Acordei na manhã da Colheita. Teria que enfrentar mais um sorteio que poderia me mandar aos campos da morte. Aos Jogos Vorazes. Levantei e me vesti com roupas de trabalho, afinal a Colheita seria só mais tarde. Fui para fora e encontrei meu irmão Finnick Odair na varanda.

– E aí pequena? Preparada? - perguntou ele.

– Sinceramente? Não...

– Ah, Beatrice, você é uma carreirista, mesmo que seja escolhida, você se dará bem.

– Você diz isso porque já foi um vitorioso, Finnick.

– Quando eu tinha a sua idade - completou. - E eu vou ser seu patrocinador e mentor se você for escolhida. Espero que você não tenha que passar por tudo que passei.

– Finnick, entenda, eu já passei por tudo que você passou, ou quase tudo. Nossos pais foram mortos, você foi o único que me restou...Você e a Annie.

–Bea, eu sei disso, mas você vai sobreviver nos Jogos se for escolhida. Eu confio em você, confie você também em si mesma.

– Vou tentar Finn. Agora tenho que ir trabalhar.

Sim, meu irmão era um vitorioso e eu trabalhava nas atividades do distrito, não que eu fosse obrigada, mas isso me proporcionava mais chances se fosse para os Jogos, sem contar que eu adorava ficar em contato com o mar, isso fazia com que eu me sentisse mais calma.

– Bea, está tudo bem? - perguntou minha companheira de trabalho, Kalista, depois de algumas horas - Você está suando frio...

– Hã, está tudo bem sim... Daqui a pouco é a Colheita, acho que vou para casa me preparar.

–Ok, que a sorte... -disse ela, imitando o sotaque da Capital.

–Esteja sempre ao seu favor - Completei, no mesmo tom.

–Acho que eu também vou.- disse ela.

Voltei pra casa e fui para o banheiro. Mergulhei na banheira de um jeito que dava vontade de nunca mais sair de lá. Me enrolei na toalha e voltei para o meu quarto. Peguei o vestido que Annie tinha deixado em cima da minha cama e o vesti. Calcei minhas sandálias e prendi o cabelo em uma trança embutida. Meus olhos verdes brilhavam no espelho, assim como a minha pele bronzeada em contraste com o vestido rosa claro.

–Você está linda, Beatrice. - disse Annie, a noiva de Finnick.

– Obrigada - agradeci.

–Vamos?

–Sim, onde está o Finn?

–Ele já está no parque, chamaram o mentor mais cedo. Eu deveria ter ido mais cedo também, mas fiquei para te levar até lá.

Fomos andando até o parque, em frente ao Edifício da Justiça. Finnick já estava no palco, esperando pelos mais novos tributos. Não gosto da época dos Jogos por esse outro motivo: Finnick ficar longe de casa, assim como Annie de vez em quando.

Me juntei ao pessoal da minha idade e a representante da Capital no Distrito 4, Annalice Fleur, começou a mexer nas bolas onde meu nome estava inscrito 6 vezes. Eu não havia pegado nenhuma téssera, mas ainda assim o fato me preocupava...

–Primeiro as damas - anunciou Annalice, como em todos os anos. Ela remexeu os papeizinhos de nomes e tirou um. "Que não seja eu", pensei. Tarde demais. - Beatrice Odair - disse ela, em alto e bom som.

Andei até o palco pensando nas coisas que Finn tinha me dito hoje cedo. "Você vai se sair bem", falei para mim mesma.

Quando subi no palco, Finn apertou minha mão, me transmitindo confiança.

– Agora vamos para nosso tributo masculino - disse Annalice - Caleb Daniels.

Ótimo, pensei. Terei de enfrentar meu melhor amigo. Era tudo que eu precisava....

Caleb subiu ao palco e veio para o meu lado. Apenas um ano mais velho que eu, também um carreirista. Era como um irmão para mim na falta de Finnick. Não suportaria entrar em uma arena e saber que uma hora ou outra vou ter que enfrentá-lo. Nunca tinha pensado nessa possibilidade.

Os pacificadores nos levaram para dentro do Edifício da Justiça, como se pudéssemos fugir se eles nos soltassem. Eu fiquei em uma sala com sofás azuis de veludo e uma escrivaninha. Lágrimas de raiva, medo e tristeza invadiram meu rosto. Uns minutos depois ouvi uma batida na porta. Finn e Annie.

– Bea, nós temos pouco tempo agora porque outros querem te ver, mas como somos seus mentores, vamos nos ver muito em breve, no trem.

– Sim, isso mesmo. Não entre em pânico, você não vai morrer. - disse Finn.

– Como pode ter tanta certeza assim?

– Confie em mim. Agora temos que ir. - ele me deu um beijo na testa e saiu.

