Ficaram algum tempo parados até que, ao fundo do corredor, uma ténue luz começou a brilhar. Lentamente, muito lentamente, foi-se aproximando, até que revelou um youkai vestido com um manto vermelho sangue. Parecia jovem ( mas ali qualquer um podia parecer jovem) e tinha um belo rosto. No entanto, os olhos pareceram a Saya extramamente desagradáveis. Estavam cheios de maldade, uma maldade que crescera com o tempo até se tornar indescritível.

- Ohayo - disse o youkai. A sua voz soou harmoniosa e hipnotizante.

- Ohayo - responderam ambos.

- Pareceis em apuros, amigos. Quereis ajuda?

- Primeiro gostaríamos de saber o teu nome - afirmou Kai antes que ela tivesse dizer fosse o que fosse.

- O meu nome...?! Hai, quereis saber o meu nome - disse ele enquanto acariciava a pedra no topo do bastão, donde provinha a luz - Mas vocês devem sabê-lo. Pelo menos tu, filho de Raiden, sabe-lo. NÃO SABES?

- Penso que sei - respondeu Kai. A sua voz era firme mas calma, contrariamente à do outro, que soara terrível e irada.

- Sabes, eu sei que sabes. Quem empunha o Ceptro tem de saber quem sou eu - virou-se de costas - E agora vou provar-te que não tens poder suficiente para isso.

Virou-se rapidamente e apontou o bastão a Kai.

- Kedrre! - e ao som desta palavra o youkai caiu com um som abafado.

Por um segundo, os aterrorizantes olhos do youkai encontraram-se com os de Saya. Depois, instintivamente, ela apanhou o Ceptro e ele apontou-lhe o bastão.

- Ajuda-me, Nessya - pediu Saya, fechando os olhos e apertando o Ceptro. Concentrou todo o pensamento na débil luz que este poucos momentos antes produzira e toda a vontade de expulsar aquele youkai e aquela escuridão dali. A pedra brilhou intensamente e uma luz muito branca jorrou dela, iluminando tudo.

Quando Saya abriu os olhos tudo estava novamente normal. As águas do lago eram de novo azuis e transparentes, o sol de fim de tarde brilhava através delas, uma ou outra vela voltara a acender-se e aquele desagradável youkai tinha desaparecido. Só Kai continuava caído no chão.

Saya, tomada de um súbito pânico, correu para ele. Sá queria que ele estivesse vivo. Depois de tudo o que tinham passado juntos não queria perdê-lo, pelo menos não daquela maneira. Ajoelhou-se à beira dele e colocou-lhe dois dedos no pescoço. Estava vivo.

Molhou-lhe a cara com água e esperou. Estava apenas desmaiado, por isso, mais ou mais tarde teria de acordar. Tinha apenas de ser paciente e aguardar. Durante um bom bocado, nada aconteceu e Saya começou a ficar novamente preocupada. Não sabia ao certo o que o youkai lhe fizera. Sem dúvida que lhe tinha lançado um feitiço; mas que tipo de feitiço, ela não sabia. De facto, não percebia nada desse género de coisas, até há bem pouco tempo nem sabia que existiam! Mas quando já imaginou o pior, Kai abriu os olhos.

Ele sentou-se e olhou à volta, espantado. Os seus olhos acabaram por pousar no Ceptro caído ao lado dela. Uma expressão de total compreensão iluminou-lhe o lindo rosto.

- Toma - disse ela, entregando-lhe o Ceptro - Gomenasai por ter-lhe pegado.

- Não faz mal - respondeu o youkai, enquanto embrulhava o Ceptro novamente no tecido de veludo - Agora ele pertence-te. Guarda-o.

Entregou-lhe o Ceptro, mas Saya não o aceitou.

- Não posso. Isto é, o que é que eu faria com ele? Não sei como utiliza-lo.

- Há bocado, parece que soubeste exactamente o que fazer.

- Eu... eu não sei porque o fiz - respondeu corando - Fica com ele. Como é que posso ficar com algo que nem sequer sei o que é?

Kai suspirou e levantou-se.

- Isso é algo que tenho de te explicar. Para já, guarda-o. Se quando sairmos de Aquilad ainda acahres que não deves ficar com ele, então eu guardo-o.

- Está bem - anuiu ela depois duns momentos de consideração . Mas, antes de me explicares seja o que for, quero saber quem era aquele.

- Aquele - disse Kai - Era Naraku, o último filho dos Elementos.

Lá estava ele a falar outra vez nos elementos! Era melhor que lhe explicasse essa história toda de uma vez por todas. Sempre achara extremamente desagradável quando as pessoas falavam com ela sobre algo que ela desconhecia e não se davam ao trabalho de a esclarecer. Abriu a boca para protestar, mas ele levantou a mão com a palma virada para ela.

- Paz - pediu - Tudo te será explicado no devido tempo. Deixa-me contar a minha história.

- Está bem. Conta a tua história e eu ouvi-la-ei.

Recomeçaram a andar, num passo lento e pausado. As águas ondulavam e produziam um suave som ao baterem nas paredes do Palácio de Cristal. Lá fora devia estar vento e o dia começava a cair.

GLOSSÁRIO:

Ceptro de Aerzis - pequeno ceptro de ouro maciço com uma esmeralda incrustada. Foi criado por Aerzis e contém todo o poder do próprio Aerzis e Caladmiron. É a única coisa que pode estruir Naraku.

Naraku - o último filho dos Elementos. Matou Aerzis e Nessya, pretende apoderar-se do Ceptro e governar o Mundo.