Acordei com meu despertador e devo ter clicado no botão soneca umas 10 vezes até eu finalmente levantar, atrasada. Se não tivesse combinado com Miles de ir com ele até o colégio eu teria faltado à primeira aula, mas coloquei rapidamente uma calça jeans preta e uma camisa cinza e larga. Escovei os dentes e esqueci de arrumar o cabelo, fui desembaraçando-o com os dedos na escada mesmo, fiz um sanduíche e coloquei café num copo térmico e fui comendo.

Miles já estava me esperando quando cheguei na frente da casa dele. Estava com uma camiseta azul marinho e uma calça preta, bonito como sempre. Eu sorri e ele sorriu de volta. Droga, eu namoro e amo meu namorado, não deveria flertar com o vizinho, por mais bonito que seja. Tirei esses pensamentos da cabeça antes que ficasse mais estranha a situação.

— Bom dia – ele disse – vamos?

— Bom dia – assenti.

Nós fomos conversando sobre o universo e o que era o infinito e coisas do tipo, honestamente não sei como essa conversa começou, acho que foi com um coelho que passou na nossa frente e que me fez lembrar de um filme chamado Donnie Darko, onde tem um coelho gigante, apocalipse e viagem no tempo, acabou que a conversa fluiu. Chegamos ao colégio, Miles foi encontrar os amigos dele e eu fui procurar Dan, ou alguém.

 Quase no horário da aula e eu não encontrava Dan em lugar nenhum, até que desisti e encontrei Callie. Não dava tempo de explicar tudo e, apesar de ela ser minha melhor amiga, não acreditava muito naquela história, mas eu iria contar mesmo assim, pois eu tinha que convencê-la.

 - Tudo bem, mas depois vamos conversar viu Lucinda, não fuja de mim! Ah, sexta vai ter uma festa na casa de um menino do time de basquete, vamos, vamos?? – Escutei o que ela disse, mas reparei que Dan chegou quase atrasado, e estava com Cameron, achei estranho – Luci?

 - Hã? Ah! Eu vou sim.

O sinal bate e entramos para a aula, era história e Cameron era minha dupla para aquela redação sobre a Guerra Fria que não tínhamos terminado. Ele sentou ao meu lado e logo terminamos, no tempo que havia sobrado não me aguentei

— Você e o Daniel se conhecem? – perguntei.

— Seu namorado? – ele abriu um sorriso malicioso que não dava para identificar se ele estava tendo um caso com meu boy ou se estava tentando flertar comigo – digamos que eu estou aqui para fazer o que ele não dá conta sozinho.

— O quê? Como assim? – fiquei ainda mais confusa.

— Lucinda, está na hora de você saber, mas não por mim.

— Do que você tá falando piá? Deixa de ser besta e diz logo! – fiquei nervosa e ainda mais curiosa

— Da minha boca não sai mais nada, agora, se me dá licença vou adiantando umas coisas para a minha próxima aula.

Dan sumiu o dia todo que eu aproveitei para falar com Callie. Ela não engoliu a história, mas não ficou me retrucando e disse que iria ajudar.

...

Sexta-feira chegou e meu pai levou alta, quase que não fui para a festa mas ele me convenceu a ir. Mandei uma mensagem para o Dan dizendo para ele me encontrar lá, se ele resolvesse aparecer.

Quando eu cheguei Callie já estava meio louca e já me entregou uma bebida, aceitei e achei até saborosa, mesmo sem saber o que tinha lá. Fazia algum tempo que eu não bebia e, como não fazia isso com frequência, fez efeito rápido e logo eu já estava mais alegre que o normal.

Cameron estava lá e me cumprimentou, ofereceu-se para me trazer algo para beber, mas eu disse que ia com ele. Na cozinha, onde estavam as bebidas ele misturou vinho com Coca-Cola e eu achei muito bom. Fomos até o quintal onde tinha um banco e uma piscina com alguns doidos na água, naquele frio. Sentados lá e eu com a língua solta comecei a falar:

Sabe, o Daniel não fala comigo faz dois dias e eu tô ficando puta da cara, ele agiu tão estranho e você, que eu nunca tinha ouvido falar, me disse aquelas coisas sobre ele também, e eu odeio quando ficam escondendo coisas de mim, isso é tão injusto. Quando meu pai e minha mãe fizeram isso comigo era porque estavam tentando esconder de mim que perderam o meu ingresso pro show da minha banda favorita. Por isso não deve ser coisa boa, é, não é coisa boa. E você nem por consideração por nossa parceria na redação me conta...

— Pelo visto você é daquelas que falam demais quando bebem – ele me interrompe – mas eu sei acabar com isso.

Então Cameron me beija, e eu não consigo evitar beija-lo também, ele passa suas mãos mornas nas minhas costas. Seu perfume é tão bom, marcante. Até que após um tempo, ofegantes, paramos.

— Eu disse que faço o que o Daniel não dá conta – ele fala num tom sarcástico, olhando em meus olhos, ainda muito perto, tanto que sinto seu hálito de álcool.

Daniel, droga! O que eu tinha acabado de fazer? Me afasto dele, mas não consigo negar que foi muito bom, fiquei meio zonza, então vejo Miles se aproximando.

— Porra Cam! Você passou dos limites, de volta! – É a primeira vez que vejo Miles furioso, e por minha causa? "Cam"? Ele é íntimo do Cameron e até o chama por um apelido?

— O Sr. Perfeição pode se divertir enquanto trabalha e eu não? Isso que eu chamo de injustiça. – Cam se defende.

— Você sabe que não é bem assim...

...

Eu dormi, sim, no meio daquela discussão doida, eu dormi. Não tinha momento melhor não Luci? Acordei com Miles cuidado de mim, num sofá, dentro da casa. Tinham poucas pessoas então deduzi que a festa estava no fim. Callie estava conversando com Ari no sofá que estava na nossa frente.

— Parece que alguém acordou – Ari riu – Luci, quando você vai aprender que festas são para curtir e não dormir?

— Você sabe como é – falei, me sentando corretamente – bateu um soninho eu durmo em qualquer lugar.

Conversamos um pouco e quando as duas se distraíram perguntei ao Miles se mais alguém sabia, ele disse que não, e que o pessoal da piscina não vai lembrar nem o que eles fizeram essa noite, quem dera lembrar o que os outros fizeram.

— Você deve pensar que eu sou uma puta, que traio assim sempre...

— O Cam tem esse talento de desvirtuar qualquer menina, ele tem quase mais culpa que você.

Miles dirigiu o carro de Ari e combinaram de ela buscar no dia seguinte. Deixou todos em casa e por fim chegou nas nossas.

— Entregue sã e salva... quer dizer, nem tão sã assim. - Ele me faz rir

— Obrigada e desculpe ter dado trabalho essa noite.

— Lucinda Price, qualquer trabalho que você me der será um prazer.

Desejei boa noite e sai do carro, cheguei em casa, recebida por um Aquiles preocupado que subiu comigo até o quarto. Me aprontei pra dormir e deitei na cama, Aquiles deitou também.

— Fiz besteira hoje Quiles... E não estou entendendo nada.