Chess - Fic Interativa escrita por Vince, Richard Wingstone


Capítulo 3
III - A Guerra


Notas iniciais do capítulo

Olá! o/
Desculpem ainda não responder os reviews e nem responde-los agr, mas é porque estou meio sem tempo D:
Aliás, precisamos URGENTE de uma Rainha branca, ok/?
Boa leitura e desculpem a formatação!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/329636/chapter/3

— Isso é precipitado!  — Raduh exclamou, preocupado com a acusação de Lucian de que ele estaria envolvido na morte de Lady Lilith — Nada tenho a ver com isso! Juro pelo nosso pacto qu-

— Para o inferno com o pacto! — Lucian interrompeu o rei, batendo com o punho na mesa e se erguendo do trono de ébano, olhava Raduh com puro ódio — Lilith vivia perfeitamente bem! Mande-a para meu reino e meus sacerdotes examinarão o corpo dela. Sei que foi envenenada. E, a não ser que não a mande de volta, irei acreditar que os SEUS sacerdotes estão tentando remover qualquer traço de veneno do sangue dela.

— Meus sacerdotes não fariam isso! — Raduh exclamou. Como aquela reunião havia ficado daquele jeito? Lucian disparava acusações e respirava hipóteses de envenenamento, enquanto Raduh se defendia atrás de um escudo de álibis e indagações, disparando ataques de argumentos.

— Então forçarei minha entrada no seu reino e levarei o corpo de minha irmã de volta. — disse Lucian como se aquilo pusesse um ponto final naquela discussão.

— Isso é loucura! Faça isso e considerarei que está à procura de uma guerra! — Raduh retrucou, levantando-se também.

O que ele havia dito? Havia declarado guerra? Raduh repentinamente se sentiu preocupado. Que reino, em sã consciência, compraria briga com o Império de Ébane? Nem mesmo Augusta teria tanta coragem e, veja bem, augusta era bem maior e mais poderosa que Whitehawk. Raduh não sabia de onde estava tirando tanta bravura.

— Então é guerra que você terá! — Lucian disse, virando-se de costas e saindo daquela sala, deixando um Raduh em pé e perplexo parado em frente à mesa.

— Isso tudo por causa do corpo de sua irmã?! — Raduh perguntou caminhando atrás de Lucian e pondo a mão no ombro do imperador. — Não acha isso precipitado?

— Não acha precipitado...? — Lucian disse entredentes.

-‡--‡-

Alamorus Hyat, ou, como Lucian o chamava “Alam” ou como Lilith, que insistia em chama-lo de “Hayate” — apenas para provocá-lo —, olhava, pela pequena janela no corredor pelo qual Lucian viera, a paisagem que a pequena ilha da Pax fornecia. O sol se punha preguiçosamente, tingindo as águas do Mar da Pax de um laranja-avermelhado muito agradável e bonito. Aquilo o lembrou o guerreiro de quando ele era um marinheiro e sua casa era o navio no qual viajava. Alam suspirou saudosamente. Fechou os olhos e, como se fosse anos mais novo, sentiu o vento bagunçar seus cabelos negros como carvão e o fez lembrar-se de uma música — no mínimo obscena — que os marujos mais velhos cantavam. Aquilo era paz. Exceto pelos cochichos irritantes dos outros guardas no corredor com ele.

Tentava ignorar os comentários curiosos, dentre os quais o assunto principal parecia ser ou o próprio Alamorus ou o que o Imperador e o Rei discutiam tão avidamente. Quando o assunto era ele, Alam podia ouvir trechos um pouco mais fantasiosos do que a realidade. “Ouvi dizer que ele leu mais livros do que qualquer outro homem”, os guardas diziam. Ou então “Ele é dito como rival de Thor”. Alamorus bufou. Era verdade que ele sempre fora — desde que aprendera a ler — ávido pela leitura, mas dizer que ele leu mais livros do que qualquer outro já era um exagero. Sem contar a história de Thor. Há! Thor nem existia.

 E quando o assunto era a reunião do conselho — convocado às pressas — os guardas ficavam se perguntando se haveria — de fato — uma guerra ou mesmo o porquê dos soberanos exigirem que ninguém — senão os próprios senhores — ficassem presentes durante a reunião. Era óbvio que o assunto era tão importante que aqueles simples soldados rasos não poderiam saber de nada. Nem o próprio Hyat se achava tão digno de tal.

