Já tinha passado um mês depois de minha briga com Nicko.

E durante esse tempo, não tive mais pesadelos.

Não pensei em nenhum tipo de explicação para os meus sonhos não acontecerem mais. Porém isso melhorou um pouco mais a minha relação com meus pais.

Minha mãe disse que foi apenas um “milagre”, já o meu pai disse que eu finalmente quis parar de ser louca por vontade própria.

Claro. Porque eu sempre quis ter pesadelos sobre a minha provável morte.

Na escola não mudou muita coisa, mas tanto faz para mim. O que importa é que eu realmente tenho um amigo lá pelo menos.

— Olá! Parece mais calma do que antes.

— Pareço? – falo meio sarcástica, tirando meu livro de geometria e de história antiga do armário.

— Parece sim – Gerad apoia as costas no armário do lado, de braços cruzados e um sorriso no rosto. – E você voltou a conversar comigo de repente. Por que disso?

Fiquei quieta por um momento e desviei o olhar. Ele empurrou meu ombro e sorriu.

— Estou brincando Caroline! – Ele volta a cruzar os braços, mas dessa vez abraçado com o esfregão que tinha.

Eu o olho torto, mas só de brincadeira. Eu chuto o esfregão e ele escorrega, caindo no chão.

Rio bem baixo e o ajudo a se levantar. Conversamos mais um pouco até ele me dar o troco e me empurrar, onde eu caio de bunda no chão com os livros pesados em cima.

— Ei! – grito em discórdia. Gerad sorri e me ajuda a pegar as minhas coisas no chão.

Assim que coloco a mochila nas costas o sinal bate e acabamos dando um tchau rápido para que ele voltasse a trabalhar.

E eu (logicamente) vou para sala.

Gerad é muito legal. Mesmo sendo quatro anos mais velho do que eu.

Faz dois anos que ele virou zelador da escola e ele nunca me explicou por quê.

Talvez fosse o único emprego pós escola que ele conseguiu naquele momento. Não faço ideia, mas imagino que seja isso.

Mas a única coisa que eu tenho certeza é de que ele já foi paquerado por muitas garotas dentro da escola. Tem algumas garotas que não tomam jeito mesmo e se jogam em cima do coitado... 

Eu sempre vejo de longe ele sendo cavalheiro e ignorando as cantadas. Eu vivia falando que elas estavam quase pulando em cima, porém ele vive retrucando que não sabe o que essas garotas vêm nele.

Bom, se você tem um zelador alto, atlético e de cabelos castanhos meio ondulados com olhos verdes e bom caráter. Eu já tenho uma noção do porquê.

Só sei que hoje em especial, logo depois da aula, estava me sentindo um pouco mais leve.

Não sei de verdade o real motivo, mas só sei que queria logo era voltar para casa.

Apenas tenho uma sensação muito boa quando chegar lá.