- Annabeth!? - exclamou Percy ao contornar a parede que nos separava até dois segundos atrás e dar de cara comigo. Em seu rosto eu via espanto e muito constrangimento. Mas claro, ele não esperava que eu estivesse ali ouvindo sua conversa comprometedora.

- Percy - respondi - Estava te procurando - tentei soar num tom natural. Queria convencê-lo de que eu havia acabado de chegar ali - Está tão escuro aqui que acabei esbarrando em alguma coisa e fiz essa bagunça. Me desculpe.

- Tudo bem - disse ele inseguro. Será que havia engolido aquela minha desculpa? Não dava pra ter certeza - Essa é a Emily, minha colega de trabalho - apresentou ele indicando a garota bonita que estava conversando com ele. Ela também parecia bastante constrangida, o que só confirmava minhas suspeitas quanto ao “segredo” de Percy.

- Prazer - fracassei totalmente ao tentar parecer pelo menos educada. Ao contrário, meu tom soou extremamente irônico.

- O prazer é meu - respondeu Emily, de forma gentil, parecendo não se importar com a minha hostilidade - Percy havia me dito que você era bonita, mas eu não pensei que fosse tanto.

Estranhei o elogio. Em qualquer outro caso eu pensaria que ela estava sendo muito falsa. Mas por incrível que pareça, ela me soou bem sincera. E considerando que eu havia caprichado muito no visual naquela noite, provavelmente ela estava dizendo a verdade. Ainda assim, achei um exagero. Entretanto, fiz um esforço e agradeci.

- Obrigada - depois me voltei para Percy - Falta muito para o seu horário de saída?

- Não - pela forma que ele falava dava pra perceber que ainda não acreditava que eu tinha vindo até seu trabalho. Aquilo me deixava feliz, afinal meu plano incluía deixar Percy surpreso e não lhe dar muita chance para escolha. Ele entraria no jogo sem nem perceber - Só vou trocar de roupa lá dentro e já posso ir.

Pensei em pedir para que ele ficasse com o uniforme mesmo. Seria interessante para o que eu tinha em mente. Mas o fato de Emily estar ali não me permitiu sugerir tal coisa. Então o deixei ir enquanto nos duas ficamos a sós. Foi um dos momentos mais constrangedores da minha vida. Emily não parava de me olhar de cima a baixo, como se me analisasse. Qual era o problema daquela menina? Tinha me achado assim tão bonita mesmo? Ou estava medindo sua concorrência? Ao pensar naquilo voltei a ficar com raiva. Eu tinha quase certeza de que o tal “segredo” de Percy tinha a ver com ela. E por mais que eu me negasse a pensar na possibilidade, tinha uma suspeita de que os dois tinham um caso. Não, não podia ser! Percy jamais me trairia!

- Então, Percy me disse que você estuda Arquitetura - falou Emily quebrando o silêncio constrangedor que havia se instalado sobre nós - Bem legal.

- Ele disse é? - perguntei.

- Sim, ele fala muito de você - confirmou ela - Quase o tempo todo pra falar a verdade.

- É mesmo? - soei mais surpresa do que gostaria - Quer dizer, mas é claro. Eu já esperava isso - Não podia deixa-la pensar que havia algum problema no meu relacionamento.

- Percy também comentou que te chamaram para trabalhar como modelo, é verdade? - a curiosidade de Emily sobre mim era estranha e inoportuna. Aquilo estava começando a me incomodar.

- Sim é verdade.

- E você nem cogitou a possibilidade de aceitar a proposta?

- Não. Quer dizer, pensei sim por causa do dinheiro. Mas no final achei que não tinha nada a ver comigo... - não mencionei o fato de que Percy detestara a ideia, ela provavelmente já devia saber disso. Percy com certeza devia ter lhe contado a história completa.

- Eu acho que você daria uma ótima modelo - Zeus! Ou ela estava sendo realmente muito boa atriz e aquilo era tudo falsidade, ou ela era mais esquisita do que eu pensava!

- Obrigada - respondi com um sorriso amarelo no rosto. Não falei mais nada, apenas torci para que ela não me fizesse mais nenhuma pergunta até Percy voltar.

Por sorte o vi voltando assim que virei para olhar pro lado. Percy havia tirado o macacão do posto e agora vestia uma calça jeans clara e uma camiseta polo branca. Não sei como ele conseguia ficar tão incrivelmente lindo estando tão simples. Nos despedimos de Emily que deu um beijo no rosto de cada um antes de sairmos. Será que eu era muito fresca por achar aquilo estranho? Talvez, afinal cada pessoa tinha o seu jeito de ser, não cabia a mim julgar. Mas que eu fiquei enciumada por ela ter tanta liberdade com Percy, isso eu fiquei! Me senti aliviada por podermos nos afastar da garota e enfim ficarmos a sós. Certamente Percy ainda devia estar se perguntando o que eu fazia ali. Eu não ia entregar tudo de bandeja é claro, afinal queria surpreendê-lo da mesma forma que ele já fizera comigo tantas vezes.

