A Filha Dos Mundos escrita por Devill666


Capítulo 4
A floresta




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Saya sentiu-se despertar, mas não abriu os olhos. Tinha uma leve consciência de que estava parcialmente submersa nas águas de um calmo rio. Os seus longos cabelos estavam soltos e ondulavam suavemente. Havia uma agradável claridade; decerto a forte luz solar era atenuada por árvores altas, donde chegava um perfume de flores e folhas misturado com o cheiro de terra húmida.

Finalmente, Saya abriu os olhos. A primeira imagem que teve foi de um belo rosto de longos cabelos loiros coroado por algumas árvores altas de folhas verdes e avermelhadas. Ele ou ela sorriu. Ajudou-a a sentar-se e, pela primeira vez, Saya começou a ter medo. Onde se encontrava? E por que razão ali estava?

- Estás bem? - perguntou ele.

Agora via perfeitamente que era um homem, não entendia mesmo como não o percebera logo! Porém, quanto à pergunta não estava bem certa da resposta. Lembrava-se do camião. Devia ter tido um acidente, devia ter acordado num hospital, no mínimo numa ambulância, mas nunca numa floresta. Por outro lado, não parecia ter nada partido, não parecia ter sequer um arranhão.

- Estou bem - respondeu por fim.

E antes que ela tivesse tempo de dizer mais qualquer coisa, ele levantou-se, estendeu-lhe a mão e disse:

- Ótimo! Então vamos.

« Vamos?!» Ele não podia estar bom do juízo. Ela não ia a lado nenhum sem saber onde estava, o que lhe acontecera e quem era ele. Mas ele já tinha começado a andar e a encontrar mais dentro da floresta, e havia outra coisa da qual Saya tinha a certeza: não queria ficar sozinha naquele lugar desconhecido.

Por isso correu a juntar-se ao estranho. No entanto, era mais complicado do que pensara. Ele era ágil e rápido, e ela, além de estar de sapatos de salto alto, tinha o fato de saia e casaco cinzento claro completamente encharcado. Irritada por ele não esperar por si, Saya sentou-se numa grande pedra e chamou-o impacientemente.

- Gomenasai! - ele virou-se, parecia ligeiramente divertido com a situação. - Será que me podes dizer onde estou, porque estou aqui e, já agora, quem és tu?

Ele aproximou-se, sentou-se no chão e olhou para o céu profundamente azul, encoberto pela folhagem das árvores. Depois baixou os olhos e fitou-a.

- Estás em Caladmiron, a Grande Floresta, e a mais bela que alguma vez encontrarás. A razão pela qual estás aqui sabe-la, mas admito que a tenhas esquecido. Não faz mal, redescobri-la-ás no devido tempo.

- Mas eu tive um acidente! Devia estar num hospital....- retorquiu timidamente; a profundidade da voz dele tinha-a, de certo modo, assustado.

- Hai, é verdade.

- Então como é que vim aqui parar?

- Isso levaria muito tempo a explicar, mas pode dizer-se que estás simultaneamente aqui e no hospital. Estás num Mundo paralelo àquele em que viveste até agora, e que muito poucos conhecem. No teu Mundo estás adormecida, aqui estás acordada, mas vives em ambos. Foste chamada, mesmo que não o tenhas percebido, e por isso vieste. Eu fui escolhido para ser o teu guia e protector. Podes e deves confiar em mim!

- Antes de confiar em ti, quero saber quem és.

Não percebia o que ele queria dizer com aquilo de Mundos paralelos, mas parecia-lhe que não era lá muito possível que isso acontecesse.

Ele levantou-se e pela a primeira vez Saya reparou que ele estava vestido de uma forma um tanto ou quanto mediaval. Tinha umas calças justas de um tom claro verde seco, umas botas altas castanhas, igualmente justas, uma túnica verde clara de mangas compridas, bordada com folhas douradas, e uma espécie de capa de viagem verde escura.

- Eu sou um youkai.

