A Filha Dos Mundos escrita por Devill666


Capítulo 45
A carta




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Saya acedeu ao pedido da mãe e adiou o regresso às Terras da Luz para o dia seguinte. A verdade era que, depois de ter chegado novamente àquela casa onde passara tantas e tão alegres férias, as recordações tinham emergido numa autêntica avalancha. Lembrava-se dos desenhos que fazia para os vestidos das bonecas, das histórias do pai, do arroz feito no forno a lenha, dos bolos caseiros da menina Nana, do caminhar sereno do senhor Jaken que morrera há poucos anos, do cheiro a campo das madeiras, das colchas de retalhos... Até se lembrava de olhar bem para o tecto antes de se deitar para vereficar se nenhuma aranha estava lá a tecer a teia. Por isso, foi quase um alívio quando a mãe lhe pediu para ficar ali a celebrar aquele último Natal.

A menina Nana, com a ajuda da menina Sui que viera recentemente trabalhar para ali, preparou um jantar de Natal magnífico. Comeram o tradicional bacalhau cozido com batatas e couves, que estava delicioso. Mas o melhor foram as sobremesas. Havia rabanadas, sonhos, bilharacos, frutos secos, frutas cristalizadas e, é clarp, bolo-rei.

- Eu sei que tu não estás à espera de presente algum - disse a mãe quando acabaram de comer - Mas agora que nos separamos dar-te-ei dois presentes, porque sou tua mãe.

Foraam até à sala de estar e sentaram-se no antigo sofá verde em frente à lareira onde o fogo crepeitava. A mãe retirou os dois únicos presentes que se encontravam debaixo do pinheiro e entregou-os a Saya.

O primeiro era uma linda touca de renda de ouro onde brilhavam pequenas e perfeitas pedras tão vermelhas que parecia dentro delas ardia realmente um pouco do fogo sagrado. A mãe colocou-lhe na cabeça.

- O teu pai deu-ma quando casámos em Omnirion. Foi feita pelos os Elfos - disse a mãe - Agora é tua. É um presente de uma rainha para a futura rainha do Povo da Luz.

- Arigatou, mãe - respondeu Saya, sinceramente agredecida.

O segundo era uma pequeníssima caixa onde havia apenas uma carta lacrada. Na frente do envelope estava escrito « Para a minha adorada filha Saya». Era sem dúvida uma carta do pai. Saya abriu-a ansiosamente; tinha a data do seu décimo primeiro aniversário e dizia o seguinte:

Querida Saya:

Se estás a ler esta carta é porque já morri. E isso significa que infelizmente não estarei presente no dia em que acabares o curso que vais escolher nesse Mundo, ou no dia do teu casamento ( que espero sinceramente venha a realizar-se), ou no dia em que te tornarás mãe, ou em qualquer outro dia igualmente importante da tua vida. Por outro lado, se estás a ler esta carta isso significa que já conheces toda a verdade e decidiste viver para sempre em Caladmirion, o que, devo dizer, não me supreende.

Peço-te que compreendas a razão pela qual nunca te contei a verdade. Contudo, também nunca ta escondi. Lembras-te quando costumavas dizer que eu era um youkai por causa das minhas orelhas pontiagudas? Eu respondia sempre que sim. De certo modo, disse-to várias vezes, embora, é claro, não esperasse que fosses pensar que estava de facto a dizer a verdade.

Poderia tentar explicar-te a origem deste Mundo e como apareceu pela a primeira vez nos céus das Terras da Luz a sombra que sempre os ameaça. No entanto, estou certo de que Raiden, ou outro qualquer que a conheça bem, já o fez. Gostaria muito que nunca tivesses de enfrentar essa sombra, mas o meu coração diz-me que não será assim.

Que o teu olhar espalhe a beleza que vive no teu pensamento e as tuas palavras expressem com simplecidade o amor que habita o teu jovem e bondoso coração.

Beijos do pai que te ama e que esterá sempre a guardar-te.

Sesshoumaru

P.S.: Por favor, pede desculpa à tua mãe por não me ter despedido realmente dela e por tudo quanto a minha morte a possa ter feito sofrer. Diz-lhe também que esperarei por ela para que as nossas almas, assim como as nossas cinzas, voem juntas pelo Mundo.

P.P.S.: A maneira de regressares a este Mundo é simples. Existem dois espelhos que são a única passagem que agora há entre os dois Mundos. Um tem-no Elianor, em quem poderás sempre confiar, o outro é a tua mãe que o tem. Ela sabe quais as palavras que devem ser proferidas; pergunta-lhas.

Quando acabou de ler a carta, Saya tinha lágrimas nos olhos. Entregou a carta à mãe para que ela também pudesse ler, mas Rin recusou.

