Elas voltavam para casa. O hospital estava um pouco cheio, porém as duas meninas foram atendidas com mais rapidez pela emergência do caso. A cabeça de Brittany sangrava, o sangue escorrendo pelo seu cabelo loiro, muito mais visível do que seria em um cabelo escuro como o de Santana. Para variar um pouquinho, a morena havia feito um escândalo com o que a mulher da recepção pediu para a loira preencher um formulário antes de ser atendida, apenas com poucas informações como nome e endereço. A latina gritava por seus direitos de paciente, e como ela sabia que isso não era um protocolo em tal emergência já que estava cursando a faculdade de medicina. Brittany apenas tentava a acalmar, uma mão em seu ombro e a outra sobre sua própria cabeça, tentando estancar o ferimento que ainda sangrava.

As duas haviam se mudado para Nova York faziam-se, mais ou menos, quatro meses. Quando Brittany terminou o ensino médio, veio correndo – no caso voando – para NY, aparecendo no pequeno flat que Santana tinha conseguido para si mesma como uma surpresa. Elas não estavam juntas, tecnicamente, mas isso não as impediu de se beijarem em desespero e saudades e se jogarem no sofá de Santana para, como a loira falava, “fazer amor”... Com qualquer outro, a latina reviraria os olhos e perderia a vontade, porém com a grande pequena loira era diferente. O coração aparentemente gelado da menor se derretia por seu corpo inteiro.

Elas conversaram. Conversaram bastante, até. Seria um pouco demais se elas não tivessem tantos assuntos mal resolvidos e tanto tempo sem se ver. Depois de conversar, e chorar, e conversar, e sorrir, elas chegaram a uma conclusão: Teriam seu apartamento. Viveriam seu merecido “felizes para sempre”, juntas. Foi um pouco trabalhoso, convencer seus pais a ajudar financeiramente, já que elas ainda eram muito novas. Porém, nada era impossível para o casal.

Voltando para o agora, hospital e tudo o mais, Brittany já estava levando os pontos no pequeno, e um pouco profundo, corte na cabeça. Santana se recusava a deixar o seu lado, segurando seus dedos longos e unhas curtas e roídas fortemente. Enquanto a loira tinha os olhos fechados, quase cochilando sem se importar muito com a costura que estava recebendo, era possível dizer que a acompanhante sentia muito mais dor que a paciente.

- Como mesmo que isso aconteceu? – perguntava o doutor, terminando os pontos.

- Eu estava pegando o jantar debaixo da bancada da cozinha. A bancada é de mármore. Mármore é duro quando você bate nele, principalmente com a cabeça – disse a loira com calma, a voz cansada e mais grossa.

O médico riu de leve, se divertindo com a história. Fez um curativo rápido e dispensou as meninas, orientando os remédios que Brittany tomaria caso sentisse dor e os cuidados para tomar enquanto os pontos não fossem retirados. Marcaram a consulta para voltarem e retirá-los, e voltaram para casa no carro de Santana.

As manchas longas e cheias de sangue seco ainda estavam presas no cabelo de Brittany. A loira pegou um banquinho minúsculo que elas usavam para apoiarem os pés, e o colocou dentro do Box, começando a se despir. Santana a ajudou, sempre com o olhar preocupado em sua cabeça, as mãos macias e quentes de suor abraçando a namorada por trás.

A loira grande deu seu jeito para caber no banquinho, sentada de lado para Santana, porém suas pernas longas mal cabiam esticadas no Box. Com ajuda da latina, se ajeitou um tanto desconfortavelmente, porém foi o único jeito dela caber.

- Quem mandou você ser grande assim? – disse Santana, pegando o shampoo e ligando a água mais gelada, sentada no lado de fora do Box. Se Brittany não cabia sentada, imagine as duas.

- Ninguém nunca me avisou que precisava se sentar no chuveiro... – a loira disse com a voz fraquinha, relaxando com o que as mãos ensaboadas de sua namorada começaram a lavar seus fios ensanguentados.

- San, antes de você lavar meu cabelo, posso tirar uma foto e falar que virei ruiva? – a latina riu, porém a expressão esperançosa da dançarina mostrava que ela havia falado sério.

- Acho que seus pais se preocupariam se você postasse isso no facebook... Não quero eles te arrancando de mim – disse a morena, continuando a lavar o cabelo longo.

- Unf, tudo bem. Mas, e se um dia eu ficar ruiva? Quer dizer, a Quinn já teve o cabelo rosa, aquilo foi bastante sexy.

Santana revirou os olhos, se relembrando da rebeldia passageira da melhor amiga e se incomodando minimamente com a namorada usando o termo sexy para outra mulher.

- Não é que ficaria ruim, nada em você fica, mas eu gosto das minhas garotas loiras – disse piscando, com um sorriso.

O rosto divertido de Brittany, de repente, se fechou em uma expressão um tanto quanto entristecida. No mínimo, chateada. Se virando no banquinho para ficar de frente para a namorada, perguntou com a voz frágil:

- Você tem outras garotas, San? – a pergunta a pegou desprevenida, sem entender o por quê. Depois, examinou o que tinha falado, e respirou fundo trazendo o corpo ensaboado e molhado de Britt para junto de seu peito.

- Perdão meu amor, eu me expressei errado. Eu gosto da minha garota loira. – se corrigiu, dando um beijo no topo da cabeça da namorada.

A dançarina sorriu amplamente, envolvendo a cintura da latina com os braços fortes e a apertando carinhosamente.

- Eu adoro quando você me chama de amor.

- Mas você é, não é?

- É, eu acho que sou – disse a loira rindo, logo em seguida levantando a cabeça para apoiar o queixo no tórax da morena menor e pedindo um beijo. Se separando do beijo devagar, e sorrindo, a morena concluiu:

- Vamos logo terminar o seu banho que eu quero te beijar inteira, na nossa cama.