A maga piscou lentamente, numa tentativa fracassada de abrir os olhos. Por maior que fosse sua determinação em descobrir onde estava, seu corpo simplesmente não a obedecia. Retorceu o rosto ao sentir a latejante dor na lateral de sua cabeça, provocada pelo agudo timbre de uma voz desconhecida.

– Será que ela não vai acordar logo?! - rugiu uma voz, aparentemente feminina, demonstrando impaciência e frustração. Juvia não pôde deixar de se perguntar quantas pessoas haviam ao lado da cama em que acreditava estar.

– A garota bateu a cabeça e desceu uma ladeira, sem contar que graças a ela pudemos fugir... não reclame - disse outra voz. Esta era ponderada e calma, mas ao mesmo tempo transmitia certa irritação e impaciência, assim como a primeira.

– Aaahh.... vocês são muitoo chatoos... deixem a Juvi-chan dormir em pazz... - resmungou uma voz escandalosamente infantil, de acordo com o som, fazendo beicinho no processo. Juvia teria erguido uma sobrancelha se pudesse, apenas para perguntar como aquela garota sabia seu nome.

–Será que vocês, por favor, podem ser menos barulhentos? - resmungou alguém claramente mais paciente. Era uma voz feminina, porém remetia uma onda de respeito. A azulada imediatamente se lembrou de sua amiga Titânia, porém o sentimento rapidamente a deixou quando o discussão recomeçou.

– Aquele pateta e a mulher ainda não voltaram...- reclamou outro indivíduo desconhecido. Certamente era um rapaz, mas era difícil reconhecer o tom em que falava.

Antes de ter chance de mesmo pensar em fazer algo, a porta rangeu , se abrindo com um estrondoso baque, revelando a chegada de mais desconhecidos.

A situação estava ficando cada vez mais desconfortável. Presa em uma cama, sem ao menos poder abrir os olhos ou falar e cercada por um série de completos estranhos.

Como se pudesse piorar...

– Ela ainda não acordou?- Juvia se fez alerta ao reconhecer a mesma voz que a socorrera. Agora que parara para pensar, todas as memórias lhe voltavam, lentamente abrindo caminho por entre os pensamentos embaralhados.

– Está na frente... esse troço pesa! - reclamou, ofegante, outro personagem do devaneio que Juvia agora acreditava ter.

Uma brisa quente e se suave alcançou sua orelha, e uma voz calma e maternal finalmente a despertou de sua semi-consciência.

– Acorde Ju-chan - disse, quase como se seu nome fosse uma doce melodia.

Finalmente a maga sentiu sua boca responder a seus chamados. Com os olhos ainda fechados, murmurou em sua voz mais rouca.

– C-como vocês sabem... o nome das Juvia?

– Você é a maga da Fairy Tail, certo? Eu a vi chegar, mas... depois que entrou no gabinete a perdi de vista. Peço desculpas. - respondeu sinceramente

–Juvia não entende... o que aconteceu? - perguntou sentindo o estômago afundar ao finalmente recobrar completamente as memórias.

–Bem, eu já expliquei a todos. Desculpe, mas preciso cuidar de alguns assuntos - a misteriosa mulher parecia se remexer na cadeira - será que poderiam explicar? - disse, provavelmente se virando para os donos das vozes anteriores.

– Vamos explicar - respondeu a garota que Juvia rapidamente associara a Erza. - Está ouvindo?

A maga assentiu, murmurando um forçado "sim " em resposta.

– Há dois dias atrás, naquela noite... caímos em uma armadilha. Uma guilda negra poderosa forjou missões e distribuiu a informação para várias guildas, marcando locações diferentes da cidade como ponto de encontro. Eles nos reuniram e, de alguma forma, nos noucauteram e nos puseram lá. - disse lentamente

– Mas... por que? - sentiu a necessidade em perguntar

–Não sabemos ao certo. Acreditamos que fosse algum tipo de experiência... ou talvez estivessem tentando roubar nossa magia... não sabemos. Mestra disse que ainda vai nos explicar. Mas, desde aquela noite, estranhamente nossas capacidades mágicas parecem ter aumentado, vamos descobrir hoje... quando o sol se pôr. - finalizou, mantendo a voz calma e contida.

–Juvia acha que entende, mas... mestra? - questionou, sentindo imediatamente estúpida por precisar perguntar.

– A que acabou de sair... Masaya Panginoon . Por algum motivo precisamos chamá-la disso... algum motivo provavelmente inútil - a última parte a maga se surpreendeu por ouvir. De acordo com a distância entre ambos e com o aparente tom em que falara, ela não deveria nem mesmo ser capaz de saber que o rapaz dissera algo. Algo deveria mesmo estar errado...

