Depois daquela noite sempre ando com um crucifixo na mochila, era pra ser um dia comum, a mesma merda de sempre. Toda manhã eu caminhava pelo mesmo caminho, aquela rotina já estava enjoando. Então resolvo mudar um pouco, ao invés de entrar na trilha à direita, peguei o caminho pelo mato à esquerda. Mas porque escolhi a esquerda? Que merda eu tinha na cabeça?
Sigo caminhando, e no caminho encontro uma árvore aberta ao meio, como se fosse um pedacinho frágil de papel. Simplesmente passo pelo meio da árvore, por infantilidade. Só que no exato momento em que passei por entre ela, senti aquele calafrio clichê, que em tudo quanto é filme de terror tem.
Conforme caminhava as coisas mudavam radicalmente. O tom acinzentado naquela floresta morta deixava tudo mais tenebroso, como se só aquele calafrio não bastasse. Começa a aparecer pessoas jogadas ao chão, todas sujas e machucadas. Alguns, que conseguem levantar-se, vem em minha direção murmurando algo que não dava para entender. Andavam se arrastando, sem firmeza em seus movimentos. Quando olho em volta me vejo cercado, percebo que as vozes estão mais altas, eles diziam: "Volte para o inferno, daqui você não passa!". Outros diziam: "Vamos arrancar seus órgãos, volte para o inferno!".
Desesperado, corro para qualquer lado, me esquivando daqueles zumbis. Depois de algum tempo correndo, percebo que não há ninguém atrás de mim, então paro e descanso. Ouço alguém se aproximando, e logo olho pra ver quem é. É um palhaço, e, com sua voz enigmática, diz: "O que acha da realidade?". Respondo, com a respiração pesada: "Que realidade? Essa?", ele não perde tempo e diz: "Onde você vive, é uma fantasia! Você achou uma das fendas que traz para o mundo real. O mundo da morte. Às vezes enviamos assassinos ao seu mundo imaginário, para trazer mais gente à realidade. O único objeto capaz de impedir a passagem da imaginação para a realidade é um crucifixo.". Fico sem ação, e pergunto: "Imaginário? 'Cê tá maluco?". Logo um largo e maléfico sorriso se abre em sua face, seus dentes afiados e compridos ficam à mostra, então diz: "É, imaginário. Várias pessoas vivem, porém, é só uma imaginação em comum.".
Caminho para longe dele, e começo a correr. No caminho encontro mais pessoas jogadas, machucadas e sujas, só que essas não se levantam. Depois de correr por um longo tempo, acabo cansado, e começo a caminhar. Tropeço em algo firme, e vou de encontro ao chão. Levanto-me, e percebo um lugar completamente diferente, mais vivo e sem neblina. Penso: "Estou de volta à... "Imaginação"... Mas, onde estou?".
Caminho por alguns quilômetros, e logo me encontro. Volto para casa, e às pressas, procuro um crucifixo enorme, para andar comigo.
Esse é o meu mundo imaginário... E você, como imagina o seu?

28/03/11