- Não Katie, não dá mais. São cinco meses! Você sabe o que significa cinco meses que a gente não se fala? – Dougie dizia calmamente ao celular no canto da lanchonete. – Se eu quisesse alguma coisa eu já teria te procurado. – Continuou começando a se exaltar.
- O que ele tem? – Perguntou Isabella chegando à lanchonete e sentando-se à mesa com os amigos.
- Katie. – Disseram em coro e Isabella arqueou a sobrancelha.
- Já estão no telefone faz mais de meia hora. Pelo que parece ela está pedindo pra voltar e ele não quer. – Comentou Tom.
- Porra garota chata! – Exclamou Dougie voltando à mesa.
- Não sei como você agüentou por tanto tempo. – Disse Harry.
- Nem eu sei. Até agora eu me pergunto o que eu vi naquela garota. Não sei como consegui ficar com ela por tanto tempo – Dougie falou passando a mão nos cabelos loiros.
- Ah dude, ela é gostosa, não podemos negar – Comentou Harry. Deborah rolou os olhos, mas ficou quieta.
- É, mas o que ela tem de gostosa, tem de chata e fútil. – Completou Danny e todos concordaram.
- Quem é vivo sempre aparece hein? – Todos olharam pra onde a voz vinha e viram Philip parado ao lado da mesa.
- Phil! – Isabella exclamou sorrindo – Demorei pra voltar né?
- Demorou, mas ta perdoada.
- Ah! Que bom, quase não dormia de tão preocupada – Falou em tom de deboche enquanto os outros fingiam que não estavam ouvindo a conversa.
- Imagino. O que vai querer hoje?
- O que vocês vão querer? – Perguntou olhando pros amigos.
- Eu quero um sundae de três bolas, calda de chocolate e tudo que tem direito. – Pediu Tom com um sorriso enorme no rosto, deixando sua covinha a mostra.
- Dois! – Exclamou Dougie.
- Então são três – Completou Danny
- Trás logo oito – Decidiu Harry, fazendo todo mundo cair na gargalhada.
- Cereja também? – Philip perguntou anotando os pedidos.
- Claro! – Exclamaram todos juntos
- É pra já. – Concordou Philip saindo de perto e entregando o pedido no balcão.

- Meu Deus. Não agüento comer mais nada. Parece que eu engoli um boi inteiro – Reclamou Tom, passando a mão na barriga enquanto se jogava nas almofadas espalhadas da casa de Dougie.
- Foi você que pediu Tom.
- E foi uma ótima escolha Sue. Não me arrependo.
- Mas você tem o olho maior que a barriga.
- O Danny tem razão. Você comeu o seu sorvete e metade do sorvete da Sue – Concordou Deborah.
- Ela que não agüentou comer tudo. Não tenho culpa.
- Mas eu não me agüento em pé – Isabella falou se jogando em uma poltrona.
- Nem eu – Dougie completou sentando em uma cadeira.
- Dougie, não tem nenhum chá por ai?
- Tem na cozinha Bella.
- Alguém quer?
- Eu quero – Pediu Deborah
- Eu também – Bárbara falou levantando a mão.
- Certo, vou fazer pra todo mundo, quem quiser pega – Falou indo em direção a cozinha. – Dougie! – Chamou depois de um tempo. – Onde ta o chá?
- No armário.
- Não to achando. Vem aqui. – Pediu parando na porta com a mão na cintura. Dougie rolou os olhos, mas levantou.
Os outros observaram calados e se entreolharam logo depois.
- Precisamos dar um jeito nesses dois. – Falou Harry.
- Concordo plenamente. Desde que o Dougie terminou com a barata rosa os dois se aproximaram demais e ficam no maior carinho, mas não passa disso. – Bárbara comentou fechando a cara.
- Muito doce pro meu gosto – Disse Tom.
- O Dougie também é muito mole, nunca vi uma coisa dessas.
- Ele é novo Debbie, é o caçula de nós quatro. Não tem experiência com relacionamento.
- Eu sei Danny, mas pra namorar a gostosa da Katie ele foi rapidinho, né?
Pra isso os garotos não tinham resposta. Ficaram todos calados e olharam a cozinha ao mesmo tempo.
- Vocês estão pensando o mesmo que eu? – Perguntou Deborah com um sorriso malicioso.
- Essa é a minha garota! – Exclamou Harry.
- Na cozinha Debbie? Não é muito apertada?
- Quer coisa melhor Sue? – Tom perguntou entrando no clima de Deborah.
- Mas tem que ser rápido, o chá não demora muito pra ficar pronto – Danny falou levantando de onde estava.
Todos levantaram em um pulo e andaram devagar até a cozinha, Dougie estava abrindo os armários e Isabella perto do fogão.

