Uma sexta, como outra qualquer, minha mãe chega segurando uma sacola a mais que de costume, uma sacola verde, ela larga a bolsa no sofá e vem correndo me mostrar o que havia na sacola. Ela desloca seu olhar para mim, e abre um sorriso, como se estivesse contente com o presente que ela escolheu pra mim. Retribuo o sorriso e logo agarro aquele pequeno e fofo ursinho marrom, que logo comecei a chamá-lo de Kemal. Não sabia que naquele momento começaria um tormento.
Sábado logo de manhã, acordo e vou ver se a mãe ainda está dormindo, só que quando chego lá, a cama dela já está arrumada, coisa rara... A mãe normalmente acorda e vai pra sala, ou pra cozinha. Procuro ela pela casa, e não encontro. Chego a sábia conclusão que ela deve ter saído.
Me largo no sofá, e começo a ver desenho. Olho pro lado, no espelho do banheiro que estava com a porta aberta, lá no fim do corredor, e vejo meu reflexo. Levando a mão, e fico fazendo gestos para que ele imite. Faço três gestos seguidos, e o segundo ele não repete, sinto aquele arrepiozinho e resolvo parar com a brincadeira.
O dia inteiro fico refletindo do ocorrido, lá pelas sete da noite, a mãe chega com o rosto cansado, porém animada. Me conta do dia dela, e pergunta se o almoço da empregada é melhor que o dela. Aceno negativamente com a cabeça, enquanto vamos à cozinha para jantar. Penso seriamente em contar pra ela sobre o reflexo, mas achei melhor não, pois poderia ser algo da minha cabeça.
Eu e minha mãe vamos passear no shopping. Ela para em uma vitrine e eu em outra, olho e percebo uma garotinha no reflexo estendendo as mãos como se pedisse algo, olho pra trás e vejo minha mãe me pegando pelo braço.
Em casa, me deito na minha cama, e me agarro em Kemal. Pego no sono, e tenho um sonho. No sonho aparecia algumas pessoas e a garotinha do reflexo, e pareciam procurar algo, só que antes de acharem algo me acorda. Faço o caminho da sala, segurando Kemal pelo braço, só que paro em um lugar completamente diferente, cheio de vidros, e em cada vidro o reflexo de alguém.
Fico assustado, porém imóvel. Apenas observo, parece que querem algo... Me aproximo do reflexo da garotinha e pergunto o que ela quer. Ela não responde, apenas olha para Kemal. Estico o braço, a face dela se transforma em algo desumano e ela estica o braço, pra fora do vidro para pegar o meu Kemal. O entrego, e todos os vidros do quarto estouram.
Fecho os olhos e quando abro, estou no sofá da sala com a minha mãe me sacudindo, querendo me acordar, para me mostrar o que trouxe pra mim do trabalho na nova sacola verde da empresa.

06/02/11