Rin tinha ido passar férias a casa dos tios, mas a verdade é que não se divertia lá muito. Eles raramente estavam em casa e a sua prima Yumi nunca a deixava brincar com ela e com as amigas. Por isso, Rin tinha como único divertimento explorar o enorme casarão em que os tios viviam. Eles não punham qualquer tipo de objecção, apenas tinham dito à criada para não a deixar afastar-se muito no bosque para onde davam as traseiras da casa, não fosse a rapariga perder-se.

Rin era uma criança extremamente curiosa. Tinha apenas sete anos, mas percebia-se que se tornaria uma bonita mulher. Possuía olhos achocolatados e cabelo castanho muito escuro brilhante, comprido e esquadiado. Era uma criança cheia de alegria e vivacidade. Naquele dia, escolheu o sotão como lugar de exploração.

Subiu todos os lanços de escada até chegar a uma grande porta. Esticou o braço para chegar ao puxador e, com alguma dificuldade, abriu a porta. Entrou, tendo o cuidado de a fechar atrás de si. Não queria ser incomodada.

Bem no centro do sotão encontrava-se um grande espelho rectangular emoldurado por um caixilho dourado, profundamente trabalhado. Parecia muito antigo. Tinha algumas manchas de bolor e o caixilho estava ligeiramente ferrugento.

Rin aproximou-se e, sem saber bem porquê, encostou as duas mãos ao espelho e murmurou:

- Para onde me queres levar, estranho espelho?!

Sentiu-se escorregar para dentro do espelho. Assustada fechou os olhos e tapou a cara com as mãos.

Quando voltou a abrir os olhos, estava sentada no chão de um amplo quarto. Atrás de si encontrava-se um espelho idêntico ao da casa dos tios, mas mais bem conservado. No topo do caixilho estavam inscritas as seguintes palavras:

... E AQUI CHEGARÁS

Rin levantou-se e olhou à volta. O quarto era bonito, embora simples. Havia um armário, uma cómoda, um toucador e uma cama de madeira escura. A cama tinha uma colcha de seda com folhas verdes e flores multicolores finamente bordadas. Em cima do toucador estavam alguns frascos de perfume, um pente, uma escova e uma caixinha que a Rin supôs ter joias dentro. Pousada na cómoda encontrava-se uma taça de vidro com pétalas que boiavam numa água avermelhada.

Por cima da cama havia uma janela com os cortinados abertos. Rin subiu para a cama e espreitou pela janela. Dava para uma floresta de altas árvores de folhas verdes e chão vermelho e dourado.

Quando se virou, deparou com uma porta. Supunha que estava na casa de alguém, logo, aquela porta devia dar para o interior da casa. Curiosa como era, resolveu abri-la e bisbilhotar o resto da casa.

Ao abri-la, viu-se num corredor. Numa das extremidades havia uma porta fechada e na outra uma porta aberta que dava para uma salinha. Como tinha dificuldade em abrir portas, decidiu ir até à salinha.

Mais uma vez, a sua decoração era simples. Apenas uma lareira, uma mesa baixa e oval com outra taça de vidro cheia de uma água avermelhada e pételas a boiar, um grande sofá azul e um cabide com uma bonita capa azul escura pendurada.

Rin observou minuciosamente cada objecto e sentou-se no sófa a descansar.

- Ohayo!

Ela levantou-se assustada e olhou para a bonita figura de uma rapariga ruiva que estava atrás do sófa.

- Oh... Ohayo! - respondeu a medo.

- E quem é esta simpática intrusa?

- Eu sou a Rin. - e depois, achando que devia ser simpática, estendeu a mão. - Muito prazer em conhecê-la!

A rapariga contornou o sófa, baixou-se e apertou a mão de Rin.

- Muito prazer, Rin. Eu sou a fada Elianor. - levantou-se. - Chegas-te pelo o espelho?

- Hai. Acho que sim. Fiz alguma coisa de mal?

- Lie, de maneira nenhuma.

Elianor olhou para a Rin que, apesar de ainda estar atrapalhada, já não parecia ter medo.

- Queres voltar para casa, Rin? Se quiseres, eu levo-te.

Rin olhou à sua volta e depois para a fada.

- Eu gostava de ficar mais um pouco - respondeu - Posso?

- Claro! Eu ia agora mesmo fazer um chá para beber com bolinhos de mel. Também queres?

- Oh hai, onegai.

A fada agarrou a pequenina mão de Rin e levou-a até à cozinha. Sentaram-se e iam começar a comer quando alguém bateu à porta que dava para o exterior. Elianor levantou-se e abriu.

- Ohayo, Sesshoumaru. Hoje tens alguém com quem brincar. Entra.

Um rapazinho de aproximadamente nove anos entrou. Tinha olhos de cor dourada e cabelo prateado. Uma marca roxa em forma de uma lua crescente. As suas orelhas eram arrebitadas como as dos elfos dos livros que a mãe de Rin lhe costumava ler. Parecia muito simpático.

- Ohayo, Elianor. Como estais hoje?

- Muito bem, arigatou. Deixa-me apresentar-te a Rin.

Rin levantou-se e estendeu a mão para Sesshoumaru. Mas este não a apertou; em vez disso, fez uma vénia a Rin, beijou-lhe a mão e, quando se levantou, disse:

- Permiti-me dizer-vos que sois a mais bela dama que já vi até hoje.

- A...a... arigatou! - respondeu Rin, corando muito.

Elianor riu suavemente.

- Muito bem, Sesshoumaru. Vejo que tens aplicado nas aulas de etiqueta. Sem dúvida que fostes muito delicado - elogiou Elianor

- Arigatou... Demo...o que eu disse é verdade - Sesshoumaru estava um pouco aborrecido. Não o dissera por mera cortesia. A rapariga era sem dúvida muito bonita.

- Gomenasai, meu princípe.

A fada parecia extremamente divertida, mas a atenção de Rin já estava virada para outro lado.

- És mesmo um principe? - perguntou entusiasmada.

- Sou - respondeu Sesshoumaru, como se fosse perfeitamente natural. - Mas podes chamar-me apenas Sesshoumaru.

- Uau! Nunca tinha conhecido um principe

- Bem, agoras já conheces - Sesshoumaru começava a sentir-se nervoso. Não tinha muito jeito para lidar com raparigas.

- Vocês os dois não preferiam ir brincar lá para fora?

Eles olharam um para o outro e depois abanaram positivamente as cabeças.

- Então vão lá. Não a tragas muito tarde, Sesshoumaru - recomendou Elianor - E tenham cuidado. Fiquem por aqui, não quero que vos aconteça nada de mal.

Elianor deu-lhes um saco com alguns bolos e os dois saíram.

GLOSSÁRIO:

Rin - humana casada com Sesshoumaru e mãe de Saya. É ela quem educa Saya após a morte do pai.

Sesshoumaru - youkai casado com Rin, pai de Saya e rei das Terras da Luz. É morto por Naraku num confronto em frente ao Palácio do Ouro e do Verde.

Yumi - prima de Rin por parte da mãe.