Assim que eles desapareceram atrás da porta, Kalista entrou.

– Bea, não se preocupe, você vai se sair tão bem quanto seu irmão. Eu já te vi treinando. É uma carreirista e tanto. Seus oponentes não sabem o que terão de enfrentar.

– E nem eu sei...

– De qualquer modo, você tem o Caleb.

–E isso me preocupa, não quero ter de matá-lo.

–Talvez não tenha. - ela piscou. - Leve um símbolo de nosso distrito. - falou, pegando uma correntinha prateada com uma concha presa e um pequeno tridente azul. - você saberá como usar.

– Obrigada Kali. Se cuida - falei, abraçando -a.

–Você também. - falou, retribuindo o abraço. - Agora tenho que ir. Estarei te assistindo.

–Obrigada.

Então a mãe de Caleb entrou, com o rosto inchado de chorar.

–Olá, minha querida.

–Olá dona Kay.

–Quero lhe desejar boa sorte nos Jogos. E lhe pedir que cuide do meu filho. Eu sei que dois tributos não podem vencer, mas...

–Tudo bem, não é egoismo da sua parte querer que seu filho fique vivo. Toda mãe quer isso.

Ela me lançou um sorriso triste.

–Então se cuida. - falou, me abraçando.

– Vou fazer o possível. - falei

Um pacificador disse para ela sair e que já estava na hora de partir em direção à capital.

Abracei Kalista pela última vez e vi Caleb abraçando seus pais. Ele chorava como eu nunca tinha visto.

– O trem já está saindo, Bea. - avisou Finnick.

Eu e Caleb entramos com Finnick e Annie atrás de nós. Annalice já estava lá dentro, com sua peruca verde e maquiagem chamativa.

– Acho que seria bom para vocês assistirem o vídeo dos outros tributos - disse ela.

–Acho que sim... - falei, então ela nos levou a um compartimento com uma televisão. Me sentei ao lado de Finnick no canto direito do sofá.

Enquanto os tributos iam passando na televisão, não pude deixar de reparar em alguns. Um garoto enorme do distrito 2,uma menina de uns 16 anos que usava óculos do distrito 3, Uma loira de olhos azuis do distrito 5, um garoto de uns 12 anos do distrito 6, entre outros, mas a que mais me chamou a atenção, foi uma menina da minha idade do distrito 11, muito parecida comigo. Muitos pareciam nem estar preparados para os Jogos, exceto os carreiristas do 1 e do 2. Os outros pareciam tão frágeis quanto uma bolacha-da-praia, mas se tem uma coisa que aprendi em todos esses anos no distrito 4, é que não devemos nos deixar enganar pelas aparências.

Fui para a minha cabine e troquei de roupa. Coloquei uma calça e uma camiseta comuns e fui para a sala de jantar. Caleb estava tomando uma xicara de algo quente e comia biscoitos. Devia estar fascinado pelos doces, coisas raras no nosso Distrito.

–Hey, Bea, experimenta. - disse ele, jogando um biscoito para mim.

Agarrei o biscoito no ar e experimentei. Realmente muito bom. Deixei o chocolate derreter na minha boca.

Depois de um jantar reforçado com frango e vegetais, fui para a minha cabine, coloquei um pijama e me deitei.

Não tive nenhum pesadelo relevante, apenas a visão de alguns bestantes com a voz dos meus pais me mandando tomar cuidado.

Acordei e Annalice disse para mim tomar café da manhã. Tomei chocolate quente, comi biscoitos e waffles e fui para a sala, onde Finnick e Caleb assisiam televisão.

–Oi, alguma novidade?

–Temos que bolar estratégias para vocês nos jogos, Beatrice. Os dois têm de evitar ao máximo perder suas vidas. - disse Finnick.

– Onde está Annie? - perguntei

– No quarto, ela não está muito bem, disse que está enjoada...

– Ah... O que será que ela tem?

– Não faço ideia, Bea...

–Caleb? O que houve?

–Nós já estamos chegando a Capital... Eu estou nervoso Bea...

– Não é o único...

Ficamos o resto da viagem bolando estratégias de luta. Depois de um tempo percebi que tínhamos chegado. A multidão se aproximava para nos ver e logo nos encontramos com nossas equipes de preparação. Eles me levaram para uma sala separada de Caleb e começaram o trabalho. Me depilaram(o que eu achei uma coisa inútil, pois meus pelos eram quase invisíveis), fizeram um penteado elaborado no meu cabelo, uma linda maquiagem que lembrava as ondas do mar, e unhas no mesmo estilo da maquiagem.

