(Des)apego escrita por Nina


Capítulo 3
Capítulo 2 - Surto de Generosidade


Notas iniciais do capítulo

Obrigada aos que comentaram no capitulo anterior. Estou postando com uma frequência maior por ainda estar de férias. Minhas aulas começam dia 14, então provavelmente as postagens terão um espaço maior de tempo. Acredito que poderei postar apenas aos domingos, porque terei de estudar muito esse ano. Pré-vestibular não é fácil não!



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Parecía-me absurdamente irônico o fato daquela via ser considerada de trânsito rápido. A Highway 401 estava lotada no sentido em que estávamos, parecia que todos decidiram sair à mesma hora e ir para o mesmo lugar de uma só vez. Enquanto olhava pela janela do carro pude perceber que uns vinte ou trinta carros passavam no sentido contrário seguindo ao pé da letra o propósito da rodovia. Eu podia até mesmo vê-los rindo pela lentidão que éramos obrigados a aturar devido a densidade o tráfego.

Bufei para logo me afundar no banco que se encontrava bastante rebaixado. Matthew parecia tranquilo demais para alguém que deveria acrescentar mais umas duas horas na viagem que era para durar no máximo doze. Eu tinha a sensação que andávamos à vinte quilômetros por hora e aquilo estava me deixando bastante estressada. Matthew pareceu perceber meu desconforto, talvez pelas inúmeras bufadas ou pelos resmungos por aquela estúpida rodovia de trânsito rápido ser tudo menos rápida, e então ligou o som de seu carro. Devo dizer que seu ato não foi muito eficaz, pois apenas músicas irritantes passavam na estação nesse instante, mas ele parecia mais feliz agora, e foi então que eu percebi que sua atitude não tinha sido em prol do meu desestresse, e sim do dele. 

- Heather... Acorda ai, vai.

- Hm... - murmurei após sentir as mãos de Matthew me balançando devagar.

- Heather, não me faz te carregar. Sério. - ouvi sua voz aparentemente cansada dizer e fui obrigada a abrir os olhos.

- O que aconteceu agora? - ainda estava meio grogue.

- Vamos parar por hoje aqui em Montreal. Sabia que você é uma péssima acompanhante para viagens? Quando se viaja de carro com alguém o mínimo que se espera é que essa pessoa fique acordada com você. - era a primeira vez que eu o via reclamar de alguma coisa, e devo informar que aquela cena foi um tanto quando engraçada.

- Ah, me desculpe por ser tão imprestável. - disse enquanto revirava os olhos. - Não fui eu quem quis viajar de carro com você. - sai do carro enquanto batia a porta com força propositalmente. O ouvi bufar e ri internamente.

- Bem vindos ao  Le Petit Hotel. Em que posso ajudá-los? - a atendente disse com uma falsa satisfação notável. Seu sorriso era plastificado e chegava a assustar às vezes. Seu cabelo parecia ser o motivo de constantes dores de cabeça, pois estava tão repuxado que conseguia amenizar até mesmo as iniciais rugras de expressão daquela mulher.

- Boa noite. - Matthew começou e eu decidi desviar minha atenção sobre o empolgante diálogo que travariam dali em diante. Caminhei pelo hall de entrada a fim de analisar o espaço. Não era um hotel absurdamente luxuoso, até porque isso não era realmente necessário, passaríamos apenas uma noite ali. Sua decoração era bastante rústica e sua arquitetura parecia ter sido inspirada no período francês medieval, tendenciado ao gótico.

- Algum problema? - perguntei me aproximando assim que percebi a inquietação de Matthew.

- Nada que seja impossível de ser resolvido. - eu apenas dei de ombros enquanto o seguia pelo corredor em direção ao elevador. Não possuíam muitos andares, mas não seria algo muito confortável para quem fosse passar uma temporada ali carregar suas bagagens por inúmeros lances de escada. Matthew e eu não levávamos muitas coisas. Pegamos apenas algo para dormir e vestir no dia seguinte, juntamente com nossas malas de mão, deixando o resto da bagagem em segurança dentro do carro que havia sido colocado no estacionamento privativo do hotel.

Assim que as portas do elevador se abriram no quinto andar caminhei ao lado de Matthew sem prestar realmente atenção em qual caminho estávamos seguindo, tanto que quando o mesmo parou de andar eu acabei não percebendo e trombei em suas costas, mas logo me afastei, como se nada tivesse acontecido. Ele olhou para trás, mas ao perceber minhas falhas tentativas de desfarçar o que havia acontecido, apenas balançou a cabeça e passou um cartão magnético na porta do quarto, dando passagem para mim logo que a mesma fora destrancada.

- Cama de casal! - foi a única coisa que disse antes de largar minhas coisas no chão do quarto e pular na mesma que parecia bastante convidativa. - Hm... Isso é tão bom. - disse assim que afundei no colchão, ele parecia ser feito daqueles materiais que normalmente são utilizados em travesseiros da nasa, que no momento em que você se acomoda, ele se molda ao seu corpo.

Percebi que Matthew fechara a porta do quarto e agora vasculhava algumas portas de um pequeno guarda-roupas ao lado do que eu imaginei que fosse o banheiro. Arqueei as sobrancelhas enquanto visualizava a cena. Levantei um pouco meu corpo a fim de apoiá-lo em meus cotovelos.

- O que está fazendo? - perguntei e ele logo parou de mecher no guarda-roupas.

- Procurando roupa de cama extra. - disse simplesmente para logo voltar para sua busca.

- Mas isso não é necessário. Tem o suficiente aqui na cama, sem contar no aquecedor bem ali em frente.

- Não é pra você. - ele disse e eu fui obrigada a parar de pensar em como aquele colchão era maravilhoso.

- Como assim? - sentei-me do modo correto e passei a encará-lo.

- Não tem quartos individuais disponíveis, e eu não estava afim de pagar quinhentas libras só por uma noite por dois quartos, então peguei uma suite que tivesse um sofá no mínimo decente para que eu pudesse dormir. - ele deu de ombros e virou-se novamente para o guarda-roupas à sua frente.

Seu gesto havia me pegado de surpresa. Se fosse eu, provavelmete haveria estipulado meu dinheiro, a cama de casal é minha. Dessa forma, fui obrigada a ser uma pessoa nobre e caminhar em sua direção para ajudá-lo.

- Cara, os edredons estão quase te mordendo. - disse assim que me aproximei o suficiente e pude perceber que as roupas de cama estavam logo ao lado do local em que ele procurava. Peguei uns cinco e fui em direção do sofá, Matthew olhava a situação com interesse.

Encarei o sofá e logo depositei meus olhos no Knowels. Não precisava ser vidente para perceber que ele acordaria péssimamente caso dormisse ali, até o chão seria uma opção melhor e mais inteligente, e ele ainda deveria dirigir por consideráveis horas amanhã. Olhei na direção daquela cama gigante com um colchão maravilhoso e para aquele sofá que era um pouco menor que a minha singela cama de solteiro e suspirei alto. Eu ia realmente fazer aquilo?

- Pode dormir na cama, Matthew. Eu me viro com o sofá. - disse enquanto começava a colocar os vários edredons que havia pegado em cima do sofá a fim de deixá-lo fofinho o suficiente para ao menos dar a falsa impressão de que eu estava naquele colchão maravilhoso que se moldava ao meu corpo. Matthew parecia não ter entendido muito bem o que acabara de ouvir, pois permanecera imóvel, aparentemente, sem saber o que fazer, e essa era uma situação na qual nunca sequer conseguira imaginar.


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