- Ok, agora pode me explicar o que está fazendo aqui, e ainda vestindo essa roupa? - perguntou Percy segurando minha mão enquanto caminhávamos para fora do posto.

- Não, ainda não posso - respondi séria - E o que tem de mal na minha roupa?

- Absolutamente nada - Percy parecia emburrado - Esse é o problema. Ela cai perfeitamente no seu corpo. Aposto que eu não fui o único que reparou nisso - ponto pra mim! Percy estava com ciúmes. Era tudo o que eu precisava ouvir.

- Não vejo qual o problema disso - disse com sinceridade - Só o que podem fazer é olhar. Agora ir além disso, só uma pessoa pode... - deixei a frase no ar e pude perceber o vestígio de um sorriso no rosto de Percy. Mesmo que ele ainda estivesse chateado comigo, era bom saber que eu ainda conseguia provocar esse tipo de reação nele.

Continuamos andando de mãos dadas até alcançar o taxi que continuava me esperando alguns metros à frente. Percy parou antes que eu chegasse a porta e me puxou para que eu virasse de frente para ele. Fiquei sem entender.

- Sério Annie, me diga o que você está tramando - ele não parecia curioso para saber a resposta e sim preocupado - Onde está querendo me levar?

- Relaxa amor - falei de forma tranquila - Tenho tudo sob controle! Apenas confie em mim ok?! - coloquei a mão em seus ombros e depositei um leve beijo em seus lábios. Deuses, nem me lembrava da última vez que fizera isso. Como sentia falta dele!

- Não sei... - foi o que Percy respondeu depois que eu me afastei e voltei a olha-lo.

- Olha, eu sei que você está bravo comigo. Sei que eu errei feio. Mas eu só te peço uma chance de concertar as coisas, por favor? - olhei fundo nos olhos verdes dele e tentei manter a pose. Era difícil não me deixar hipnotizar por eles.

- Está bem - respondeu Percy sem muito entusiasmo.

Tentei não ligar muito para a falta de ânimo do meu namorado. Também não podia culpa-lo, eu havia lhe dado um baita susto aparecendo assim do nada em seu trabalho. E além de ele provavelmente estar cansado, ainda tinha todo aquela história mal resolvida do Nathan entre nós. Eu esperava sinceramente que meus planos pra aquela noite conseguissem quebrar o gelo entre nós. Não pretendia consertar meu erro em uma noite, nem discutir a relação ainda. Só o que eu queria era lembrar a Percy o quanto nós éramos bons juntos. O quanto ainda tínhamos em comum e o quanto o nosso amor era forte para se sobrepor a todas essas coisas pelas quais estávamos passando. O fiz entrar no taxi e cochichei o destino para apenas o motorista ouvir. Ele saiu dirigindo enquanto Percy estalava os dedos de apreensão.

Cerca de trinta minutos depois paramos em frente a uma dessas festas de bairro. Havíamos entrado bem fundo na periferia de Nova York. Ainda assim os arredores ainda eram bem urbanos. Mas aquele era um dos locais mais simples da cidade. Nessa quermesse haviam barracas de comidas, bebidas, brincadeiras e até uma área com um pequeno parque de diversão. Depois que descemos e pagamos a corrida ao taxista, Percy ficou parado na frente do lugar, observando embasbacado.

- Confesso que estava esperando algo mais romântico - comentou ele enfim.

- E quem disse que não será romântico? - rebati passando a mão em volta de sua cintura - Vamos, tem muita coisa pra gente ver e a noite está só começando...

O conduzi até a entrada. Insisti para pagar os ingressos, já que eu é que o estava convidando naquela noite. Eu pretendia bancar tudo, mesmo sabendo que isso não deixaria Percy mais feliz, pelo contrário. Mas ele tinha que se acostumar com a fato de que eu teria mais dinheiro do que ele dali para frente, pelo menos enquanto meu contrato de modelo durasse. Logo que entramos eu procurei uma barraca de pipoca. Fazia muito tempo que eu não comia aquelas pipocas doces. Pedi uma de cor rosa para mim e quando vi que eles também faziam de outra cores, tive que pedir uma azul para Percy. O brilho em seu olhar ao pegar o pacote confirmou que ele havia gostado. Mais um ponto pra mim!

