Dragons Cold escrita por Adrielli de Almeida


Capítulo 2
1 - A Thousand Years


Notas iniciais do capítulo

Desculpe se meu prólogo ficou minusculamente minusculo D:
Mas... eu amo vocês ;)
A Thousand Years - Christina Perri.
Essa música define o meu amoreco *u* e, caso ele leia '-', tem um trocadilho perdido por aí ;)
Algo como... 'Mil anos, mil dias'
Espero que gostem. Alysson é besta assim mesmo, ela sempre foi u.u



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  O grito ao longe ecoa fracamente, mas retumba nos ouvidos dela. Pouco. Resta pouco. As vozes badaladas dos ventos lhe amarrotam as roupas e seus cabelos se agitam fortemente.

- Sombria, como sempre – diz ele, fazendo uma irônica reverencia.

- Irei considerar como um elogio – fala sem cortesia expressa.

- Um elogio! Há! – um sorriso cruel brinca em seus lábios – Precisa de mais elogio dos que já recebe? É isso, Alysson?

   A jaqueta surrada dele se levanta levemente com a passagem do vento, mas Charles mantém seu rosto sarcástico, sem se incomodar.

- O que quer? – grita, irritada – Me incomodar? De novo?

- Não seja tão dramática. – ele retruca – Nem tudo gira em torno de você, pequena egocêntrica. É algo maior que isso.

- Maior? – pergunta se afastando levemente de uma árvore caída – maior? Como... Maior?

 Os cabelos negros de Charles se rebelaram junto com vento, indo para o lado. Os olhos azuis eram vazios e pareciam brilhar a meia-luz.

- Que tal ir para um lugar... Mais calmo?

- Calmo... Tempestades são calmas, Charles? – os olhos dela brilharam perigosamente.

- Você não é uma tempestade, querida – ele disse de maneira divertida – não passa de um chuvisco que insiste em bater no telhado com força demasiada.

- Seu imbecil – resmungou ela – nunca deixa de ser idiota, Charles? Mesmo que se passem mil anos?

- Mil anos, mil dias. – ele ri – Às vezes perdemos as contas, querida.

- Às vezes – concorda Alysson. – Sabe Charles, se as coisas tivessem sido diferentes...

- Se é uma palavra que nos atormenta eternamente, não acha? E se, e se, e se... Mas não podemos voltar no tempo e ajeitar as coisas. Essa é a parte mais difícil. Desculpe querida.

 Alysson rangeu os dentes. Idiota.

- Talvez. – ela ergue o queixo. – Não me disse o que faz aqui ainda... é meu território. Sabe disso.

- Seu? – ele olha em volta de modo sarcástico e se aproxima alguns cinco metros. Mais perto dela. – Não vejo seu nome aqui.

 Ela aperta os olhos.

- Ouça...

- Não, ouça você. – ele ajeita os ombros. Os olhos azuis esquadrinham o rosto dela. – Sei que nunca irá me perdoar. Nunca.

- Nunca – ela assente uma vez, sustentando o olhar dele.

- Mas... Corremos perigo. Todos nós. – ele continua se aproximando mais – eu, você, sua família. Todos. Meus irmãos também. – as linhas da testa dele se enrugam. Charles se aproxima mais um pouco. Está próximo dela. Bem próximo. Tão próximo que se sua mão se erguer... Toca os cabelos dela.

- Deixe minha família fora disso – rosna ela.

- Ouça-me – ele a sacode pelos ombros, um olhar desesperado o invadindo. – Aly, não tenho muito tempo até que sintam minha presença... Sua família e a minha correm perigo. Alguém alterou o Círculo Perfeito... Entende isso?

- O Círculo Perfeito... Dos Guardiões? – ela pisca confusa. O Círculo Perfeito é um pacto antigo, mas antigo do que vampiros ou feiticeiros. Era algo sagrado para as Três Raças. Muito, muito sagrado. Impossível de ser alterado, impossível de ser quebrado. Charles estava mentindo. Só podia estar.

- Podemos entrar em guerra novamente... E você é uma que não quer as Guerras Antigas novamente, quer? – ela se afastou dele aos tropeços. Impossível.

- Não minta para mim – sufoca ela – Não tem como o Círculo Perfeito ter sido alterado... Ou quebrado... Ou... Ou...

- Mas foi. Diana, Maroom e Stormhay irão tomar providencias... E a guerra pode recomeçar.