— É uma bela vista, não? — Birgit Ibsen apareceu no seu campo de visão, debruçando-se sobre o parapeito da janela assim como ele. Alamorus a encarou, olhando para a jovem mulher, seus olhos azuis esquadrinhando cada centímetro do corpo dela, como sua natureza “galanteadora” — para não dizer “mulherenga” — exigia.

Ele não tinha como negar: a general da cavalaria era muito bela. Não vestia a habitual armadura de obsidiana de ferro, mas sim um corpete vermelho-vinho, que se ajustava perfeitamente ao seu corpo forte de guerreira; de quem treinara uma boa parte da sua vida para ser uma guardiã. Porém, devido ao único pedido da Imperatriz, ela fora rebaixada, mesmo antes do casamento. “Longa história”, Lucian sempre lhe dizia, com um sorriso divertido e saudoso, “Mas você só é meu guardião por causa dela; saiba disso”. Essa era sempre a sua resposta.

Usava, além do corpete, calças justas de couro escuro e uma casaca feminina, ricamente ornamentada, com as dragonas com franjas indicando sua patente no exército. Ela sorriu de volta, passando a mão numa mecha dos longos cabelos castanhos, um tanto tímida, apesar de seus olhos grandes e observadores — pouco mais escuros que os cabelos — mostrarem que aquilo era apenas por pura convenção social.

— Como? — Alam soltou, arrependendo-se logo em seguida. Aquilo não era nada inteligente, sem contar que deixava óbvio que ele estava observando-a, sem prestar atenção ao que ela dizia.

— A vista. — Birgit repetiu, voltando-se para a janela — É bonita, não?

— Sim — assentiu com um leve sorriso — É uma bela vista.

Birgit analisou melhor o guardião de Lucian. Logo o homem que tomara a posição que ela deixara vaga. Ele não era nada mal. Tinha o rosto masculino e anguloso, emoldurado pelos cabelos escuríssimos e que atingia os ombros do guerreiro e olhos de um azul marinho muito bonito. Era alto e esbelto, com o porte físico de um guerreiro bem treinado, com músculos fortes e definido. Seus braços fortes estavam expostos — a túnica longa que usava não tinha mangas — e Birgit notou as longas e profundas cicatrizes neles. Aquilo a lembrou dela mesma e levou, inconscientemente, a mão ao ombro esquerdo com um leve suspiro. Alamorus interrompeu sua análise com uma frase.

— Imagino que isso possa lhe irritar, mas... Você não fica curiosa para saber o que... — começou Alam, mas o som alto de metal caindo no chão o interrompeu. Os soldados correram para as portas de pseudo-marfim e as abriram para uma cena de luta.

Raduh desferia socos contra Lucian, que defendia a maioria, mas que atacava o rei branco com chutes, retribuindo na mesma violência. Uma cadeira estava derrubada no chão e a capa de Lucian estava rasgada em vários pontos. Raduh, por sua vez, perdera a coroa no meio da briga e a mesma repousava tombada no meio do piso quadriculado de mármore e granito preto. Alamorus e Birgit correram para seu soberano assim como os guardiões de Raduh, e tentaram quase que em vão, separar a briga.

Birgit desferiu um chute na virilha de Lucian, o que o fez desacelerar, o que permitiu que a guardiã de Whitehawk — uma garota baixa e (Alam não podia negar sua natureza) cheia de curvas sensuais — puxasse o seu rei para longe do imperador. Alam ajudou Lucian a ficar inteiramente de pé e o Imperador, com um filete de sangue escorrendo da boca gritou para o Rei branco.

— ISSO É GUERRA! SE PREPARE! — e, livrando-se da ajuda de Birgit e Alam, rumou para o corredor de onde viera; a postura altiva e o olhar furioso. Nem parecia que tinha levado um soco de um homem cerca de vinte centímetros mais baixo que ele.

-‡--‡-

— Você o que?! — exclamou uma Wendy um tanto assustada. — Guerra?