- Dougie, essa cozinha é muito pequena. Só tem um micro-corredor.
- Eu moro sozinho, quer que a casa seja gigante?
- Verdade. É que eu to acostumada com a minha.
Dougie não respondeu e continuou procurando o chá nos armários.
- Eu tenho certeza que tinha chá em algum lugar aqui.
- Deixa quieto Dougie.
- Não, agora eu fiquei com vontade, eu vou achar.
Isabella rolou os olhos, mas ficou quieta. Cruzou os braços no peito e encostou-se na pia de costas pra porta.

- Eu vou lá fechar a porta, vocês fiquem quietos porque qualquer barulho pode dar errado – Sussurrou Deborah.
Os seis se entreolharam e balançaram a cabeça. Deborah andou na ponta do pé e se aproveitou da situação, Isabella de costas e Dougie abaixado, pra tirar a chave da porta, fechá-la e trancá-la. Isabella e Dougie não perceberam e continuaram em silencio.
- Já volto. – Isabella falou depois de um tempo. Virou-se pra abrir a porta e não conseguiu. – Dougie, você trancou a porta?
- Não, por quê? – Perguntou sem tirar os olhos da estante.
- Então ela emperrou. Não ta querendo abrir.
- Como não? – Dougie falou indo em direção a porta e puxando a fechadura – Eu não tranquei a porta.
- É alguma brincadeira daqueles garotos, estão muito quietos.
- Harry, destranca essa porta! – Dougie gritou batendo na porta.
- Eu não to com a chave. – Gritou Harry de volta.
- A chave está comigo. – Deborah falou perto da porta.
- Debbie, para com a palhaçada. – Isabella pediu.
- Não é palhaçada nenhuma. A única palhaçada aqui é a de vocês dois que ficam nesse chove não molha.
- Debbie, esse não é o melhor jeito de se resolver alguma coisa.
- Poupe-me Dougie. Qual é o melhor jeito então?
- Você tirando a gente daqui e conversando.
- Conversar mais?
- Deborah, por favor. – Pediu Isabella.
- Isa, eu to querendo te ajudar.
- Desse jeito você não está ajudando ninguém. Só atrapalhando na verdade.
- Ai Isabella, você é muito mal agradecida. – Deborah reclamou, mas abriu a porta. Isabella saiu correndo da cozinha – Isa! – Gritou, mas a menina já tinha pegado sua bolsa e corrido pra porta.
- Deixa ela Debbie. – Bárbara falou quando viu a amiga correndo atrás de Isabella. – Eu conheço a Isa, se você for atrás vão acabar brigando.
- Eu só queria ajudar. – Ela sussurrou sentando ao lado do namorado, que passou o braço em sua cintura e pousou o queixo no ombro da menina.
- Ajudar em quê, Deborah? – Perguntou Dougie sentando no chão.
- Vocês dois Dougie. Vocês não se decidem.
- Acho que isso é somente e exclusivamente problema nosso, não?
- Claro. É que me deixa angustiada ver a minha amiga gostando de você há tanto tempo, e quando ela tem chance, não acontece nada.
- Tanto tempo? – Dougie perguntou arqueando a sobranchelha – Quanto tempo?
- Pô dude. Faz mais de dois anos que essa garota é louca por ti. Só você que não se toca – Danny falou jogando uma almofada na cabeça do amigo.
Dougie arregalou os olhos extremamente azuis e não soube o que falar. De repente deu um pulo e ficou de pé. Tateou os bolsos e correu pra cozinha.
- O que você está procurando? – Susan, que se manteve calada por todo o tempo, perguntou.
- A chave do carro. Vou atrás da Bella. – Dougie falou ainda procurando e Deborah abriu um sorriso enorme.
- Ta aqui. – Tom disse rodando a chave no dedo.
- Obrigado. – Dougie agradeceu e correu pra porta.
- Boa sorte! – Gritaram juntos e se afundaram no sofá, satisfeitos.

