Sou Meu Pior Pesadelo escrita por Radami
O chão estava molhado.
Espera um pouco. Molhado?
Abro s olhos e vejo então que estou deitada em um gramado cinza.
Há uns 20 metros a minha frente, vejo algumas árvores.
Sento no chão e observo tudo que está a minha frente.
Grama. Árvores. Lápides. Flores murchas.
Todas cinzas.
Me sinto um pouco estranha, logo ergo meus braços na altura dos meus olhos e viro minhas mãos para ver alguma coisa diferente.
Sim. Tem algo sim.
Estou cinza também. Totalmente sem cor.
É como se eu estivesse em um filme preto e branco.
Porém um tanto mais macabro, pois não é todo dia que ficamos sem as nossas cores naturais.
Alguma coisa - no meio de tanto cinza- acaba se destacando e me chamando completamente a atenção.
Alguma coisa vermelha.
Me levanto apressada e me dirijo rapidamente até aquele objeto desconhecido.
Quando chego perto, me jogo no gramado para pegar o que está ali no chão.
Um colar.
Fico decepcionada por ser apenas aquilo. Um colar vermelho e com um formato de uma estrela no pingente.
— Coloque-o. - Uma voz fria e sombria sussurra para mim.
Aflita, olho em volta desesperada procurando o dono desta voz.
Nada. Um frio na espinha percorre todo o meu corpo.
Olho bem para o colar e algo nele – além da cor vermelha – me intriga.
Sem motivo nenhum e sem pensar duas vezes eu o coloco no pescoço.
— Até que ficou bom... – diz alguém atrás de mim.
Nicko! Ele está de pé, logo atrás de mim, sorrindo de canto e me olhando. Suas mãos estão nos bolsos da calça. Acho que apesar de tudo ele não se importava com o fato de ser um garoto cinza de cabelo vermelho.
Não, espere... Cabelo vermelho?
Travo a minha mente por um segundo tentado processar aquilo.
— Seu cabelo... – aponto para ele e falo com um tom de voz que normalmente as pessoas usam para uma frase desse tipo: "Tem uma alface no seu dente", mas no caso dele era "Tem uma cor vermelha chamativa no seu cabelo"
— Ah é... – ele me olha e bagunça seu cabelo mais um pouco. – Eu também achei estranho. - eu o olho de uma maneira que talvez significasse "mas o quê?" - Enquanto estava andando por aqui, achei um espelho estranho e só ai que eu percebi essa bizarrice.
Dou de ombros com a informação e me levanto, ficando logo ao lado dele.
— Estranho esse lugar ser todo cinza. – ele comenta. – Não é? – olho para ele, que estava concentrado observando as árvores mortas.
— Tenho a impressão de que conheço este lugar... – as palavras simplesmente saem da minha boca, sem mais e nem menos.
— Conhece? – Nicko me olha um tanto surpreso, ainda com as mãos nos bolsos da calça.
Faço um sinal positivo com a cabeça e olhamos o que tinha em volta.
Natureza morta resume completamente a descrição do lugar.
Quando volto a olhar para o Nicko, percebo que a única coisa se chama atenção em todo aquele cinza é o colar que uso e seu cabelo.
Mas... Por quê?
Tenho certeza que ficarei com essa dúvida por um longo tempo.
— Vamos? – Nicko chama minha atenção e da um passo pra frente, indicando para seguirmos em frente. Aceno com a cabeça, mas continuo parada. – Damas na frente. – diz ele sorrindo e fazendo um gesto com a mão para que eu vá andando.
Tecnicamente falando, vou na frente, mas Nicko estava no meu lado de qualquer jeito.
Ficamos explorando o que tinha em nosso alcance, pois não conseguíamos seguir muito adiante de algumas coisas
— Incorreto!
Novamente, congelo quase completamente.
Aquela voz me fazia entrar em pânico, pois era grossa e rude ao mesmo tempo.
Fico encarando as árvores. Vejo Nicko do meu lado. Ele também paralizou.
Nicko engole em seco e diz que deve ter sido a nossa imaginação ou o vento. Concordo e continuamos andando.
O vento que antes estava calmo, fica mais forte.
Por incrível que pareça, só então percebo que estamos com a mesma roupa da sala, pois o vestido parecia que queria sair voando do meu corpo.
Coloco a mão na frente dos olhos para o vento não bater no meu cabelo para atrapalhar minha visão.
Olho para o topo das árvores e está ficando verde novamente!
— Nicko! –chamo-o balançando seu ombro – Olha! – aponto para as árvores.
Ele olha e sorri junto comigo. As árvores estavm balançando e voltando a cor original.
Era um verde bonito, mas não durou muito já logo nossos sorrisos se foram.
Uma coisa escura a liquida começa a cair em cima delas e deixando-as murchas e cinzas novamente.
Quando percebemos que aquilo estava vindo em nossa direção e de forma muito rápida, percebemos que ali não era um bom lugar a se ficar parado.
Nicko pega meu braço e me puxa, logo começo a correr junto com ele.
Durante essa corrida, o vento fica cada vez mais forte. Não parecia normal.
Nicko e eu corremos o máximo que conseguimos.
Como se não bastasse termos dificuldade para correr contra o vento. De repente ele nos separa.
Literalmente.
Como uma pessoa me puxasse para um lado e outra puxasse Nickolas para o outro lado.
Eu fico tentando alcançar a mão dele desesperadamente. E
— Coraaa! – ele grita, tentando chegar perto dos meus dedos.
Tento agarrar a mão dele, porém o vento me leva para o outro lado me distanciando de Nicko.
Perco o folego por um momento.
Sinto que estou sendo arrastada por alguma coisa, mas é impossível!
Não sentia "mãos" me puxando.
Era como se o vácuo se arrastasse para se livrar de mim.
O vulto gosmento e escuro vem na minha direção cada vez mais rápido. Olho para frente e vejo Nicko tentando se mover para me alcançar.
Tento lutar contra aquele "nada", mas nada adianta.
Já fui engolida por aquela escuridão liquida.
Só que o mais estranho é que não acordei em casa desta vez.
Estou na sala novamente, segurando firme um colar desconhecido como se fosse a minha própria vida.
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