Aconteceu Em Dezembro escrita por Blood Mary


Capítulo 1
Once upon a December


Notas iniciais do capítulo

Dedicatória: Presente de natal para minha onee-san, numa inspiração louca que unia duas músicas (uma que eu sei que ela adora, e outra que eu gosto muito...) e mais uma inspiração de outra história. Pode não ter ficado a mais usual das fics, mas enfim, é uma história de natal feita com o coração e espero que você também goste, onee-san. Obrigada por sempre estar aí pra mim e por ser minha Bunny-chan, minha parceira de loucuras, minha irmãzinha. Pra mostar como a gente é sintonizada, até a capa que eu fiz era igual! XD Hohoho... Feliz Natal!



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Barnaby suspirou e sentou na cama, encarando o fundo do próprio armário. Estava já há algum tempo dedicando-se à tarefa de arrumar a mala, não que tivesse tanta coisa para escolher ou guardar, mas já fazia tanto tempo desde a última vez que fizera algo parecido que chegava a ser estranho, se parasse para pensar.

Finalmente, após muito custo, Kotetsu o havia convencido de não passar o Natal sozinho. Pediu que ele arrumasse uma mala para um ou dois dias, pois iriam para a Cidade Oriental. Era difícil de acreditar que iria passar um Natal com companhia, árvore enfeitada, presentes...

Era difícil de acreditar também que tivessem conseguido essa folga. Depois de tudo que acontecera, a cidade estava relativamente calma e a segunda divisão dava conta dos delitos menores.

"Talvez", pensou o loiro, "fosse até melhor ter que trabalhar nessa época para não pensar..."

Algo chamou a atenção de Barnaby dentro do armário, interrompendo seus pensamentos. Meio caída no fundo, havia uma caixa de papelão antiga, com desenhos coloridos. Não se lembrava de ter guardado ela ali. Talvez tivesse caído de alguma prateleira mais alta... afinal, fazia tempo que não a via. Desde a última mudança.

Lembrava-se vagamente do que havia ali dentro. Alguns brinquedos antigos, algumas roupas que se recusara a dar embora, mas cuja lembrança era vívida demais para ficarem à mostra. Num gesto quase automático, puxou-a do fundo do armário e a colocou ao seu lado, na cama.

Ficou um tempo encarando o tampo da caixa, como se tivesse medo que as lembranças que ali haviam fossem se espalhar pelo quarto e o aterrorizassem assim que ele abrisse, como se fosse a própria Caixa de Pandora.

Mas como até mesmo Pandora abriu a caixa, o jovem herói não conseguiu resistir à tentação.

Como esperava, ali haviam alguns brinquedos antigos, fotografias, e - o que chamou mais a atenção de Barnaby - uma malha de criança, antiga e um pouco esfarrapada, bordada com motivos natalinos chamativos (uma árvore de Natal decorada com bolinhas vermelhas e um Papai Noel voando em um trenó).

Havia se esquecido da existência daquele suéter. Mas, agora que o via, a lembrança do dia em que aquela peça de roupa passara a fazer parte de sua vida parecia vívida como se tivesse sido no dia anterior.

Era manhã de Natal, há vários anos atrás. Em algum lugar, alguém tocava uma música...

Dancing bears
Ursos dançando
Painted wings
Asas pintadas
Things I almost remember
Coisas das quais quase me lembro
And a song someone sings
E uma música que alguém canta
Once upon a December
Uma vez em dezembro


A música vinha suave pelo ar gelado daquela manhã, de um grupo de música que cantava na rua para as pessoas que passeavam com suas famílias, fazendo compras de Natal ou patinando no gelo ali perto. O frio da neve e do ar cortante era espantado por sorrisos, risadas e passos animados das pessoas que ali passavam. Mas nada dessa alegria parecia atingir um garotinho de 5 anos sentado no banco da praça, usando agasalhos de menos para o frio que fazia.

Ocupados com suas próprias alegrias, ninguém parecia reparar no garotinho solitário de cabelos loiros e olhos verdes, balançando tristemente as pernas que ainda não tocavam o chão, abraçando-se para se proteger do frio e chorando em silêncio. As lágrimas quentes escorriam por seu rosto e vinham pingar nos joelhos descobertos, gelados, como se fossem água fervente.

Barnaby Brooks Jr. havia fugido de casa, só para não ver a tentativa vã de tia Samantha e o senhor Maverick tentarem reproduzir, apenas um ano depois, o Natal que ele nunca mais teria. Mas já estava começando a se arrepender de ter fugido. Não havia levado agasalho, e o frio era cruel para aqueles que não tinham o calor dos parentes à sua volta.

