Illusion escrita por Harmonie


Capítulo 11
Lidavam com uma psicopata.




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– Eu estava morando na Alemanha havia dois anos. Tinha um novo nome, uma nova história, enfim, uma nova vida. Tive que deixar tudo na América depois de ingressar em uma gangue responsável por uma gama de crimes relacionados a tráfico de pessoas, armas e drogas. As coisas eram complicadas, os crimes abrangiam diversos territórios do mundo, então, para manter minha segurança e a investigação pudesse ter sucesso, eles deram um jeito de sumir com todas as informações sobre quem eu era. Por isso foi tão difícil descobrir qualquer coisa. – ele endireitou sua postura tentando encontrar uma posição em que não sentisse as pontadas de dor que, naquele momento, atravessavam a chaga coberta pelo curativo e continuou. - Há nove anos, passávamos a maior parte do tempo na Alemanha. Os negócios estavam dando mais lucros por lá e eu já tinha a confiança do grupo para fazer alguns trabalhos e lidar com alguns clientes. Eu lidava com os pais de Georgia. Soube que, por muitos anos, estavam envolvidos com esse tipo de coisa, mas naquela época, haviam deixado de ser simples traficantes de bairro para lidar com coisas maiores. E eu fui designado para mediar os negócios entre eles e a gangue: traficavam principalmente drogas e armas e eu era o encarregado de fornecer a mercadoria e coletara parte do dinheiro que cabia a nós. As coisas pareciam estar correndo bem – nas devidas proporções – até que, um dia, saíram do controle. Eu já conhecia a garota, sabia que sua vida não era das mais fáceis: com pais como aqueles, ela provavelmente não era a adolescente mais feliz do mundo. Mas, de qualquer maneira, sempre procurei me ater ao trabalho. E foi assim que as coisas aconteceram, até o dia em que ela me procurou para pedir ajuda. Ela disse que não podia mais suportar a vida que levava, que sofria abusos físicos de vários tipos e que queria minha ajuda para fugir. Eu não pretendia me envolver e foi o que eu disse, recusei ajudá-la, afinal, isso podia comprometer muitas coisas. Então ela deu um jeito. – ele pausou, revendo as imagens do passado em sua mente. - Como eu podia imaginar que ela era louca?

Kate o olhava, atenta e curiosa. Tinha esperanças de que tudo começasse a fazer sentido em breve e que o confuso mistério se explicasse antes de o fim de semana terminar.

– Antes de tudo, ela tentou mais uma vez. Sugeriu que eu a comprasse de seus pais para que ela pudesse ir embora e, assim, segundo ela, todos ficariam felizes: ela teria onde ficar – se referia a mim -, eu não ficaria sozinho, e seus pais ficariam satisfeitos com o dinheiro. Dá pra imaginar? Mas, por mais que, na época, eu quisesse 'salvá-la', eu não podia fazer o que ela me propôs: seria ir contra meus princípios, contra a investigação e conta o que a gangue esperava de mim. Mas ela não se contentou com minha ideia de conversar com alguma autoridade ou esperar que tivesse idade suficiente para ir embora e dar um rumo a sua vida. Ela simplesmente não deu nenhuma atenção e agiu por conta própria. Até hoje eu não entendo bem como as coisas aconteceram. Talvez eu não seja um detetive tão bom quanto eu imaginava. - sorriu, desanimado. - O fato é que, por algumas semanas, ela fingiu que estava tudo bem e as coisas continuaram exatamente iguais: ela agia como se não tivesse me contado nada e eu continuei a fazer o meu trabalho, me encontrava com seus pais ocasionalmente para tratar de negócios e até cheguei a vê-la em um dos dias em que isso aconteceu, mas não percebi nada de anormal. Talvez nem houvesse como perceber... Ela arquitetava tudo em sua mente e, hoje, eu penso que talvez não houvesse nada que eu pudesse fazer para mudar o que aconteceu. Era uma sexta-feira de julho quando ela começou a colocar tudo em prática. Ela me mandou uma correspondência, dizia que tinha provas sobre meu envolvimento com a gangue, até me mandou algumas cópias de documentos e fotografias, de modo que eu não podia deixar de acreditar. Meus 'colegas' provavelmente saberiam se proteger e com certeza não se importavam com meu bem-estar – eu poderia ser substituído bem facilmente –, mas o fato é que eu não poderia pôr tudo a perder. Então fui até sua casa, já era um dia próximo ao dia do pagamento, então eu podia usar os negócios como desculpa para a visita inesperada. Foi o que fiz. Toquei a campainha diversas vezes e nada. Eu devo ter ficado uns bons quinze minutos esperando que alguém aparecesse até perceber que a porta estava destrancada. Entrei, fui cuidadoso para não deixar digitais ou qualquer indício de minha presença, e ainda bem que o fiz. No sofá da sala, os corpos sem vida de seus pais já começavam a cheirar mal e havia sangue para todo lado. Georgia não estava lá. Saí imediatamente, agi como se nada tivesse acontecido, esperando pelo que viria depois. Mais tarde, um de meus superiores já sabia do ocorrido e me ligou para informar, mas havia outra coisa também: ele queria que eu fosse atrás da garota que, aparentemente, havia fugido com o dinheiro, parte das drogas e das armas. Saí a sua procura, mas não a encontrei em lugar algum. Ela ficou desaparecida até que, mais ou menos um mês depois, alguém viu uma garota com sua descrição na Suécia. Fui para lá, a encontrei, ela me despistou e, no dia seguinte, uma garota com sua descrição foi encontrada morta nos arredores de onde eu a havia visto. Entretanto, a garota morta se chamava Emma Lund.