Depois de muita insistência, consegui arrastar Percy para jogar em algumas barracas. Primeiro fomos numa onde tínhamos que atirar umas argolas em umas balizas. Aquilo foi moleza para nós, afinal estávamos acostumados a arremessar coisas em alvos de uma distância muito maior e em situações muito mais difíceis. Ser um semideus que já esteve em muitas batalhas com certeza nos deixou em vantagem. Tanto que todos em volta ficaram impressionados ao nos assistir jogar. Não demorou para se formar uma pequena multidão a nossa volta enquanto levávamos quase todos os prêmios que haviam disponíveis. O dono da barraca quase teve que implorar para que a gente parasse e deixasse outras pessoas brincarem.

O problema é que quando saímos de lá, muita gente nos acompanhou para a próxima barraca. Queriam continuar apreciando o show. Eu não ligava muito pra isso, mas Percy, é claro, estava com seu ego mais inflado do que nunca. Se exibir era com ele mesmo. Como minha intensão naquela noite era fazê-lo esquecer dos nossos problemas e lembrar só de coisas boas, resolvi entrar no clima e mostrar minhas habilidades também. Arrasamos no tiro de dardos e em tudo o que tinha a ver com pontaria. Mas teve um dos jogos onde eu me destaquei, era uma espécie de plataforma instável onde tínhamos que equilibrar uma bolinha e conduzi-la por um labirinto até chegar a um buraco no centro. Normalmente esse tipo de jogo não é muito fácil para semideuses, pois exige paciência a concentração. Mas no fundo era tudo uma questão de estratégia e cálculo. Logo, eu tirei de letra.

Passamos em mais algumas barracas, até que ficamos cansados de ganhar. Também não havia mais como carregar tantas prendas. Tivemos que coloca-las em uma chapelaria para conseguir continuar andando pela quermesse. A essa altura Percy já segurava em minha mão enquanto caminhávamos e seu astral estava muito mais leve e descontraído. Fomos passando pelas pessoas e fazendo comentários sobre a grande variedade de tipos e jeitos que havia naquele lugar. Demos boas risadas reparando em como um jovem casal lutava para não perder de vista seus cinco filhos pequenos. E eu quase engasguei com o refrigerante quando Percy me mostrou um homem forte e musculoso que parecia maravilhado com o seu balão em formato de flor. Isso para dizer o mínimo, afinal vimos coisas muito mais bizarras.

- Agora vamos para a parte do parque - puxei Percy pela mão e o arrastei em meio a multidão de pessoas - Quero andar pelo menos em um brinquedo.

- Tem certeza? - perguntou ele inseguro fazendo certa resistência ao me seguir.

- Vai me dizer que está com medo? - zombei dele.

- É claro que não - Percy respondeu emburrado, parecendo um garoto mimado. Bem do jeito que eu já estava acostumada. Para mim era maravilhoso ver ele agindo normalmente de novo. Sem toda aquela armadura que criara nas últimas semanas - Só acho que seremos os únicos “adultos” por lá...

Depois eu acabei descobrindo que Percy estava certo. A maioria das pessoas que iam aos brinquedos eram crianças e adolescentes. Mas também não éramos os únicos da nossa idade por ali. Vi pessoas mais velhas e até mesmo um casal de idosos quando pegamos a fila da roda gigante. Aquele com certeza era o brinquedo mais romântico que haviam inventado. A maior parte dos que queriam andar nela eram casais. E claro que eu estar ali com Percy era parte do meu plano para aquela noite. Subimos em uma das cabines que entrou em movimento assim que a porta se fechou. Confesso que quando chegamos lá no alto senti uma certa vertigem, mas nada muito forte. Consegui aproveitar para ficar mais perto de Percy e abraça-lo. Ganhei até um beijo, dessa vez um beijo de verdade, bem demorado.

Acabamos não indo em mais nada do parque, por que já estava ficando tarde e estávamos bem cansados. Percy disse para irmos para casa, mas o que ele não sabia era que meus planos ainda não haviam terminado. Novamente pedi para que ele confiasse em mim e me seguisse. Saímos da quermesse e começamos a contornar o quarteirão, em direção a uma rua com vários prédios. Fui andando bem devagar para aumentar o suspense. Confesso que também estava um pouco ansiosa e apreensiva. Também nunca havia estado em um lugar como aquele antes. Não sabia qual seria a reação de Percy ao ver para onde eu o estava levando. Mas torci para que a onda de sorte que vinha me acompanhando aquela noite continuasse e que ele não pensasse mal de mim.

- É logo ali - informei a Percy.

- O que é logo ali? - perguntou ele curioso.

- Você já vai descobrir - falei num tom divertido. Eu adorava ver a ansiedade crescendo dentro dele. Eu mesma já estava explodindo de expectativa.

- Annabeth? - disse Percy quando eu parei de andar e me virei na direção de um Motel. Mas não era um Motel qualquer, era um Motel de luxo, cinco estrelas -É aqui onde você queria me levar?

