"As alegrias passageiras encobrem os males eternos que elas próprias causam."

Os olhos dela sorriam ao vê-lo à sua frente. O sorriso era maior do que o rosto, não que ela se importasse. Ele sorriu, fitando a mulher. O estômago dela se embrulhou, ansiosa por tocá-lo, senti-lo, saber que estava bem, porém, ele não se moveu.

Hesitante, ele deu um passo a frente. Kate ajeitou-se na cama, deixando um espaço livre para ele se sentar ali. O escritor entendeu como um incentivo, um consenso, então, aproximou-se dela, abraçando-a com toda a força do seu ser.

Ela sentiu os canais lacrimais produzirem uma enorme quantidade de líquido, e não conseguiu contê-las. Logo, os soluços também vieram.

– I'm so glad you're fine. – ele sussurrou, segurando-a pelas costas, cheirando seus cabelos.

Ela deu-lhe uma confirmação quase muda. Um grunhido foi a resposta. Ouviram a porta bater, e se separaram de imediato. Não era bem a pessoa que esperavam ver; não que estivessem esperando alguém.

– Vocês estão juntos. - afirmou.

Ele se levantou, tentando explicar, mas o outro foi mais rápido, dirigindo-se à ela, que se encolheu nas cobertas:

– Por que você não me contou? Eu teria lhes dado cobertura. - suas palavras eram cheias de ódio, aflição.

Ela tentou se pôr de pé, mas precisava de apoio. Castle deu um dos braços - o que não estava imobilizado - para ela, que aceitou-o de prontidão. Sentiu o ar ventilar suas pernas, o que a fez envergonhar-se um pouco, porém, a explicação era mais necessitada do que a vergonha de alguém vendo suas pernas.

– Espo, eu sei que você teria, mas... Nós não tínhamos certeza, e... Da primeira vez, eu... Ah, eu não sei como explicar, mas, sim, acho que, agora nós estamos juntos. - ela gaguejou.

Castle fitou o latino, sentindo a dor de ter traído um colega. Ajudou a detetive a se sentar e dirigiu-se ao homem:

– Nós teríamos lhe contado, mas ela não podia sair do loft, e não havia motivo algum para lhe chamarmos lá, entende? Hoje, nós iríamos te contar, mas a bomba estourou antes que pudéssemos fazê-lo. - ele explicou - Por favor, não tome raiva de nós por isso. Precisamos de você.

Esposito sentiu os olhos marejarem, e fitou a colega, que estava mais próxima de ser chamada de irmã, que também tinha os olhos lacrimejando. Aproximando-se dela, abraçou-a fortemente. Kate segurou nos ombros dele, pondo seu rosto no pequeno espaço entre o pescoço e o ombro do homem. Murmurando palavras como: "I'm so sorry" e "I would've told you", ela sentiu que o peso estranho que havia sentido havia desaparecido. O peso da culpa havia desaparecido.

– Bem. - o latino começou - Vou deixar-vos à sós, para que conversem sobre o que farão sobre o relacionamento, ok?

Katherine balbuciou algum tipo de concordância, enquanto Castle se aproximava dela, sentando-se na beirada da cama dela, de frente para o outro tira.

– Mas, assim que souberem, liguem-me, ou peçam para me ver, certo? - ele continuou. Katherine assentiu, fungando. - Vejo vocês depois, guys.

°°

Assim que a porta bateu, Castle fitou a mulher à sua frente. Apesar de algumas contusões nos braços e alguns arranhões no rosto, ela continuava perfeitamente linda, assim como ele havia visto.

Seus olhos lacrimejaram pela vista completamente frágil que havia tido dela há pouquíssimo tempo atrás, uma menininha que havia crescido rápido demais, uma mulher com um passado doloroso. Mas ela não era só isso, ele sabia que não.

Quando ela apareceu em sua casa, no meio do dia, dizendo-lhe que iria lhe proteger do maníaco que havia começado a lhe ameaçar com cartas, ele soube que ela era um mistério que ele nunca iria desvendar, mas, ao mesmo tempo, um mistério que ele nunca iria querer desvendar ao todo.

O sorriso dela o tirou dos devaneios.

– O que é? - ela indagou, e, só aí, foi quando ele percebeu que estava olhando-a por tempo demais.

– Hm? Nada, eu... Nada, não. - ele respondeu, sem palavras para lhe dizer.

Ela sorriu, encostando-se no peito dele, fechando os olhos em seguida. O cansaço tomou conta de seu corpo, o que fez com que ela apoiasse o peso completamente nele. O sorriso que se formou no rosto dele, depois disso, não tinha explicação.

A porta do quarto abriu novamente, revelando duas mulheres. As duas ruivas.

E nenhuma das duas deveria estar ali, no momento.