Sarah escrita por AnaCarol


Capítulo 13
Bob Jorse


Notas iniciais do capítulo

"You tell me to hold on / But innocence is gone" (Bleeding Out - Imagine Dragons)



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  Eu fecho o punho embaixo da mesa à medida que vejo Bob Jorse se aproximando de nós. Ele e seus amigos bajuladores ao seu redor, como sempre. O garoto tenta ignorar minha presença, mas é inevitável seu olhar de desaprovação sobre mim, antes de alcançar o ombro de Robb.

  -E aí, Robb, cara! – Ele meio diz, meio grita, estapeando as costas de Robb.

  -Oi, Bob... – Ele o cumprimenta de volta, sem o mínimo da animação do menino popular.

  -Então – Confiante, Bob se senta ao lado de meu colega, acabando com a visão de mim em seu horizonte. Eu quase posso ver seus lábios se reprimindo em desgosto. – é aqui que você tem passado o intervalo, cara? Por quê?

  Argh. Pra mim já chega. Não gosto de Bob Jorse nem de longe, nem de jeito algum. Aliás, eu nem entendo como alguém chamado “Bob” pode ser o garoto mais popular da escola. Ou como ele pode ser tão irritante.

  Enquanto Bob tenta estabelecer uma conversa com Robb, e todas as atenções se focam nos dois, eu discretamente retiro meu saco de papel da mesa e me levanto, ansiosa para deixar de ouvir o garoto, mas hesitante em deixar Robb sozinho com esse tipo de pessoa. Ele já fez parte do grupo deles, afinal, e não tenho certeza de que gostaria que voltasse a ser.

  De qualquer jeito, eu continuo caminhando. Até que...

  -Lara, aonde você vai? – Um dos amigos de Bob zoa.

  “Pra longe de você, nojento” – Eu penso, mas não digo. Em vez disso, Robb levanta a voz por mim:

  -O nome dela é Sarah, estúpido. – Dá para ouvir toda a falsa simpatia com que ele tratava Bob até então sumir de sua voz.

  -Sarah, Lara, Maria... Ela não liga. – O garoto retruca.

  -Bem, deve ser porque você é inútil demais pra qualquer um se importar com o que você diz. – Robb diz, o que faz todos do refeitório rirem e fazerem “Uh...!” na direção do menino. Um sorriso nasce em minha boca.

  Isso até que o garoto avance sobre Robb, é claro.

  Ele é derrubado de costas no chão, o que o faz bater a cabeça fortemente no piso duro, já que suas pernas ainda estavam enganchadas ao banco. Eu guincho, e me apresso a abrir caminho pela multidão que se formou.

  -Ei, faça alguma coisa! – Eu grito para Bob, ainda longe do centro.

  Ele varre o aglomerado com os olhos à minha procura, mas quando me encontra, apenas dá de ombros.

  -Hm, não... Não posso fazer nada.

  -Como assim, não pode fazer nada? – Eu empurro um garoto para longe de meu caminho e chego até Bob, brava. – Qual é o seu problema?

  Ele dá de ombros novamente. Irritada, eu tenho vontade de voar pra cima dele assim como o menino fez com Robb, mas entendo que essa não deve ser minha prioridade. Corro até os dois garotos rolando no chão, onde Robb está levando socos aos montes, desfavorecido por sua cabeça machucada.

  Espero até que o menino traga seu braço para trás, preparando um novo golpe, para agarrar seu cotovelo com unhas e tudo; confuso, ele para de fazer qualquer coisa e se vira até mim. Eu sorrio, ordenando que se levante.

  -Nenhuma garotinha manda em Will Donn, não. – Ele reclama, chacoalhando o braço para se livrar do meu aperto. Com a outra mão, seguro seu cabelo, puxando sua cabeça para trás.

  -Cala a boca, Bill. – Replico, puxando seu cabelo para cima com tanta força que o obriga a levantar. A esta altura, o refeitório está em completo silêncio.

