Meu coração está a mil. Eu me viro para eles, não posso fugir. Eu tinha que enfrentá-los, a perseguição havia começado. Aliás eu não vou guiá-los a meu apartamento.
—Eu vou muito bem e vocês? - respondi com frieza e com um sorriso amarelo.
—Uau, pensei que sua primeira reação fosse correr - o menor disse.
—Ah me desculpe, quer que eu corra? - minha raiva está toda estampada no sarcasmo - Mas por que eu correria mesmo?

Os dois riram, surpresos pelo meu sarcasmo. Não estou com medo. A raiva toma posse de mim nesse momento. E o medo esvaiu-se. O sarcasmo surge, como se eu o utilizasse há anos. Eles analisam a raiva e a segurança que tenho, e ficam a postos.
—Bem, seria um desperdício acabar com esse rostinho - o maior diz. Ele aparentava vinte e cinco anos.
—É, mas o que podemos fazer, ordem do chefe - o outro diz. Que parecia ter vinte.
—Como é uma ordem deviam andar logo. Ai, pera ai, vocês ainda tem muito o que fazer. E eu digo o mesmo sobre vocês: que desperdício ficar correndo atrás de uma garotinha, que vocês pensam, inofensiva. Não acham, retardos? - Os sorrisos deles se tornam uma expressão séria e confusa. Eles tentam entender a parte " garotinha, que vocês pensam, inofensiva". Com certeza eles não sabiam, que no meu interior, eu esperava esse encontro. Ansiava pela primeira vez que seria atacada. Não sei o porque disso, mas descobriria depois. Depois que... Eu matasse eles? Não, deixaria eles inconscientes e avisaria meu pai que meu primeiro ataque aconteceu. Também seria um desperdício usar, pela primeira vez, os únicos objetos, que há em minha bolsa, que podem machucá-los.

Eles começam a se aproximar, um de cada vez. O que eles pretendem fazer comigo? Não sei. E nem descobrirei. Retiro  minha bolsa do ombro, com cautela, esperando qualquer movimento. O maior chega mais perto de mim. Ele é o maior e o mais forte. Eu deixaria poucas energias para o mais fraco (esperava que o menor fosse o mais fraco).

O maior tenta me agarrar pelos ombros, rebato seus punhos com os meus pulsos. E atinjo seu abdômen com meu joelho, ele tosse. Esmurro seu rosto com a lateral da mão esquerda, quando a dor do abdômen o faz se inclinar para frente. Ele tomba. O menor olha para mim, chocado com a cena. Antes que ele se recomponha, apoio em um poste de luz com as mãos, pego impulso na parede de uma casa e chuto seu rosto com as duas pernas. Ele cai e percebo que há sangue em seu rosto. Mas ele ainda não está inconsciente. Apenas zonzo.

O maior esta se recompondo aos poucos. O que eu havia feito com o menor, o surpreende e ao mesmo tempo, o deixa incrédulo. Ele me olha, com metade do rosto roxo, como se perguntasse "What the Hell?!" pra mim.
—Bem, faixa preta em qualquer arte marcial, e eu preciso manter a forma com luta livre uma vez por mês, além de malhaçoes, etc. Mas não exagero pra ficar com um corpo bem natural, sabe? - Respondo a pergunta não feita por ele e o confundo ainda mais, deixando-o distraído. O surpreendo com outro murro, no outro lado de seu rosto. Ele fica tonto, cai ao chão, mas consciente.

Me esqueço do menor, que me pega por trás. Eu começo a me sacudir tentando libertar meus braços daquelas garras. Dou um "pisão" em seu pé. Ele grita. Sorte dele que eu não estava usando a bota com salto fino. Me viro, dou um passo para trás e chuto sua cabeça,novamente, com a perna direita. Finalmente, ele fica inconsciente.

Não esqueço do maior, que continuava tonto tentando se levantar. Chego perto dele que está sentado, me agacho e digo:
—Eu avisei que vocês tinham muito o que fazer antes de tentarem "correr atrás de mim". Fizeram muito mal em não me perseguir antes. E avisa pro seu chefe, Sr. algo Gregorie, que é Melissa 'Elyzabeth' Green Richer, otário. - esmurro seu rosto com vontade e ele fica inconsciente.

Graças a Deus eu tinha saído com meu sobretudo preto. Um deles havia sangrado em meu braço por cima do sobretudo. Pego minha bolsa onde havia um guardanapo do Mcdonald's. Limpo meu braço. Arrasto os homens para um beco onde havia latas de lixo. “Nossa, ô homens pesados!“ Deixo-os atrás delas. São quatro horas da tarde, não vou deixar que pessoas os vejam inconscientes no meio da rua.

Dou sorte que não há câmeras na rua Pittsburg. Eles escolheram o lugar perfeito. Mas como me acharam? Como sabiam que eu iria passar por aquela rua?

Palpite: de todas as ruas sem câmeras de Seattle, apenas uma ficava deserta do meio-dia as cinco da tarde. E esse era o caminho que eu percorro todo santo dia. É o maior percurso de chegar em casa, e eu gostava desse detalhe. Eles me viram na câmera do shopping aquele dia e perceberam que eu "sumia" na rua Pittsburg. Ou apenas testaram aquela rua, no dia que passo por lá, apenas o acaso.

De agora em diante só andarei de carro. Que se dane que é chamativo. Eu tinha muitos outros problemas agora.

Cheguei em 'casa'. Tomei um banho, coloquei roupas limpas. Ok, vamos contar para o Papai, que animação...

Digito os números e o celular chama. Depois de uns cinco bips, alguém atende:
—Boa Tarde, o Sr G.R. não está presente. - só a agência da família chamava meu pai de G.R.
—Boa Tarde, eu preciso falar com o meu pai, hum, AGORA.
—Ah sim, Srt E.G.R. seu pai estará na linha em um minuto.
—Ok, Paul, e da próxima vez, apenas me chame de Melissa, tá bom? - eu reconheci a voz grossa.
—Ok, Sr Melissa, seu pai está na linha.
—Pai é...- ele me interrompe
—Melissa, você está bem ?! - ele disse quase gritando.
—Sim pai, e por favor não me interrompa. - ele faz silêncio e eu digo tudo o que aconteceu. Depois de dois minutos de silêncio ele me diz:
—Por que você não usa o carro, querida?
—Porque é muito chamativo. E pai, - o terror chega às minhas emoções, começo a chorar - o que que eu faço? Eu vou ter que matar pessoas? É pra isso que você me deu aquela bolsa?
—Melissa, querida, tenho muitas notícias ruins pra você. - ele diz, com a voz totalmente arrasada.