Assassino de Assassinos escrita por Seth


Capítulo 1
Assassino de Assassinos




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Ontem o dia estava absurdamente frio, chuvoso e entediante. Em dias assim não há kit de sobrevivência melhor que um cobertor felpudo enrolado em seu corpo, a companhia de quem lhe agrada, um grande pote de comida quente e doce e um bom filme, não importando o gênero.
Com todos os requisitos completos, começamos a assistir o filme. Comédia romântica, acredito que o único gênero dispensável em tal situação, mas tudo bem, é justo, afinal deixei que ela escolhesse o que iríamos assistir. Depois de alguns tediosos minutos, a graciosa comida crocante, coberta por um cremoso chocolate, chega ao fim. Crio coragem e abandono minha fortaleza quente e acolhedora para buscar mais.
Chego à cozinha e escuto sons, vindo do lado de fora de casa. Simplesmente ignorados pelo simples fato de poder ser qualquer animal tentando se abrigar da chuva. Alcanço o alimento diabético e saio lentamente da cozinha, intrigado com o som. Assim que passo pelo portal da porta, e estico a mão para apagar a luz, a pia começa a pingar. Em poucos segundos chego à minha muralha fofa e aquecida.
Enterrado por entre os infinitos tecidos do cobertor, e com as minhas pernas entrelaçadas com as dela, sentindo seus pés gélidos nos meus, sua mão abraçada com a minha, enquanto as cenas românticas e cômicas são emitidas pela televisão. É notável que o ruído lá fora se agravou, e que o ritmado pingar da torneira não suspende nem por um segundo. Infelizmente estou muito aconchegado para verificar. Agora, o mais importante é não dormir.
Os sons finalmente param. A pia se rende, e também não interrompe meus pensamentos mais. Porém, agora é o meu chuveiro quem começa a brincar de conta-gotas. Como não era só eu o perturbado pelo maldito som, resolvo, novamente, me dispersar dos confortos e ir verificar. Retiro as camadas de cobertas sobre minhas pernas, destapando não só eu, como ela também. Assim que torço meu corpo para me levantar, me deparo com uma criatura peculiar. Um senhor, com cara de encanador cansado, parecia implorar por um pouco de comida, e uma aconchegante cama. Apesar de a tal aparência, o sangue espirrado em suas roupas, uma corda envolvendo seu tronco e um alicate velho e manchado também com sangue não me pareciam muito amistosos.
O susto e o pulo para trás foi inevitável, seguido de dois gritos, o meu, e o dela, que repetiu cegamente a esquiva automática.
Agora o chuveiro, não só ele, mas como todas as torneiras da casa pareciam estar totalmente abertos, além de a chuva ter enrijecido suas gotas. Correr era a solução, até trombarmos com uma figura completamente retorcida e assustadora. Parecia alguém cuja tenha tido uma morte dolorosa e lenta, durante um afogamento provocado. Um sorriso sádico, dentes amarelos, cabelo molhado e malcuidado. Grandes rasgos abertos em seu corpo sem vestes.
Desta vez não reagimos, não pensamos, não movemos um músculo sequer. Não por opção, mas o choque não me deixava ter reação alguma. O encanador com sono estava esquecido, depois de tal surpresa à nossa frente. De quem seríamos os brinquedinhos?
Olhamos para trás, apenas para checar onde o velhote estava, o qual não havia saído do lugar assim que corremos. Quando retornamos a visão, não há mais ninguém à nossa frente. Novamente uma meia volta com a cabeça, e checamos os dois, um ao lado do outro, se encarando. Uma violenta batalha se travava.
Em apenas dois segundos um coração foi retirado, ainda pulsando, e um corpo atirado ao chão, sem mais esperanças. O velhote havia encontrado seu fim. Mas, isso não era alívio para ninguém, afinal ainda teríamos de lidar com o outro estranho, o qual trocou lentamente de foco para nós, que estávamos a poucos metros de distância. Em passos lentos, ele se aproximava. O sorriso atormentador permanecia intacto. Já era possível ouvir o palpitar de nossos corações, quanto mais próximo, mais frenético. E em um segundo ele já estava com a face frente a frente com a minha.
Meu desespero já ultrapassava as barreiras do infinito, urinar foi inevitável, o que menos me preocupava no momento. A face do monstro se desfazia em gotas, derretia na minha frente. O que não me acalmava em nada. Ao meu lado, Nathalie, parecia mais aterrorizada que eu. Assim que aquela coisa já estava completamente decomposta na minha frente o líquido que se empoçou em minhas mãos formava algo sólido, que logo pude ler. Era algo como um cartão de visitas. Simples, todo preto, sem detalhe algum, com um dizer no centro "Assassino de assassinos".
Depois de um curto tempo, porém suficiente para que pudéssemos ler, o cartão derrete também, e as gotas que quase tocavam o chão se evaporavam.
A chuva se reduziu, e as torneiras e chuveiros se interromperam. Agora não sei mais o que dizer ou Devo me sentir seguro, ou ameaçado?

07/10/12

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