DIA 1

POV's Terence

Foi com um impulso que acordei.

Uma menina magrinha sentava ali perto. Ela tinha os cabelos escuros e pele bronzeada. Minha visão estava meio embaçada, não conseguia ver seu rosto.

– O que... - minha voz estava fraca e rouca

Ela se assustou quando me ouviu. Correu para fora do meu campo de visão e gritou

– Ele acordou!

Olhei em volta. Ok, não estou em casa. Era uma cabana feita de folhas. Estava deitado em um cobertor fino e apoiado numa almofada de mato e panos. Ah, sim. O acidente. Estávamos cuidando dos feridos. A cobra. Puts, aquela cobra. Ela me picou.

Levantei meu tronco. Minha perna estava muito inchada, com um curativo na batata da perna. A calça estava rasgada, fazendo um semi-short. Ri, desanimado e voltei a repousar a cabeça, que agora doía.

Um grupo de pessoas entrou na cabana. Alguns se aproximaram, para observar meu machucado. Um deles disse "Aê, Charlie!" Para a menina magra. Ela abriu um sorriso e respondeu

– Fazer o que? Eu sou o amuleto da sorte de vocês.

– Aham - Respondeu o mesmo menino - se duvidar foi por sua causa que o avião caiu.

Ela empurrou ele e foram para fora da cabana. O lugar estava meio apertado e abafado com tanta gente dentro, mas as pessoas estavam saindo aos poucos, ao perceber um garoto doente com uma perna do tamanho de um elefante não era legal de se olhar.

Uma garota ruiva adentrou o lugar. Uau. Era incrivelmente linda. Um menino se abaixou ao meu lado

– Aquela é Helena Pazzinato. Salvou sua vida, campeão! Ah, e foi mal pela calça.

Parecia uma garota leve e descontraída, muito amigável e falante. O tipo de pessoa que todos gostam de ficar por perto.

Helena se aproximou e sorriu

– Como está? - Ela se ajoelhou ao meu lado

– Eu não estou morto... É um bom sinal, não?

Ela soltou uma risadinha

– Claro. - virou-se para trás - Logan, faz quanto tempo que trocou o curativo?

Ele, que estava encostado na vareta principal da estrutura, olhou para ela, assustado:

– Uh, era para trocar?

– Ai, eu não acredito - levou sua mão até a cabeça, num tapa à própria testa.

– Foi mal, mas eu sou só o cara do futebol americano. Meu cérebro nem é tão grande assim.

Ela soltou o ar e sorriu pra ele

– Não, tudo bem. Me alcança os primeiros socorros por favor?

Ele trouxe a maleta para ela, que sussurrou um "brigada", então virou-se pra mim:

– Vai arder um pouco.

Ela removeu o curativo com cuidado, e expôs uma ferida nojenta. Vou poupar você, querido leitor, e não dar detalhes da grotesquidão do meu machucado.

Enfim, estava feio. Ela enrugou o nariz. E passou um pouco de água.

– Não podemos gastar muito de nossa água -ela explicou - o estoque é muito limitado, e não sabemos por quanto tempo vamos ficar aqui. -ela abriu um frasco com cheiro forte - se prepara. Vai arder.

Assenti com a cabeça e ela passou um pouco num lenço, e então na minha perna.

Nada descreve melhor minha situação do que 'puta que pariu'. Parecia que Helena estava injetando uma solução de "dor suprema" com "infelicidade eterna". Não era exatamente legal. Mordi o lábio inferior para abafar um grito. Senti gosto de sangue. Boa, Terence!

Ela improvisou um curativo e fez uma cara de insatisfeita:

– Eu não sou uma medica nem nada... Eu mal sei o que estou fazendo. Me desculpe se der alguma besteira.

– Hey, você não precisa se desculpar. Você foi a única por aqui que conseguiu fazer alguma coisa, não é mesmo?

– É, acho que sim - ela sorriu - então... Te vejo por ai?

– Te vejo por ai. - Acenei com a mão antes de ela sair da cabana.

Passei algum tempo deitado, pensando no desastre que estava acontecendo com a gente, mas logo espantei os pensamentos de minha cabeça e resolvi ir ao encontro dos outros.

Olhei para minha perna e me irritei comigo mesmo por ter feito uma besteira tão grande. Tentei dobrar o joelho e ignorei a dor. Coloquei os dois pés no chão. Fiz uma pequena força para ficar em pé, mas consegui.

Pus meu pé direito pra frente, e me desequilibrei no mesmo instante. Se não me segurasse numa estaca ali ao lado, teria dito um "olá" ao chão.

Ok, não estava nas condições de andar normalmente. Decidi arrastar a perna machucada pelo caminho.

Consegui chegar à frente da barraca, para poder afastar os panos da entrada e apreciar uma das cenas mais fascinantes da minha vida...