- A carta está endereçada a ti e não a mim - retorquiu - É para ser lida apenas por ti.

- Há uma parte que se te destina - disse Saya.

- Então, por favor, lê-ma - pediu a mãe.

Saya leu-lhe o pedido de desculpas do pai e a parte relativa ao espelho.

- Foi por esse espelho que conheci o teu pai quando tinha apenas sete anos. E era por esse espelho que o teu pai ia para o Mundo dele. Nunca estranhaste as repetidas viagens que ele fazia? - perguntou Rin.

- Lie. Sempre pensei que fossem viagens de negócios. Aliás, era isso que tu me dizias.

- É verdade - concordou a mãe - Mas na realidade não eram. Eram apenas viagens até esta casa onde o espelho está desde que a recebi como herança. Fiz muitas viagens através dela. Em criança, adolescente e adulta. Fazia-a todos finais de semana quando me casei e grávida. só parei quando complestas-te três anos. A última irei fazê-la já na minha velhice, para me juntar ao teu pai no meu leito de morte.

Estiveramalgum tempo caladas a olhar para a lenha que ardia na lareira. As chamas vermelhas e alaranjadas crepitavam e produziam estranhas sombras nas paredes da sala de estar.

- Mãe, o pai veio para aqui por amor à senhora?

- Hai. Mas eu tomei a decisão de ir morar com ele em Caladmirion primeiro.

- E porque não foi? - perguntou Saya supreendida.

- Por causa da minha família. O teu pai achou por bem ser ele vir para aqui e não o contrário. No seu Mundo, os seres que lá habitam sabem da existencia Humana. Mas os Homens já não se lembram mais dos Youkais, dos Elfos, das Fadas, da Terra da Luz....de nada mais. Não tinha como viver para lá e desaparecer deste Mundo - suspirou triste no fim.

- Compreendo mãe.

- Diz-me uma coisa, Saya - pediu Rin - Qual foi o principal motivo que te levou a decidir regressar a Caladmirion?

Saya corou um pouco e olhou para a mãe com um sorriso tímido no rosto. Ela riu divertida.

- Bem me parecia - acabou por dizer - Quem é o gatinho?

- Mãe!

- Está bem, está bem. Mas tens que adimitir que eles são lindos e elegantes.

- Sim é verdade - concordou a Saya.

- Então quem é ele? - a mãe perguntou mais uma vez.

- O filho de Raiden...

- O Kai?! Mas ele é quase da minha idade! Nasceu pouco tempo depois de eu conhecer o teu pai.

- Bem, mas para os Youkais ele é quase uma criança. E lá é perfeitamente normal e aceitável a nossa diferença de idades.

Rin ficou um tempo calada.

- Pois é - concordou por fim - Tinha-me esquecido que eles não envelhecem e, comparativamente aos Humanos, são quase eternos. Sesshoumaru e Raiden também sempre foram grandes amigos apesar da diferença de idades, que não os parecia preocupar minimamente. O próprio Raiden, era casado com uma youkai bastante mais velha do que ele, na minha opinião. Como é que ela se chamava?

- Tsuki - respondeu Saya - Também a conheci. É muito sábia e muito bela. Ela é verdadeiramente uma youkai. Temo que nunca serei uma verdadeira Fada. Tudo o que aprendi aqui parece-me insignificante comparado com a sabedoria deles. Às vezes sentia-me tão ignorante!

A mãe colocou-lhe a mão no rosto e olhou-a nos olhos.

- Como acabaste de dizer, lá és apenas uma criança. Ainda te esperam muitos e longos anos. A sabedoria chega com a idade e tenho a certeza de que um dia serás considerada sábia. Já o és, embora não te apercebas disso.

Saya olhou para a mãe como se pela primeira vez em muitos anos a visse realmente. Era velha, para os Homens, a pele estava coberta de rugas, o negro cabelo fora quase coberto por fios brancos. Indubitavelmente, a idade começara a apoderar-se desse corpo durante tanto tempo enérgico e saudável, e os anos pesavam-lhe. Mas os olhos não tinham ganho uma cor cada vez mais baça como Rim previra. Muito pelo contrário; estavam cada vez mais brilhantes. E Saya percebeu que ela era, assim como Tsuki e Elianor, sábia. Talvez não o fosse como elas, mas à sua maneira também ela era sábia.

- É melhor ires deitar-te - disse a mãe ao fim de algum tempo - Amanhã tenho a certeza de que vais querer levantar-te cedo.

Saya subiu calmamente a grande escadaria de madeira escura e entrou na terceira porta à direita. O seu quarto estava exactamente igual ao que se lembrava. Exausta, deitou-se e adormeceu profundamente.


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