Unhas: http://i2.wp.com/clubedasunhas.com/wp-content/uploads/2013/01/unhas-decoradas-bluejac.jpg?fit=600%2C600

Cabelo: http://3.bp.blogspot.com/-P0QiQHSudr4/TqieilWEMZI/AAAAAAAAFtw/mLIb9kFvPvM/s1600/foto-penteado-de-noiva-estilo-grego-10.jpg

Maquiagem: http://www.temasbuscados.com/wp-content/uploads/2012/02/maquiagem-grega.jpg [Troquem a cor]

– Você é linda, não precisa de muita coisa... - disse Dwight, um rapaz de pele azul clara e cabelo verde ( mais heim?).

–Tem uma beleza extraordinária MESMO - falou Marybell, uma jovem de cerca de 25 anos, com a pele rosa claro e cabelo rosa fluorescente (será possivel que não exista ninguém na capital que tenha uma aparência normal?)

–Seu estilista, Warrior já está vindo, temos que ir agora. - disse Milany, uma garota que usava batom preto e cablo vermelho sangue, com a pele branco feito neve.

Eles desapareceram por trás da porta. Logo ouvi uma batida na porta, então entrou um homem de cerca de 30 anos normal. Ele tinha cabelo preto desgrenhado e profundos olhos verdes, sua pele era bronzeada e ele não exibia nenhum sinal de maquiagem.

– Uma pessoa normal!!! Finalmente!!! - exclamei, feito uma retardada.

Ele riu.

– Muita gente daqui prefere parecer um bando de babuínos e seguir a tal moda do que ter uma aparência normal. - disse ele

– Concordo - falei.

– Venha, vamos comer alguma coisa e conversar. - falou, apontando uma mesa de dois lugares. Ele pegou um controle e apertou um botão. Então apareceu na mesa uma ave quedevia ser um peru coberto com molho de maracujá. Para eles na Capital era fácil ter esse tipo de coisa, nós dos distritos fazíamos tudo, eles apenas pegavam quando estava tudo pronto.

– O que nós vamos vestir? - perguntei.

–Eu e minha parceira, Sophie, pensamos em fazer um visual baseado na mitologia grega.

–Mitologia grega? O que é isso?

– A mitologia grega é um conjunto de mitos e lendas que existiam na Grécia, uma civilização que existiu há milênios.Eles cultuavam seus próprios deuses e tinham um deus e uma deusa do mar, eu acho que esse visual cairia bem em vocês.

–Hã... Ok... - falei.

Terminamos de comer e ele me levou a um closet. Ali se encontrava um magnifíco vestido branco com detalhes em pérolas. Warrior colocou o vestido em mim, revelando um caimento perfeito. A cada movimento ele mudava de cor e ficava parecido com as ondas do mar. Achei impressionante a ideia.

Modelo do vestido: http://imagem.vilamulher.terra.com.br/interacao/4558688/as-deusas-gregas-e-suas-inspiracoes-na-arte-e-na-moda-923-12.jpg [N/A ignorem a cor]

Colar: http://2.bp.blogspot.com/_lPQbw0zDDNY/THUqTtKQ6bI/AAAAAAAAC7o/eIcBjhYUBGg/s1600/agosto2+006.jpg

Calcei um sapato enfeitado com conchas e Warrior colocou em meu pescoço o colar que eu havia ganhado, por algum motivo ele ficou azul ao toque dele, mas isso devia ser algum tipo de efeito especial.

–Espero que não se importe, encontrei junto com as suas coisas. - disse ele.

–Porque me importaria?

– Não sei, talvez fosse pessoal...

– Mas não me importo - falei.

– Venha, vamos nos encontrar com Caleb e Sophie. - disse Warrior.

Ele saiu por um corredor e entrou em uma sala onde estavam Caleb e uma moça de cerca de 25 anos loira com cabelos cacheados brilhantes e olhos cinzentos como uma tempestade. Ela usava uma maquiagem leve prateada e sua pele não apresentava nenhuma imperfeição. Ela usava um vestido cinzento com um cinto preto na cintura. Nada muito extravagante. Caleb vestia uma túnica também, como era de se esperar, mas que chegava até o joelho e tinha o mesmo efeito do meu. O tecido gelado era muito confortável para alguém que vivia no mar, como eu.

Vestido da Sophie: http://asset4.zankyou.com/images/magazine-post-main/9a7/bad0/425//-/br/wp-content/uploads/2012/06/Pronovias-precole%C3%A7ao-de-festa-2013-calesa-foto-pronovias.jpg

Aparência do Caleb: https://encrypted-tbn1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcT3oGEdJ_otGsrvWomy-r9gfveug1M3kAnggjWDO8KOcjSSxudB

–Todos prontos? - perguntou Finnick, entrando na sala.- Já está na hora.

–Claro, vamos. - falei sorrindo. Aquela seria minha deixa.

Continua...