 Ao longe, ouviu-se um uivo sombrio. Alysson piscou chocada e encarou Charles.

- São... Filhos da lua? – ela perguntou se inclinando para o lado. Charles se virou.

- Filhos da Lua. – ele piscou atordoado. – Eles... Rastrearam-me. – virou rapidamente e encarou Alysson nos olhos. – Fuja. Esse assunto é meu. Não deixe que eles saibam que esteve aqui.

- Mato tão bem quanto você. – opinou ela.

- Não em interessa – rugiu ele – Apenas suma daqui. – ele a empurrou para longe e                     Alysson mostrou as presas pra ele, furiosa. Olhou para os lados e se atirou contra uma árvore. Subiu-a facilmente e lá em cima, balançando furiosamente, observou enquanto cinco lobos-homens se aproximavam. Era sempre horrível de se ver. O pescoço de Alysson latejou. Ela sentou em um dos galhos, os lábios entre abertos, os olhos em alerta. Se o coração ainda batesse... Estaria a mil. Os ouvidos captaram os rosnados dos lobos mesmo estando a vários metros de distância. Uma das inúmeras vantagens de ser o que era.

 Os lobos-homens se aproximaram de Charles, correndo, os rosnados rasgando o ar. Um deles se aproximou e partiu para cima de Charles, encurralando. Em meio à corrida um se transformou de lobo para homem... Ou em boa parte. Os olhos ainda continuavam dilatados, as costas arqueadas de maneira antinatural.

- D’Black – rosnou o filho da Lua. Sua voz era sufocada e grossa. Animal. – Onde ela está?

- Ela? Ela quem? – o filho da Lua se aproximou e agarrou o pescoço de Charles, o apertando firmemente.

- Não brrinque comigo. – rosnou ele novamente, arrastando o erre. – Onde ela está? Sinto o cheiro dela ainda! Não pode ter ido muito longe! – os outros que haviam permanecido em forma de lobo uivaram.

- Vamos lá Carlai... – sufocou a voz de Charles abafada – Ela quem?

- A menina Cherywood. – grunhiu ele. – A maldita sanguessuga. A vampira.

- Ah... – Alysson estava metro longe de Charles e do chão, mas pode o ver estreitar os olhos – Ela. Odeia-me há mais ou menos uns duzentos anos, Carlai. Desculpe, mas eu não falo muito com ela.

 Carlai, o lobisomem, apertou mais a traquéia de Charles.

- Está mentindo... Como sempre. – rosnou ele – Onde?

- Aqui – sussurrou ela alegremente. E então pulou. A árvore ficava a 15 - ou talvez 20  - metros do chão. Ela pousou como uma gata experiente.

- Alysson! – gritou Charles furioso enquanto Carlai o largava. – Eu disse fuja!

- Vá se danar! – reclamou ela e o lobo homem sorriu. Um sorriso feio e frio. Cruel.

- Vampira. – um rosnado rouco escapou dos lábios dele.

- Criatura – respondeu ela, se curvando como uma dama dos tempos antigos, segurando as pontas de um vestido invisível.

 Carlai grunhiu.

- Soubemos do que fez garota. – disse ele. – E estamos realmente fascinados.

 Ela inclinou a cabeça levemente.

- Sempre soube que lobisomens perdem um pouco da inteligência com o passar dos anos, mas...

Ele rugiu. Ela deu um pequeno sorriso e ergueu as mãos em sinal de rendição.

- Desculpe, mas não sei do que está falando.

- Mente bem, sanguessuga. – grunhiu Carlai. – Mas nós sabemos. Não tem mais sentido em mentir para nós.

 Alysson uniu as sobrancelhas.

- Tem? – perguntou ela. Não sabia do que ele estava falando. Nem queria saber.

- O Círculo foi quebrado. Uma marca foi deixada. A sua Marca. – Alysson olhou para o lobisomem, muda.

- Minha marca? MINHA MARCA?

- Sua Marca. – Carlai deu um sorriso confiante. – A gota. Certo?

  Alysson acariciou o pulso. A Marca dela era uma gota de sangue. Marcada de negro no pulso esquerdo. Se ela se metesse em algo – problemas, encrencas feias – a sua Marca ficariam no local ou na pessoa em que ela havia se metido em confusão. Marcas são únicas. Não podem ser forjadas, nem alteradas. E não há nenhuma criatura que tenha uma Marca igual à de outra.