Isabella chegou a casa correndo e com lagrimas nos olhos. Seus pais não estavam e Marie devia ter ido ao mercado, pois a casa estava vazia. Bateu a porta, sem passar a chave e subiu as escadas até o seu quarto. Jogou-se na cama e afundou o rosto no travesseiro. Não entendia o motivo de estar tão nervosa, mas sabia que Deborah tinha arruinado tudo. Ela e Dougie estavam em um momento bom, próximo. E ela não se importava que não estivesse rolando nada entre os dois, o que importava é que os dois estavam mais juntos que nunca.
Não se virou quando ouviu alguém bater na porta de seu quarto nem quando ouviu Dougie falar:
- Você não deveria deixar a porta de casa aberta, sabia? Qualquer um pode entrar e se eu fosse um ladrão, a casa já estaria sem nada.
- Vai embora Dougie. – Balbuciou ainda com o rosto no travesseiro.
- Para de ser dramática Isabella. – Dougie disse sentando na beirada da cama. – Ainda estou tentando entender por que saiu de lá correndo.
Isabella não respondeu e Dougie deu um suspiro.
- Não tem motivo pra isso tudo. Olha pra mim. – Isabella virou o rosto, mas não se levantou, continuou deitada encarando a parede. - Eu pedi pra você olhar pra mim, não pra parede.
- Dougie, vai embora, por favor. – Pediu enquanto sentava na cama de pernas cruzadas e passava as costas da mão no rosto pra enxugar as lagrimas.
- Não quero ir embora, quero falar com você. – Falou sentando mais perto de Isabella.
- Falar o quê?
- Não fique chateada com a Debbie, ela só quis ajudar. – Isabella bufou e Dougie colocou o dedo indicador em seus lábios, pedindo silencio, antes que começasse a contestar. – Ela não queria que fosse assim, só queria adiantar o nosso lado.
- Adiantar o nosso lado? – Perguntou arqueando a sobrancelha.
- É. Ela disse que não agüenta ver a amiga dela angustiada por gostar de um idiota que não faz nada.
- Mas ela que ficasse quieta, ela não tem nada a ver com essa historia.
- Não? Pelo que eu sei, foi você que a juntou com o Harry.
- Mas o caso era diferente, os dois se gostavam e não faziam nada.
Dougie riu, pois de diferente não tinha nada.
- Ela quer que nós dois fiquemos juntos. – Explicou, e o coração de Isabella disparou.
- Isso é o que ela quer – Falou enfatizando o “ela”. – Não o que você quer.
Dougie arqueou a sobrancelha e Isabella suspirou.
- Quem disse? – Perguntou com um sorriso de canto, sem mostrar os dentes.
- Quem disse o quê?
- Que eu não quero? – Perguntou encarando-a nos olhos.
Isabella abriu e fechou a boca várias vezes, mas não encontrou resposta. Dougie sorriu com a confusão que via nos olhos da menina.
- Pensei que você me conhecesse melhor que qualquer pessoa. – Falou se aproximando de Isabella, que continuou calada. Dougie levantou a mão e colocou os cabelos da menina atrás da orelha, e depois passou os dedos levemente pela bochecha dela. Isabella fechou os olhos quando sentiu o toque e seu coração batia tão rápido que ela tinha certeza que ele pularia de sua boca a qualquer hora. Dougie também fechou os olhos quando se aproximou mais, colocou a mão na nuca de Isabella e a puxou pra mais perto, colando a sua boca na dela...

Isabella acordou sobressaltada, estava suando frio e suas mãos estavam geladas, o coração acelerado. O lençol amarrotado em cima da cama e o travesseiro no chão. Sentou-se na cama respirando fundo, cruzou as pernas como índio e fitou o quarto. O que tinha sido aquilo? Lembrava de cada momento, de cada rosto e do ultimo instante... Tinha sido um sonho, somente um sonho.
Olhou para o relógio – três horas da manhã – olhou para o seu quarto escuro mais um pouco e deitou, fechou os olhos tentando não esquecer de tudo o que tinha acontecido, o que tinha “vivido”, tentando não esquecer aquele rosto... Tinha sido tudo tão real, que não queria aceitar que havia sido somente um sonho.
Acabou adormecendo com um leve sorriso nos lábios, queria que ele continuasse de onde tinha parado, mas isso não aconteceu. Nem no dia seguinte, nem no outro, nunca mais. Tinha sido somente aquela noite. Mas as imagens do menino com cara de criança, cabelos loiros e franja nos olhos azuis ficaram pra sempre em sua memória. Não o conhecia, nunca tinha o visto, mas também nunca o esquecera.