- Sim. Achei que poderíamos passar a noite aqui, para não precisar atravessar a cidade de novo ao voltar pra casa - na verdade o motivo não era esse, eu queria mesmo era tentar algo novo e atrevido. Queria impressionar Percy.

- Sei... - resmungou ele pouco convencido com a minha explicação - Não acha que é um exagero? Quer dizer, a diária desse lugar deve ser uma fortuna!

- Não se preocupe com isso - tentei desconversar imediatamente. Droga, eu sabia que esse assunto viria a tona cedo ou tarde. Mas não podia deixar que aquilo estragasse a noite - Você é meu convidado hoje esqueceu? Não tem que esquentar a cabeça com isso, apenas aproveitar!

Por um milagre, Percy não tentou argumentar. Apenas assentiu e me seguiu quando eu entrei na recepção do Motel. Por sorte já havia feito a reserva por telefone. Então quando cheguei no balcão de atendimento foi só dizer meu nome e pegar a chave do quarto. Eu tinha dinheiro agora, mas também não queria ficar esbanjando, por isso havia pegado um dos quartos intermediários. Não era nenhuma suíte presidencial, mas também não deixava a desejar em nada. Pelo contrário, deixaria muitos quartinhos de hotéis chiques por ai babando de inveja. Logo de cara ao entrar no quarto um cheiro agradável de algum desodorizador de ambiente chegou as minhas narinas. Havia uma imensa banheira de hidromassagem num canto, sem nenhum divisão para a área onde ficava a cama. O resto do banheiro deveria ficar atrás de uma pequena porta ao fundo.

Jogamos nossas mochilas num canto e fomos direto para o local que chamara mais nossa atenção: a banheira. Sem que nenhum dos dois dissesse nada eu liguei torneira de água quente e comecei a jogar alguns sais de banho e sabonetes líquidos para fazer espuma. Percy começou a tirar a roupa do meu lado e eu simplesmente não consegui ficar sem fazer nada. Segurei a barra de sua camiseta e a ergui passando por seus braços. Continuei ajudando-o a se despir, depois ele fez o mesmo comigo. Não chegamos sequer a nos tocar ainda. Apenas segurei a mão dele na hora de subir alguns degraus e entrar na banheira. Nos sentamos um em cada ponta e ficamos nos olhando fixamente.

Tantas coisas transmitidas apenas com uma troca de olhares. Tantas emoções, tantas dúvidas, medos, rancores, mágoa, tanta saudade! Mais acima de tudo, tanto amor. Eu via em seu olhar que não importava o que havia acontecido e o que ainda estava acontecendo entre a gente, ele ainda me amava. Podíamos estar passando por um momento ruim, mas aquilo não diminuía em nada o que sentíamos um pelo outro. Estiquei a perna dentro da banheira e meu pé tocou o dele. Foi o pontapé inicial para um desencadear de ações que acabaram fazendo com que terminássemos enroscados um no outro, envoltos em agua quente e espuma. Nos tocando e nos beijando sem parar nem para respirar. Senti-lo era só o que me importava.

- Ah Annie - sussurrou Percy quando enfim paramos para retomar um pouco o fôlego - Eu estava tão magoado com você, na verdade ainda estou...

- Shhhhh - tentei fazê-lo parar, não queria deixa-lo cortar o clima de forma alguma - Não pense nisso agora...

- Você não imagina como dói pensar que você poderia não precisar mais de mim - dava para sentir o peso da tristeza em sua voz - Que eu poderia te perder... Mas o pior de tudo foi ter sido enganado dessa maneira...

- Esqueça isso, Percy. Só por hoje, por favor? - supliquei ainda em seus braços - Eu sou apenas sua e sempre serei. Estou aqui totalmente entregue a você. Faça o que quiser de mim...

E com aquela última frase eu devo ter acabado com o último vestígio de sanidade que havia nele. Percy me tomou novamente voltando a beijar e me puxou para seu colo. Eu o envolvi com as pernas enquanto ele se recostava na banheira. Soube que ele estava usando seu poder de controlar a água quando percebi que já não era tão difícil manter meu corpo inclinado sobre o dele. Seus beijos eram quentes e urgentes, mas seus mãos deslizavam de forma lenta sobre mim. Eu estava pronta para me unir a ele, mas Percy se levantou de leve e me empurrou um pouco para poder ficar em cima de mim. Eu quase não precisei me mover, apenas segurei na borda da banheira e gritei de êxtase quando ele entrou em mim.

Quando terminamos a banheira já estava sem nenhuma espuma, e eu já estava sem nenhum juízo. Por incrível que pareça não havíamos derramado nenhuma gota de agua para fora. Essa era a vantagem de namorar um filho de Poseidon. Não satisfeito em me deixar naquele estado, Percy ainda me levou para cama e me amou de novo. Logo em seguida caímos no sono, completamente exaustos!