  Troco olhares com Robb, que me pede silenciosamente para não machucar o menino. Reprimindo os lábios, eu o solto com um empurrão. Posso sentir todos os olhares sobre mim quando Will atinge Bob, e o bobo maior se irrita.

  O cara põe seu amigo atrás de si, dá alguns passos ameaçadores para frente e aponta diretamente para meu nariz.

  -Você, minha querida, é esquisita. – Ele sibila; como se pensasse que eu me importo. Então se vira até Robb, que ainda tenta manter-se de pé e solta uma gargalhada, seguida de uma negativa com a cabeça. – Fale comigo quando se arrepender disso.

  -Ele não te fez nada. – Eu defendo meu único amigo. Bob apenas se engraça um pouco mais.

  -Bem, mas a qualquer ponto ele vai se arrepender de você. – O garoto diz. – Não se iluda, garotinha, estou te avisando. Ou você acha que alguém consegue passar tanto tempo perto de gente como você?

  -Nesse caso, eu agradeço por você não querer passar tempo comigo, imbecil. – Eu retruco, não deixando transparecer nenhum sentimento em relação à sua fala.

  -Cedo ou tarde, ele vai perceber o que fez e vai sair correndo. – Bob continua, como se eu não houvesse dito nada. – E você vai se ver sozinha de novo, mais uma vez. Como sempre.

  Depois disso, ele vira as costas para mim e anda de volta para sua mesa na entrada do refeitório. A multidão de alunos se dispersa, e finalmente – apesar de ainda estarmos sob os olhares dos curiosos e fofoqueiros – eu e Robb voltamos a ficar sozinhos.

  Eu desvio o olhar do dele enquanto o ajudo a se levantar e se sentar à mesa. Estou balbuciando algo sobre ir à enfermaria pegar gelo para seus ferimentos, mas assim que eu me viro, Robb me detém. Sua mão quente envolve meu pulso.

  -Sarah... – Ele chama, em baixo volume.

  -O quê? – Eu pergunto, sem coragem para me virar de volta.

  -Você sabe que o que ele disse não é verdade, não sabe?

  Eu suspiro. As frases de Bob ainda viajam em minha mente, penetrando cada vez mais fundo e ferindo minha confiança ainda mais; mas sei que isso não é culpa de Robb.

  Hesitante, eu assinto. No entanto, isso não o deixa satisfeito.

  -Deixe-me ir, Robb. Você vai ficar com um hematoma. – Eu digo.

  -Antes, olhe pra mim. – Ele pede.

  Eu me viro, encontrando seus olhos castanhos profundos. Tento esconder a tristeza, mas isso parece uma tarefa impossível, portanto nem me dou ao trabalho de tentar falsificar um sorriso. Percebo que estamos nos encarando há um tempo.

  -Robb. - Eu reforço, desviando o olhar e preparada para usar a desculpa do hematoma novamente.

  -Olhe pra mim. – Ele manda. Eu o faço. – Eu não vou a lugar algum. Tá? Você é minha amiga, e eu não vou simplesmente sair andando pra longe. Aguenta firme, confia em mim.

  Eu observo seus olhos por mais um tempo, buscando e revirando suas pupilas por um sinal – qualquer sinal – de que ele pudesse estar mentindo, ou prometendo algo apenas por prometer.

  Mas mesmo quando eu não consigo fazê-lo, mordo o lábio inferior em preocupação. Não sei por que Robb me consideraria sua amiga e me colocaria acima de sua vida glamorosa e divertida com os garotos populares, mas se tem uma coisa que eu conheço bem são promessas...

  Elas podem ser quebradas facilmente. E eu não sou inocente o bastante para pensar que a promessa de Robb é diferente de qualquer outra. De certa outra.


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Notas finais do capítulo

Caso a linha do tempo da história não faça sentido: os capítulos às vezes pularão certo tempo (geralmente mencionado, ou então, insignificante) para contar a rotina de Sarah / Acontecimentos importantes ;)



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