Someone holds me safe and warm
Alguém me segura, a salvo e quente
Horses prance through a silver storm
Cavalos empinam através de uma tempestade de prata
Figures dancing gracefully
Figuras dançam graciosamente
Across my memory
Por toda a minha memória


Todas aquelas pessoas passeando felizes com suas famílias pareciam distantes e inalcançáveis. Nunca mais seus pais iriam abraçá-lo, beijá-lo, contar histórias para dormir numa cama quentinha, levantá-lo nos ombros, fingindo cavalgar em volta da árvore enfeitada enquanto esperava pelos presentes.

Far away, long ago
Longe, há muito tempo
Glowing dim as an ember
Brilhando fraca como uma brasa
Things my heart
Coisas que meu coração
Used to know
Costumava conhecer
Once upon a December
Uma vez em dezembro


Estava muito frio. Ele não sentia a ponta dos pés, nem a ponta do nariz ou os dedos da mão. Queria voltar pra casa, já não queria mais ficar sozinho, queria voltar para o calor da lareira e o conforto do sofá... mas se mover agora parecia muito difícil. Era mais fácil fechar os olhos...

- Ei... ei!

Uma voz se destacava das demais, perto dele.

- Ei, garoto... você tá bem?

Duas mãos quentes tocaram seus ombros, e ele abriu os olhos.

Havia um rapaz ajoelhado no banco diante dele, de pele morena, cabelos castanhos e olhos cor de âmbar. A primeira coisa que Barnaby reparou sobre ele é que estava usando um suéter colorido com motivos de Natal, meio chamativo e curto demais para os seus braços longos.

Barnaby não respondeu, mas quando ele abriu os olhos, o rapaz sorriu.

- Você tá perdido? Onde estão seus pais?

Ao ouvir essa pergunta, os olhos verdes marejaram de lágrimas novamente.

- Calma, calma! Não precisa chorar... nossa, você tá congelando... Espera - o rapaz tirou o próprio suéter e fez Barnaby vestir. - Pronto. Melhor agora, não é?

O agasalho, que era curto demais para o rapaz, ficou longo nos braços de Barnaby. Mas estava quente do corpo dele, e o aqueceu na hora.

- Sabe, esse é meu suéter favorito. Eu sempre uso ele no Natal. Mas acho que já está ficando meio pequeno pra mim... então, pode ficar pra você.

Aparentemente, o fato de Barnaby ainda não ter dito nenhuma palavra não era problema para o rapaz. O garotinho o achou muito estranho. Mas de alguma forma, ele estava ajudando, então a educação o fez responder baixinho.

- 'Bigado.

Por algum motivo, o rapaz pareceu muito feliz em ouvi-lo falar.

- Não tem de quê. Escuta, com quem você está?

Barnaby desviou os olhos. O silêncio respondeu por ele.

- Você não está com ninguém?

O garoto fez que não com a cabeça.

O rapaz olhou para os lados, como se estivesse procurando alguém, mas em seguida respondeu:

- Tá legal. Vem comigo, sabe me dizer onde fica a sua casa?

Ele sabia que não deveria falar essas coisas para estranhos. Mas estava sozinho, com frio e com fome, e alguma coisa nos olhos cor de âmbar o dizia que podia confiar nele. Timidamente, Barnaby fez que sim. O rapaz o pegou pela mão, mas quando ele se levantou do banco, as perninhas castigadas pelo frio cederam.

- Opa! Deixa comigo - ele o segurou e o pegou no colo. - Só preciso que você me dê as direções! - sorriu.

Someone holds me safe and warm
Alguém me segura, a salvo e quente
Horses prance through a silver storm
Cavalos empinam através de uma tempestade de prata
Figures dancing gracefully
Figuras dançam graciosamente
Across my memory
Por toda a minha memória


Naquele dia, Barnaby chegou seguro em casa, usando um suéter esfarrapado e colorido maior do que ele, que ele nunca contou de onde viera.

Far away, long ago
Longe, há muito tempo
Glowing dim as an ember
Brilhando fraca como uma brasa
Things my heart
Coisas que meu coração
Used to know
Costumava conhecer
Things it yearns to remember
Coisas que anseiam para serem lembradas
And a song someone sings
E uma música que alguém canta
Once upon a December
Uma vez em dezembro


Barnaby fechou a caixa. Olhava fixamente para o tampo dela novamente, segurando o suéter firme nas mãos.

Como nunca havia pensado nisso?

Sem pensar mais, guardou o suéter junto com as outras coisas dentro da mala.

Continua


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler! Não se esqueça de comentar ^^ em breve postarei o segundo capítulo.



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