— É isso mesmo. — Raduh disse, sentando-se com as pernas cruzadas no chão da sala. Ainda não havia ido embora, como Lucian havia feito, mas sim decidido se estabilizar e passar a noite por ali mesmo, acompanhado apenas pelas duas acompanhantes que levara — já que sua rainha viajara para Izis — Wendy e Maéva. Sua guardiã e a sumo-sacerdotisa de Freya. Nesse exato momento, Raduh se erguia, apoiando-se na guardiã e sentando-se novamente no trono de pseudo-marfim.

Enquanto isso, Maéva vasculhou a pequena bolsa que levava, à procura de algo. Maéva e Wendy formavam uma dupla interessante. Eram amigas e muito parecidas, apesar de totalmente opostas.

Raduh gostava de observar as coisas e, para tentar desviar a preocupação de uma guerra vindoura, passou a observar a dupla curiosa que o acompanhava. Ambas eram esbeltas, mas ainda assim, baixas. Tinham a tez clara, como grande parte da população de Whitehawk. Mas, tirando isso, ambas eram completamente diferentes.

Maéva Nollan era magra. Uma verdadeira “tábua”, segundo o próprio Raduh, mas ainda assim, elegante. Sempre de cabeça erguida e com uma postura interessante. Seu rosto tem um formato delicado, meio oval com o queixo saliente fazendo parecer um coração. O nariz pequeno e com a ponta levemente arrebitada. Tinha um rosto que mostrava o que sentia com facilidade, além dos — como os clérigos de Freya chamavam —“olhos de compaixão”, que pareciam querer curar qualquer dor que qualquer um pudesse sentir. Seus cabelos eram como uma seda clara: sedosos e macios, além de bem cuidados, e que oscilavam entre o ondulado e o liso, o que resultava em uma grande parte lisa, mas que formava cachos longos no final.

Já Wendy Fellevack tinha um corpo mais delicado e curvilíneo do que o da sacerdotisa. Seu rosto não era dono de uma beleza marcante, mas era bonita. Parecia estar sempre séria — o que Raduh imaginava ser por causa das preocupações familiares — e seu rosto fino não ajudava a mudar sua expressão. Exceto pelo quase sempre presente sorriso discreto nos cantos dos lábios finos e levemente rosados. Seus olhos tinham uma tonalidade esverdeada, que contrastavam com os olhos praticamente violetas de Maéva. De modo geral, ela tinha um rosto frágil, mas de expressão forte, o que a caracterizava como uma guerreira, e, emoldurando seu rosto, grossos e sedosos cabelos castanhos claros, que caiam até a metade das costas em ondas perfeitas.

— O que está procurando? — Raduh perguntou por fim, com um leve sorriso.

— Acho que terei de fazer eu mesma — Maéva sussurrou para si própria — Estava procurando pó de suth. Sabe? O curativo? Mas não encontrei.

— Entendo — Raduh respondeu um tanto desinteressado. — Mas pra que?

— Então você não notou? — Wendy interveio — Você está com um belo corte no queixo.

Raduh levantou-se do trono e foi em direção à parede de espelhos, oposta à janela. Aquela briga não o deixara em um bom estado. Seu cabelo loiro claro, cortado simetricamente, estava uma verdadeira bagunça. Estava sem a coroa de prata que seu pai usava quase sempre e a gola da casaca branca estava rasgada no ponto onde Lucian a usara para tirar o rei do chão. Um de seus olhos castanho-claros estava começando a ficar emoldurado por um contorno roxo. Porém outra cor chamava atenção no seu reflexo: vermelho. Raduh encostou de leve na fenda que a manopla de Lucian abrira em seu queixo. Sangue escorria pelo seu pescoço e manchava a gola da camisa de vermelho, assim como dava um estranho tom arroxeado à gola de sua capa azul.

Maéva parou ao lado do soberano e, pondo as mãos no rosto dele, sussurrou um encantamento de cura. “Heial”. Poucos segundos depois da palavra ser dita e dos olhos de Maéva brilharem suavemente em um tom azulado, o corte no queixo de Raduh se fechou sem nenhuma dor e seu olho esquerdo já voltava ao tom pálido natural de sua pele.

Aquilo o fez pensar. Interessante... Se estivesse certo, aquilo daria uma boa vantagem na guerra vindoura. Ele teria de pesquisar nos livros... Ah, esse interlúdio seria muito interessante.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!