  Charles levou a mão levemente a parte de trás das costas, tirando do cós das calças um objeto de uns bons vinte e cinco centímetros. Não era algo liso, parecia um pedaço de um galho quebrado. Mas algo naquela madeira exalava poder – fosse o que fosse. Apertando com força, ele ergueu lentamente e a apontou para o lobisomem.

  Carlai ergueu os olhos para o feiticeiro, sem acreditar. Uma varinha, ele compreendeu. Ele tem uma varinha.

- Guarde isso, seu idiota – ronsou Carlai recuando. Os outros lobos rosnaram e começaram a cercar Charles e Alysson.

- Legal – ela comentou sarcástica. – Não estava na lista das “Coisas para fazer hoje”, mas... Posso encaixar.  – Charles, mesmo naquela situação, não pode deixar de sorrir.

- Como nos velhos tempos, minha dama – ele fez uma leve inclinação com a cabeça, abrindo mais o sorriso galante.

- Velhos tempos nunca ficam exatamente velhos – murmurou ela.

- É guerra que querem? – rugiu Carlai – É guerra que terão.

Nesse momento Alysson desejou não ter atendido ao telefone naquela tarde; assim poderia ignorar Charles e nunca teria se encontrado com lobisomens. Poderia ter ficado fora de problemas.

- Problema, minha cara – começou Charles captando os pensamentos dela – São seu sobrenome. O verdadeiro.

 Ela ergueu uma sobrancelha. Um dos lobos uivou e se atirou contra Charles.

- Não brigamos – gritou ele – Corremos!

- Correr?! – ele assentiu.

- Você é um feiticeiro ou uma moça? – berrou ela.

- Cale a boca, Alysson! – reagiu ele. E nesse momento Aly sentiu o impacto. Ela bateu com força no chão e teve que segurar o pescoço do lobo antes que ele lhe arrancasse pedaços. Ela mirou um chute na barriga dele com força e precisão; o lobo ganiu se afastando uns bons três metros com a força do chute.

  Ela se levantou tonta e, piscando, conseguiu dizer com muito esforço:

- Sim – concordou odiando a si mesma. – Nós corremos.

...

  Charles agarrou o colarinho de Alysson e a empurrou para frente. Ela tropeçou e caiu de joelhos. Não se importava. Ela estava viva. Santo Deus. Malditos lobisomens.

- Respire fundo – ele sugeriu. Ela engasgou e piscou com força.

- Malditos – resmungou limpando sangue da boca com as costas da mão.

- Precisa que eu a leve pra casa? – Charles se agachou ao lado dela. Alysson encarou seus olhos azuis límpidos e balançou a cabeça rapidamente. Nada de feiticeiro. Desculpe.

- Tudo bem, garota – ele tocou o ombro dela – Nos vemos mais tarde.

- Espere...! – ele estava prestes a se levantar, mas parou.

- Sim?

- Charles. – ela levou dois milésimos de segundos para processar o que ia dizer – Porque a minha Marca?

 Charles olhou para o chão e se pôs de pé. Puxou o casaco e disse em uma voz baixa:

- Essa era a pergunta que eu queria fazer para você.

  Alysson encarou-o meio boquiaberta.

- Como... Assim? Acha que eu sou culpada? Que eu alterei o... Círculo Perfeito? Pelos Sete Infernos! – ela gritou – Porque eu faria isso? Condenar a mim e a toda a minha família?!

 Charles já estava se pondo em movimento; Alysson podia ver as costas dele se movimentarem elegantemente enquanto ele dava as costas pra ela e se afastava. Devagar, sem pressa. Como sempre.

- Eu não sei – a voz dele soou abafada para os ouvidos dela – Mas Diana te quer morta. Isso significa algo, não acha?

- Charles! – ela se pôs de pé mais rápida que um piscar de olhos; não podia deixá-lo ir agora.

- Até breve, Alysson Cherywood. Cuide-se. Proteja a sua família.

- CHARLES! – ela pensou em correr. Podia alcançá-lo em menos de um segundo, mas... Não se moveu. Atordoada. Era assim que se sentia. Franzindo a testa, Alysson encarou o céu cinza-chumbo. Algumas pinceladas amarelas e rosadas no céu. Hora de voltar para casa.


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Notas finais do capítulo

"- Mil anos, mil dias. ele ri Às vezes perdemos as contas, querida."
Charles seu liamdo :33