Saya arreagalou os olhos e deu uma grande gargalhada. A última vez que ouvira falar de youkais fora há muito tempo numa das histórias da sua infância. Agora tinha a certeza de que o estranho era doido. Porém ele sorriu suavemente, como se soubesse que ela não ia acreditar, e disse:

- Não acreditas, pois não? - e afastou o longo cabelo dourado para trás de uma das orelhas. Saya viu que esta não era redonda, mas sim pontiaguda, como as dos elfos ou dos duendes dos seus livros de infância, e começou a ficar novamente assustada.

- Achas que não sou real? Mas sou; tão real quanto tu! - parecia outra vez muito divertido. Agarrou o pulso dela com alguma força, no entanto sem a magoar. - Vês? Tão real como tu própria.

Virou-se e recomeçou a andar.

- Agora já chega de perguntas, vamos. Temos de nos apressar se queremos chegar antes de anoitecer. Despacha-te! Já não falta assim tanto!

Ela seguiu-o o melhor que pôde; ele não andava depressa demais, mas nunca a deixava atrasar o passo. Ao fim de algum tempo, começou a sentir-se mais confiante. Ele podia ser estranho, podia mesmo ser um youkai ( por algum estranho motivo acreditava nele), mas certamente não iria magoá-la. Por outro lado, Saya não estava habituada a deixa que alguém que não ela tivesse a última palavra, muito menos um estranho. Por isso, quando achou oportunidade, atirou-lhe à cara algo que, pensou, o deixaria sem resposta.

- Mas os youkais são criaturas pequenas, de cerca de sessenta centimetros, e tu deves ter no mínimo um metro e setenta!

Ele continuou a andar, contudo riu urante um bom bocado. Finalmente respodeu:

- Hai, suponho que é isso que izem as histórias dos humanos. Mas, como vês, é mentira. Os humanos são um bocado estúpidos, não são?

Fora ainda pior que ter ficado calada. Desta vez ele deixara-a claramente sem argumentos, para além de a ter insultado, indirectamente. Mas não ia desistir. Se ele pensava que ela lhe obedeceria como um cachorrinho fiel, então estava muito enganado. Parecia condenada a fazer uma espécie de viagem com ele. Tudo bem. Também não lhe parecia que tivesse grande escolha, e sempre preferia viajar com ele do que ficar sozinha naquele lugar estranho. No entanto, se ia passar algum tempo com ele, havia uma coisa que ela queria saber e que ele ainda não lhe dissera: o seu nome.

- Quero que saibas que se vamos viajar juntos não serás superior a mim e que eu não aceito ordens de ninguém.

- Sei perfeitamente que não sou superior a ti. E podes ficar descansada que não te darei uma única ordem. Sou o teu guia, não o teu chefe!

- Ótimo, ainda bem que esclarecemos isto. A propósito, qual é o teu nome? Posso dizer-te que o meu é Sa....

- Sei muito bem que te chamas Saya. Mas os nomes não são importantes.

Ela percebeu que ele não lho diria, o que a irritou ainda mais. E como é que ele sabia o seu nome? Decididamente ele era insurportável; devia achar que sabia tudo e que ela tudo desconhecia. Haveria mais youkais naquela floresta? Como é que ele lhe tinha chamado? Cailidmen? Cali...? Ah, sim, Caladmiron. Seriam todos os youkais convencidos como aquele? Bem, estava certa de que por ele não saberia mais nada. Pelo menos não naquele dia. Decidiu que ficara calada até chegarem onde quer que fosse que ele tinha decidido chegar. Lá, logo se viria o que iria acontecer.

 

 

 

 

GLOSSÁRIO:

Caladmiron - a Grande Floresta, de belas e altas árvores de folhas verdes e vermelhas. Delimitada a sul e a oeste pelo o mar, a norte pela a cordilheira de montanhas e a este por grandes campos verdes. É o reino do Povo da Luz. Também chamada Terras da Luz.

Youkais - Podiam ter a forma de algum animal ou mais humana como os Elfos, até ser meio a meio. Têm uma vida longa cerca de dois mil e quinhentos anos e orelhas pontiagudas.


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