– Então ela matou os pais e matou essa garota? - Kate disse, incapaz de se manter em silêncio. Não imaginara uma história assim. Lidavam com uma psicopata.

– Sim. Ela encontrou uma garota parecida com ela, a matou para me despistar e, novamente, foi embora. Sumiu por dois anos e, só depois disso, a encontrei na Inglaterra. Acho que você já sabe um pouco a respeito dessa parte da história... Ela morava em Londres com uma família, eu a encontrei, ela os matou. Mas, dessa vez, as coisas foram diferentes... Ela veio falar comigo. Eu não sabia o que ela pretendia, mas o que eu podia fazer se não cooperar? Eu realmente esperava poder resolver as coisas, a gente sempre pensa que pode. Ouvi o que ela tinha a dizer e ela propôs que pudesse fazer parte dos negócios em troca de silêncio, disse que já havia vendido tudo o que roubara e que trabalharia comigo para cobrir os prejuízos. É claro que não acreditei nela, mas eu podia ganhar tempo para pegar o que quer que ela tivesse contra mim e depois fazer o que fosse preciso para consertar as coisas. Aceitei sua proposta. Trabalhamos por um tempo na Europa e, anos depois, fiz com que ela viesse para cá. Consegui–lhe uma nova identidade e uma vaga na universidade onde ela devia vender drogas para adolescentes, o que, infelizmente, dá lucro. As coisas funcionaram, mas eu nunca consegui as provas. Ela é muito inteligente para se deixar enganar. Mas, então, ela resolveu, novamente, agir por conta própria. E você já sabe o que aconteceu...

Kate permaneceu em silêncio por alguns segundos, absorvendo todas as informações que acabara de receber. Tinha consciência de que tudo o que ouvira parecia ter saído de um filme de mistério e, por isso, resistia a acreditar em tudo tão rapidamente. - Então, de acordo com o que você disse, está há sete anos tentando conseguir as provas? Não é muito tempo?

– É sim. Mas eu não posso pôr tudo a perder por causa dela. É claro que ela pode ser uma ameaça, foi o que me disseram assim que informei que trabalharíamos juntos, mas, como eu disse, consegui a confiança deles e eles confiaram em mim. Muitas pessoas foram presas nesse meio tempo graças ao meu trabalho e nunca suspeitaram de mim, se o que ela sabe vier a público, as coisas irão de mal a pior em instantes.

Ela ponderou. Parecia fazer sentido. - E o que ela quer agora?

– Não sei. Mas tenho certeza de que não é algo bom.

Permaneceram em silêncio, ambos procurando, em suas mentes, por soluções para seus problemas tão semelhantes, até que foram interrompidos pelo noticiário na TV posicionada à esquerda do recinto. Na tela, a foto de Rosie e, abaixo, os dizeres: você a viu?


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