunca havia visto ela daquele jeito. Cinzas e sangue demarcavam seu rosto, o barro escuro manchava sua roupa e seus lábios. Mas ainda assim Sakuchi sorria, talvez por quê estivesse comigo, talvez por quê tivesse esperança. Estávamos ali, exaustos e desolados, escondidos atrás de um amontoado de pedras e ossos.





– Quero ouvir aquela música... - Ela me disse, pegando o celular e tocando uma versão da Ave Maria no violino. Música que havia apresentado a ela.







– Por quê ouvi-la aqui, Sakuchi? Pode ser perigoso.





– Não, não é perigoso. Ela me faz bem. Também me faz lembrar de quando nos conhecemos, Maboroshi. Você lembra?


– Mas é claro...


Meus pais pegaram uma mania incômoda de brigarem. Não gostava daquilo, e mesmo cego, conhecia muito bem as ruas do meu bairro, assim como as pessoas que moravam por lá. Mesmo sendo noite, pensava eu que qualquer malandro se apiedaria de um cego e seu cajado, vagueando choroso nas esquinas. Não era uma noite qualquer. Dizem por aí que nossas vidas estão escritas no ventre de uma velha mulher, a Mãe, que dorme dentro da terra em um sono profundo. Como são muitos os seus filhos, muitas vidas ficam escritas por sobre a vida de outros, e quando isso acontece, as pessoas ficam ligadas, uma união misteriosa que nada pode separar. Algo parecido com que o padre do bairro dizia nos casórios: “O que Deus une sempre vence. Vence o tempo, o frio, a chuva e a morte, pois unido estará pela vida eterna.”





Nasci cego, não sei porquê. Nada que me incomodava, aliás, me deixava seguro do mundo. Sentia-me um observador atento mas que não podia ser observado. Curioso, sempre fui o cego, mas as pessoas ao redor que não me percebiam.







Além dos conflitos familiares, outra coisa me encantava nos passeios noturnos. O cheiro da noite. Sim, talvez a cegueira fora compensada em um olfato aguçado, mas sempre me inconformei com o fato de ninguém mais sentir esse perfume sublime, que pra mim era tão intenso, tão claro!






O silêncio me rodeava e caminhava comigo, era gostoso. Mas de súbito, um barulho de motores em guerra envolveu toda a rua. Parecia também que uma multidão agitada se aproximava, riam bastante e gritavam palavrões. Parei desnorteado e confuso. Era um terrível racha de motoqueiros em delírio, me rodeando com malícia para a alegria desalmada do público. Meu cajado caiu, assim como os meus óculos. As máquinas passavam tão próximas e tão covardes, que pude sentir as nuvens cobrindo a Lua daquela hora, talvez para que não visse a bestialidade. Amedrontado, peguei meu celular na tentativa de ligar para meus pais, mas logo um dos motoqueiros me empurrou. As gargalhadas ecoaram. O celular caiu à uns metros de distância, e na queda, fez tocar uma música que ouvia para relaxar. A Ave Maria, no violino. Tamanha era paz que me envolvia na melodia, que pude me desligar do odor repugnante do alcool, e novamente me atentar ao perfume exótico da noite. Pareceu-me então, que a Lua se repôs no céu, vindo me proteger. Como era linda sua presença! Seu clarão me tocou com graça, feito uma mãe à abraçar um filho distante. Que paz! Antes de adormecer naquele transe, ouvi o que parecia uma matilha de cães aborrecidos se aproximando. Latiam alto, alto, e rosnavam. Então adormeci.




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Notas finais do capítulo

Obrigado pela leitura. Qualquer comentário, dica ou dúvida, por favor, já sabem como fazer, hehe.
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C O N T I N U A



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