– Ainda não nos apresentamos. Sou Liz Maingat - disse a garota que a explicara antes.

–Juvia é... vocês já sabem o nome de Juvia... - respondeu abobadamente

–É Juvia dã... - respondeu outra voz feminina, a que a maga reconhecera como a "irritada" do grupo.

–Sabe... não vai poder nos distinguir se não abrir os olhos...- disse Liz, um tom ligeiramente brincalhão se fazendo mostrar.

A azulada forçou as pálpebras fechadas, e, para sua surpresa,lentamente consegui abri-las. Quase deu um salto da cama ao perceber as condições em que estava.

Juvia trajava as mesmas roupas de antes, porém seu corpo estava limpo e, para a sua surpresa, livre de hematomas ou marcas que comprovassem a situação em que estivera. Seu corpo recuperado repousava em uma cama simples, porém macia e humildemente confortável.

Forçou seus braços a trabalharem, repousando-os por trás de si e fazendo-os sustentar seu corpo enquanto se sentava.

– Finalmente... achamos que não ia abrir os olhos nunca... - disse um rapaz de intensos olhos de um castanho médio.

A maga rapidamente procurou pelas possíveis donas das vozes de antes. Seus olhos pararam ao encontrar uma figura de estatura média e madeixas negras presas irreverentemente num coque bagunçado.

Juvia esticou ligeiramente o braço e apontou na direção da figura.

– Liz- san? - questionou, ainda pouco desperta.

A garota deixou um lento e quase imperceptível sorriso se mostrar, e assentiu solenemente.

Naquele momento, a mulher da chuva apenas quis se virar para os outros e ordenar algo com "sejam educados, digam seus nomes!", mas como ainda não conhecia bem o grupo, conteve sua súbita vontade.

– Saori Galit - respondeu uma morena de cabelos cor de mel com algumas poucas sardas no rosto, inclinando levemente a cabeça para o lado. A garota trajava uma calça caqui verde musgo e uma blusa branca e larga de mangas curtas, algo não muito adequado a sua altura pouco desenvolvida. Não parecia ser o tipo de pessoa que se importa com aparências e, apesar do tom de voz autoritário e talvez comicamente mandão, não parecia ter intenções ruins.

– Sou Klein Punchman - disse um louro de olhos amendoados e franjas lateris, enviando-lhe um sorriso tão galante quanto exótico.

– Rin Blastrock - acenou um garoto de pequenos óculos redondos e rosto quase angelical. Seu cabelo estava repartido ao lado esquerdo e sua expressão oscilava entre seriedade e diversão.

– Faltam dois... - resmungou a menina baixinha

– Yano Kahel , prazer. - O som de sua voz surpreendeu à Juvia, fazendo-a se virar para encará-lo. Era um homem forte e alto, de feições tão delicadas quanto tensas. Os fios bagunçados de seu cabelo castanho ligeiramente avermelhando recaiam ao redor dos olhos, que possuíam um leve brilho arroxeado. A menina imediatamente focou em seus olhos, eram retos, porém de certa forma, curvilíneos e diferentemente da maioria dos rapazes; não eram tão pequenos, porém isso não o fazia parecer mais infantil ou até mesmo fofo.

Ela desviou os olhar, tentando mascarar o fato de que estivera observando suas feições. O rapaz moveu o pescoço torneado, e com um sorriso pequeno e compreensivo, iniciou uma conversa.

– Então... é da Fairy Tail, não é? Ouvi dizer que é uma boa guilda - disse, contrariando a primeira impressão que Juvia tivera de si. A princípio, parecera um rapaz calmo e contido, talvez até mesmo mau-humorado.

A mulher rapidamente varreu o pensamento. Ele ainda parecia calmo e a expressão estóica em seu rosto- aquela que fazia Juvia se lembrar de si própria- não abandonara seu rosto.

Apenas estava sendo amigável. Foi o que concluiu por fim.

– É uma ótima guilda. Na Fairy Tail todos são uma família e se ajudam... nenhum amigos nunca fica para trás, é um lugar mágico. - sorriu ao se lembrar do lugar que tinha orgulho em chamar em casa.

– Bem... não queria te dar essa notícia, mas talvez demore um pouco até poder voltar. - respondeu com aquela mesma expressão, porém, uma pitada de pena marcava seus olhos.

– J-juvia... não pode ... mas... - parou no meio de sua sentença, tomando uma respiração profunda e acalmando a si mesma.

–Juvia gostaria de saber o motivo - ergueu a cabeça e exigiu, já recomposta.

– Como eu disse, tudo será dito ao pôr do sol - disse Liz, evitando seu olhar.

A mulher da chuva assentiu seriamente, e inclinou a cabeça para o lado com um longo suspiro.

Agora só lhe restava esperar.