Illusion escrita por Harmonie


Capítulo 5
Isso talvez seja o que faltava para resolver o caso.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/329522/chapter/5

– Existem duas possibilidades: ela pode estar morta ou viva. Evidentemente. - Daniel andava de um lado para o outro em sua sala de estar, absorto em seus pensamentos. - Se ela está morta, alguém teve um trabalho enorme para tirá-la do campus sem que fosse notado. Por que alguém faria isso? Por que não fugir simplesmente?

– Talvez estando morta ela valesse alguma coisa para alguém. - Natalie comentou, sentada no sofá.

– O que eu não acho muito provável a não ser que estejamos atrás de algum tipo de contrabandista de órgãos ou um praticante excêntrico de necrofilia. - ele a olhou apenas para confirmar, através de sua expressão facial, que ela estava de acordo. - Então ela deve estar viva e, neste caso, por que forjar a própria morte? Ou por que alguém faria isso? Talvez o cara do hospital tenha feito alguma coisa, mas por quê? Nada disso faz sentido! - Daniel se sentou ao lado de Natalie e suspirou, esfregando os olhos por baixo da lente dos óculos.

– Ficaria mais fácil se pelo menos soubéssemos quem ela é... Seu passado poderia nos fornecer pistas.

– A única coisa parecida que temos é aquela fotografia. Ela parece estar mais nova nela... - ele pausou, reconstruindo a imagem em sua mente. - Mas o homem que poderia nos ajudar se recusou a cooperar. Aliás, nem demonstrou estar preocupado. De nenhuma maneira.

– Talvez ele tenha alguma coisa a ver com isso. - ela estava distraída e falava como se não estivesse totalmente interessada. Parecia querer que aquela conversa terminasse logo.

– Ele nem se intimidou com a ideia de ser preso... Não vejo muita coisa que eu possa fazer.

– Existe uma grande diferença entre o que pode fazer e o que vai fazer... Você não podia invadir a cena do crime e mesmo assim o fez.

– Então você acha que eu devo invadir algum lugar ou desrespeitar a lei? De novo? - ele a olhou, sorrindo.

– Não... - sorriu um pequeno e discreto sorriso. - Na verdade, acho que você podia deixar tudo isso de lado. Se houver algo a ser descoberto, Kate descobrirá.

– Não vamos ter essa conversa. - ele a olhou, sério. - Você sabe que não vai dar em nada.

Ela sabia. Sabia que Daniel nunca desistia de um enigma e, mesmo sabendo que ele não a ouviria, optava por demonstrar sua preocupação. - Só acho melhor chegar ao fim dessa história o quanto antes. E mesmo que eu não concorde, sabemos que você fará o que for preciso para que isso aconteça. Espero que, ao menos, tudo se resolva antes que você se prejudique de alguma forma. - ela o olhou carinhosamente, apesar de querer repreendê-lo por ser tão teimoso.

Antes que Daniel pudesse dizer qualquer coisa, o som da campainha soou, parecendo mais alto do que nunca tamanho era o silêncio em que a casa se encontrava. - Espero que não seja a notícia de mais uma morte. Acho que já é o suficiente para um fim de semana. E ele ainda nem acabou.

Sabendo que Daniel trataria o som da campainha como uma alucinação indesejável e não faria qualquer esforço para chegar até a porta antes que quem quer que estivesse lá fora fosse embora, Lewicki deixou seu quarto no andar de cima, desceu os degraus sem pressa e, parado por alguns segundos no último, olhou para a sala à direita, confirmando que o professor nem se quer havia se movido. Após abrir a porta, uma brisa fria o atingiu e a luz amarelada dos postes na rua não revelou nada além de um jardim vazio. Deu um passo à frente com a intenção de olhar ao redor à procura de alguém que se afastava dali, mas, ao fazê-lo, não viu nada: não havia carros ou pessoas transitando na rua. Apesar de intrigado, recuou com a intenção de fechar a porta e voltar a seus afazeres, porém, um pouco antes de fechá-la totalmente, viu um envelope branco pousado a apenas poucos centímetros de onde ele estava no qual se podia ler Dr. Pierce escrito em letras pretas e grandes o suficiente para serem notadas rapidamente. Pegou o envelope e, com seu semblante expressando confusão, fechou a porta atrás de si.

– Quem era? - Daniel perguntou ao ouvir que seu assistente estava de volta, curioso por não ter ouvido vozes.

– Ninguém que quisesse ser visto. Deixaram alguma coisa para você.

Lewicki se aproximou do sofá e Daniel olhou para trás no momento em que o envelope lhe era entregue. Ele observava o envelope de aparência comum enquanto ponderava e, silenciosamente, desejava que o que quer que estivesse ali dentro lhe fornecesse diretrizes ou pelo menos alguma pista da próxima ação a ser realizada.

Com cuidado, o professor abriu o envelope e retirou de seu interior alguns recortes de jornal e uma folha de papel dobrada. Curioso, desdobrou primeiro os recortes que, concluiu, foram retirados de exemplares publicados sete anos antes no jornal inglês, The Guardian. As reportagens, todas retiradas de primeiras páginas, contavam a história do assassinato de uma família ocorrido em Londres. De acordo com elas, a investigação durou cerca de três meses e foi abandonada por falta de qualquer evidência que levasse à resolução do crime. Três membros da família Jones - os pais e o filho de vinte anos - haviam sido mortos a tiros em sua residência. Não havia testemunhas, a arma do crime nunca foi encontrada e a filha mais nova do casal, na época com dezoito anos e provável vítima de um rapto, nunca mais foi vista. O crime foi considerado uma tentativa de roubo mal sucedida e o responsável - ou responsáveis - nunca foi pego.

Depois de examinar os recortes, Daniel desdobrou a folha de papel. Imediatamente imaginou que a caligrafia parecia ser feminina - as letras eram bem desenhadas e redondas - e as poucas palavras escritas o deixaram esperançoso quanto à resolução do caso. Dobrou a folha novamente, juntou-a aos recortes de jornal, recolocou-os todos no envelope e ficou parado por alguns segundos, esperando que todas as informações fizessem sentido em sua cabeça.

– O que é isso? - Lewicki, que havia permanecido ali observando Daniel, perguntou.

– Isso talvez seja o que faltava para resolver o caso. - respondeu sem o olhar, como se falasse consigo mesmo.

– O da garota desaparecida? Então você sabe o que aconteceu?

– Preciso falar com Kate. - Daniel, excitado com a possibilidade de sucesso, ignorou as perguntas e se levantou. Vestiu o suéter que havia deixado sobre o sofá mais cedo ao voltar do hospital, pegou o envelope e foi até a porta, deixando Lewicki que, acostumado com o comportamento do professor, apenas suspirou e subiu as escadas de volta ao seu quarto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Illusion" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.